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Cidades/Geral
Segunda - 13 de Dezembro de 2004 às 11:08
Por: Carlos Martins

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Quatro anos e meio depois de ter atropelado e morto o estudante Thiago Joseh Tavares Gonçalves, em Chapada dos Guimarães, o motorista Fernando Fabiani, 25 anos, vai sentar-se no banco dos réus para ser julgado pelo crime de homicídio por dolo eventual. Quando o julgamento estiver começando às 8h da próxima quarta-feira, 15, no Fórum de Chapada, pelo que se apurou, será a terceira vez no país e a primeira na história de Mato Grosso que uma pessoa responsável pela morte de alguém no trânsito estará sendo submetida a um júri popular.

“Ninguém irá trazer meu filho de volta. Mas se ele for condenado, a sociedade ganha. Se for absolvido, quem perde é a vida, pois outras crianças continuarão morrendo no trânsito. Será a garantia da impunidade, pois qualquer um poderá usar um carro como arma para matar um inimigo”, diz o pai de Thiago, o médico José Pedro Rodrigues Gonçalves, 59 anos.

O acidente aconteceu no dia 22 de julho de 2000. À época com 12 anos, Thiago foi até a casa de um amigo na rua Fernando Corrêa. Ao colocar a roda da bicicleta na rua, ele foi atingido por um carro. O atropelamento não teve testemunhas. Um vizinho que estava regando o jardim contou que ouviu um barulho e observou que alguma coisa a frente voava. Era o corpo de Thiago que foi arremessado a 16 metros de distância. No local, a polícia encontrou pedaços e a moldura de um farol. Após uma investigação na área, foi localizado um Taurus (Ford) debaixo de uma lona e os restos encontrados se encaixavam com a parte danificada do veículo. O dono do carro deixou o automóvel na casa da namorada e só se apresentou à polícia seis dias depois. Ele alegou que não viu o menino.

Segundo Gonçalves, várias falhas, como a ausência de perícias, aconteceram ao longo do inquérito e do processo. A seu pedido, três doutores do Departamento de Física da UFMT fizeram estudos baseados no peso de Thiago, no peso do veículo e na distância que o corpo foi arremessado. O laudo, anexado ao processo, concluiu que o Taurus estava a uma velocidade de 120 km por hora. Na rua do acidente, várias placas indicavam a velocidade máxima de 30 km por hora.

Professor na Unic das disciplinas de Sociologia Médica e Saúde Coletiva, Gonçalves vendeu a casa em Chapada, onde passava os finais de semana, e começou uma luta que ainda não terminou. Nesse período, superou obstáculos como a demora no andamento do inquérito, a dificuldade em juntar documentos ao processo e ainda os vários recursos tentados pela defesa tanto no Tribunal de Justiça, que confirmou a decisão do juiz de Chapada (que aceitou a denúncia), como no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que manteve o parecer do TJ.

Pai de cinco filhos, três do primeiro casamento e dois do segundo, Thiago e Eduardo, o médico buscou e encontrou apoio na família e amigos. A mulher, Celina Maria Araújo Tavares, 49 anos, aposentou-se como professora de enfermagem na UFMT e junto com o filho Eduardo foi há três anos para Florianópolis (SC). Além do doutorado que ela está fazendo em Enfermagem, a realização de um antigo sonho, Celina foi em busca de novas forças para reagir à tragédia. Na madrugada deste domingo, os dois chegaram a Cuiabá para visitar o pai e acompanhar o julgamento.




Fonte: Diário de Cuiabá

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