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Nacional
Sexta - 26 de Novembro de 2004 às 05:57

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Mais de oito mil militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) cercaram na quinta-feira a sede do Banco Central e prometeram ampliar sua atuação em 2005 se não receberem mais verbas para acelerar a reforma agrária no Brasil. O coordenador nacional do grupo, João Pedro Stédile, disse que os sem-terra vão fazer a reforma agrária por conta própria no ano que vem se o governo Lula não destinar mais dinheiro para a expropriação e redistribuição de latifúndios improdutivos, como exige a Constituição.

O MST realizou em abril a sua maior onda de ocupações de terras em cinco anos, e Stédile disse que no ano que vem as ações serão ainda mais frequentes. "Em abril e maio pode haver muita luta neste País", disse Stédile durante a passeata de dois quilômetros no Plano Piloto de Brasília.

A manifestação do MST acontece em um momento de agravamento da tensão no campo. No sábado, homens mascarados mataram cinco militantes do MST em Minas Gerais.

Stédile disse que a reforma agrária está sendo preterida por pessoas da "direita" do governo Lula, como o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Ele afirmou que esse grupo age a favor de grandes produtores agropecuários, que com suas exportações impulsionam o crescimento do país, que atinge os maiores índices em dez anos.

Os membros do MST queimaram uma bandeira norte-americana em que havia a sigla FMI e gritaram palavras de ordem pedindo a demissão de Palocci, que cortou gastos públicos para cumprir as metas de superávit acertadas com o FMI. Das janelas do BC, funcionários lançaram uma chuva de papel picado nos manifestantes que usavam chinelos e chapéus de palha. Os organizadores disseram que essa foi a maior manifestação pela reforma agrária na história de Brasília, envolvendo dezenas de grupos.

Duzentas pessoas foram à sede do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e aos gritos de "Lula, vamos parar o Brasil" quebraram janelas e portas. Os manifestantes ocuparam parte do prédio por cerca de duas horas até serem retirados pela polícia.

Lula prometeu assentar 400 mil famílias - cerca de 1,6 milhão de pessoas - durante o seu mandato. Passados quase dois anos, porém, ele entregou lotes para apenas 106 mil famílias. Após uma trégua de sete meses nas ocupações, o MST está voltando a agir para pressionar o governo. O grupo ocupou na quinta-feira uma fazenda da Bahia que pertence ao homem acusado de mandar matar os cinco militantes em Minas.

Alguns ministros também não escondem sua insatisfação com a violência no campo e com a lentidão da reforma agrária. Na terça-feira, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, pediu aos agricultores que se unam para exigir mais verbas públicas para comprarem terras e construírem assentamentos. Ele irritou fazendeiros e seus representantes políticos quando disse que "o agronegócio" estava por trás dos assassinatos. Surgiram rumores de que Lula pode demitir Hackbart, mas que só fará isso depois que o MST deixar Brasília.

Alguns observadores dizem que é cada vez mais frágil a histórica aliança entre o PT e o MST. "Eles estão se distanciando", disse dom Tomás Balduíno, da Comissão Pastoral da Terra da Igreja Católica, depois de ultrapassar a barreira policial em torno do BC para entregar uma lista de exigências ao presidente do órgão, Henrique Meirelles.




Fonte: Reuters

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