As comunidades rurais do noroeste da Guatemala, as mais pobres e vulneráveis do país e também as mais afetadas pelo terremoto da quarta-feira, lutam nesta sexta-feira por voltar à normalidade com a ajuda de milhares de socorristas e soldados, e a solidariedade de outros países.
A primeira carga de ajuda humanitária para os afetados foi despachada pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid) para as comunidades rurais de São Marcos e Quetzaltenango.
Esses dois departamentos e os de Quiché, Sololá, Huehuetenango, Totonicapán e Retalhuleu, onde se concentra a maior quantidade de população indígena e a pobreza e marginalidade do país, foram declarados na quinta-feira em "estado de calamidade" pelo presidente Otto Pérez Molina devido aos danos causados pelo tremor.
Até o momento, a Coordenadoria Nacional para a Redução de Desastres (Conred) contabiliza um total de 52 mortos, pelo menos 200 feridos e 22 desaparecidos, mas os números definitivos podem variar à medida que os trabalhos de resgate e retirada de escombros avancem.
Alejandro Maldonado, diretor da Conred, disse em entrevista coletiva que "é provável que o número de mortos caia" conforme os relatórios oficiais vão se consolidando.
O Governo assegura que tem recursos para enfrentar a emergência causada pelo terremoto, mas também reconhece que a fase de reconstrução "não será fácil".
Países como Estados Unidos, Canadá, Taiwan, Venezuela, Espanha, Colômbia, México e Costa Rica, segundo Pérez Molina, ofereceram sua colaboração e ajuda.
A declaração de estado de calamidade, que durará 30 dias e que proíbe as concentrações, espetáculos, porte de armas de fogo e limita a locomoção, permitirá atender com mais rapidez os afetados pelo tremor, segundo as autoridades.
Segundo a Pesquisa de Condições de Vida de 2011 elaborada pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), nos sete departamentos em estado de calamidade os níveis de pobreza vão desde 53,73% (Quetzaltenango) até 77,47% (Sololá).
O departamento de San Marcos, o mais atingido pelo terremoto, segundo os números oficiais, tem um índice de pobreza de 68,54%, enquanto em Totonicapán é de 73,29%, em Quiché de 71,85%, Huehuetenango 60,50% e Retalhuleu, a zona do epicentro do terremoto, de 59,24%.
Em fevereiro passado, o presidente Pérez Molina iniciou em San Juan Atitán (Huehuetenango), com uma prevalência de 91,4% de desnutrição crônica, seu programa "fome zero" que beneficia 166 dos 334 municípios da Guatemala.
O tremor da quarta-feira, o mais forte desde o terremoto do dia 4 de fevereiro de 1976 que deixou 25 mortos, foi sentido em 21 dos departamentos do país, todos menos Petén, no norte e na fronteira com México e Belize.
As humildes casas, construídas de barro e folhas de zinco nas regiões mais afetadas, foram derrubadas pelo violento tremor que também deixou 200 feridos, 5.251 pessoas que perderam tudo, mais de 1,2 milhão de afetados e 6,7 milhões de habitantes em risco por causa das réplicas, segundo o presidente.
Centenas de socorristas e soldados colaboram com os habitantes das comunidades afetadas em limpar os destroços e planejar a reconstrução.
Aos bombeiros, soldados e membros da Cruz Vermelha guatemalteca se uniu um grupo de sete integrantes da Brigada de Resgate Topos de México, que chegaram ao país nas últimas horas.
As autoridades ainda não quantificaram os danos materiais nem o que custará a reconstrução, mas já se determinou que ficaram destruídas 554 casas e outras 1.529 sofreram imperfeições, e há relatos de deslizamentos e fendas nas estradas.
O epicentro do tremor, que também foi sentido com força em El Salvador e México, foi situado a 200 quilômetros ao sudoeste da capital guatemalteca, frente às praias de Champerico.
Desde o momento do terremoto foram registradas 72 réplicas de magnitudes entre 3,5 e 4,9 na escala aberta de Richter, as quais causaram pânico entre a população por temor de um novo desastre.
Hoje mesmo um tremor de magnitude 4,5 na escala aberta de Richter sacudiu o departamento de San Marcos, o mais afetado pelo terremoto da quarta-feira passada, sem que tenham sido reportados danos nem vítimas.
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