Para os advogados de acusação, a informação reforça a tese de crime premeditado. Segundo o Ministério Público, Marcos Kitano Matsunaga foi morto a tiros no apartamento do casal. O corpo foi esquartejado, jogado em um matagal e encontrado dias depois. Elize confessou o crime, mas nega tê-lo premeditado: ela afirma que agiu por impulso ao descobrir que foi traída. Ela está presa no presídio de Tremembé, no interior de São Paulo.
O advogado da família Matsunaga, Luiz Flávio Borges D’Urso, disse que a babá contou à polícia que viajou com Elize e a filha do casal para o Paraná. Na volta, quando passavam por Cascavel, ela contou que Elize parou em uma loja de ferragens e comprou uma pequena serra elétrica. A acusada tirou a serra da embalagem, segundo o relato, e guardou na mala. Quando chegaram a São Paulo, a babá retirou o equipamento da mala e deixou sobre a cama do casal.
“Tudo leva a crer mais uma vez que não houve intensa emoção alguma. O que existiu, tudo indica, foi um crime premeditado”, disse D"Urso. Segundo a babá, o casal já tinha uma pequena serra elétrica em casa, mas essa segunda desapareceu após a morte do executivo.
O advogado de Elize, Luciano Santoro, diz que o casal tinha uma máquina com uma serra circular no apartamento, usada para abrir caixas de vinho. Ele afirma que a perícia avaliou o equipamento e não achou vestígios de sangue. O defensor estranhou o fato de o novo depoimento ter sido dado meses após o crime. “Acho suspeito esse depoimento porque a babá agora trabalha na casa dos pais do Marcos”, disse.
Segundo D"Urso, a empregada prestou novo depoimento somente agora porque se sentiu mais segura. A mulher continuou trabalhando no apartamento em que a morte ocorreu, cuidando da filha do casal e acompanhada por uma tia de Elize. Agora que a guarda da filha está com os avós paternos as menina, a babá sentiu-se mais confortável para contar o fato à polícia, segundo o advogado.
Nova investigação
Os cortes feitos durante o esquartejamento do corpo e o material biológico coletado no apartamento onde ocorreu o crime levaram a Promotoria a pedir à Polícia Civil a abertura de novo inquérito sobre o caso. O promotor do caso, José Carlos Cosenzo, entrou com o pedido no início de outubro por considerar que uma pessoa, além da viúva, participou do desmembramento da vítima. “Os cortes feitos no abdômen foram feitos por quem tem pleno conhecimento de anatomia”, disse Cosenzo. “Já os cortes superiores são diferentes.”
Isso evidenciaria que Elize mentiu ao afirmar que agiu sozinha na tentativa de ocultar o cadáver, segundo Cosenzo. O promotor afirmou que desconfiava desde o início dessa possibilidade ao levar em conta o tamanho franzino da acusada e a força necessária para o esquartejamento.
O advogado de Elize, Luciano Santoro, disse, na ocasião, considerar “excelente” o pedido de novo inquérito. “Mostra a tentativa desesperada do promotor de manter em pé a tese de premeditação.” Segundo o defensor, apenas com a terceira pessoa no apartamento o representante do Ministério Público consegue provar que a acusada pretendia matar o marido.
Faca
Na opinião do promotor, o equipamento que a ré afirma ter usado também não condiz com os cortes feitos no abdômen. “Ela diz que usou uma faca de cerâmica de 30 centímetros, mas o corte inferior aparentemente foi feito por material mais preciso, como um bisturi.”
O advogado de Elize contesta essa conclusão. “Quando ela segmentou o corpo, ele não estava totalmente desnudo.” Segundo Santoro, sua cliente tirou a calça da vítima para fazer as secções inferiores. Para cortar os membros superiores, porém, não conseguiu retirar a sua camiseta, o que teria causado as diferenças gritantes entre os cortes.
DNA
A tese do promotor ganhou força com a conclusão de perícias feitas após o crime. Especialistas do Instituto Médico-Legal (IML), da Polícia Técnico-Científica, informaram que foi encontrado material genético masculino no imóvel dos Matsunaga diferente do de Elize e de Marcos.
O exame de DNA chegou ao conhecimento do Ministério Público no mês passado. No documento, a perita Roberta Casemiro da Rocha Hirschfeld escreve que em um dos cotonetes com as amostras coletas no apartamento há “um perfil genético compatível com uma mistura de material genético de no mínimo dois indivíduos, sendo ao menos um deles do sexo masculino”.
A perita completa que “nestes perfis, não foi observado relação de verossimilhança dos alelos neles presentes e os alelos presentes no perfil genético obtido do sangue da vítima Marcos Kitano Matsunaga, estando este excluído como possível gerador destas amostras.”
Apesar de a perícia ter respondido à Promotoria que é impossível precisar a data na qual o material foi deixado na residência, ela também relatou que não se pode excluir da cena do crime nenhuma pessoa que passou pelo local antes, durante e depois do assassinato.
O promotor diz não ter dúvidas de que Elize matou sozinha Marcos. O novo inquérito quer justamente verificar se alguém ajudou a cortar o corpo e a escondê-lo. Para isso, o promotor pediu 40 novas diligências técnicas, periciais e testemunhais.
Cosenzo acrescentou que o material coletado no apartamento é suficiente para confrontar com o DNA de suspeitos.
Apuração
As babás e o marido de uma dessas funcionárias teriam sido as últimas pessoas a estarem na residência dos Matsunaga, na Zona Oeste, antes do assassinato. Em seus depoimentos ao DHPP, na condição de averiguados, os três negaram qualquer envolvimento na morte do patrão.
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