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Internacional
Quarta - 10 de Novembro de 2004 às 09:09

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Com a piora do estado de saúde de Yasser Arafat, aumentam as dúvidas sobre o que vai acontecer com milhões de dólares que estariam em contas controladas pelo líder palestino, no caso de sua morte.

Segundo estudiosos, durante os anos em que Arafat atuou como líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), grandes quantias doadas à entidade ou arrecadadas por meio de negócios ou impostos foram depositadas diretamente em contas em nome de Arafat.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) diz que mais de US$ 1 bilhão em ajuda externa por ano é destinado à Autoridade Palestina desde 2000. Em 2003, a revista Forbes divulgou a estimativa de que Arafat representa um capital de US$ 300 milhões.

A fronteira entre a riqueza pessoal de Arafat e as verbas da Autoridade Palestina são confusas, dando vazão a muitas especulações. E a única pessoa que poderia esclarecer essa divisão está em coma em um hospital de Paris. Suha

"Muito poucas pessoas sabem os fatos reais", disse Gershon Baskin, diretor do Centro Israelo-Palestino de Pesquisa e Informação. Ele acredita que a delegação palestina que chegou a Paris na segunda-feira para visitar Arafat tinha como um de seus objetivos tentar descobrir mais sobre a questão do dinheiro.

A mulher de Arafat, Suha, disse que ela não queria que o grupo de autoridades palestinas, incluindo o primeiro-ministro, Ahmed Qorei, e o ex-premiê Mahmoud Abbas, visitasse o presidente da Autoridade Palestina no hospital parisiense.

Há boatos de que o aparente desentendimento entre Suha e os colegas de Yasser Arafat, evidenciado por críticas de Suha à visita, tenha sido motivado em parte pelo tema do controle das contas bancárias. Mas Baskin acredita que as alegações de que Suha possa ter acesso às contas podem ser erradas.

"Na minha avaliação, Suha não tem controle nem sobre as finanças palestinas nem sobre as finanças de Yasser Arafat", disse. Quanto? Mas de quanto dinheiro estamos falando e como ele foi parar nas mãos de Arafat?

Jaweed Al-Ghussein, um ex-ministro das Finanças da OLP, disse à agência de notícias Associated Press que, durante os anos 80, os países árabes doaram cerca de US$ 200 milhões por ano ao Fundo Nacional Palestino, do qual Arafat recebia um cheque de US$ 10 milhões todo mês.

Por sua vez, Mushtaq Khan, um professor da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, disse que um acerto incomum passou a vigorar depois que Arafat assinou os acordos de paz de Oslo com Israel, em 1994.

"Israel criou um sistema em que os impostos coletados de palestinos eram depositados em contas pessoais de Arafat, controladas por Arafat e por seus assessores próximos", disse ele à BBC.

"Isso era feito de forma proposital e com o pleno conhecimento da comunidade internacional e das partes que incentivaram o processo de paz." "Isso ocorreu porque o que Arafat estava fazendo na época era profundamente impopular, e ele precisava ter acesso a verbas para, sutilmente, 'comprar' a oposição política."

Sem registros

Não havia uma contabilidade sistemática dos fundos. Khan acha que um período de aumento de investimentos palestinos e de aumento da infra-estrutura mostrou que o sistema, até certo ponto, funcionou.

Mas investigações conduzidas pelo FMI e pela União Européia sobre o que aconteceu com os milhões em doações aumentou a pressão para que os palestinos abrissem suas contas. Um ministro das Finanças de perfil reformista, Salam Fayyad, foi nomeado e iniciou uma auditoria do fluxo de caixa palestina. Ele concluiu que US$ 900 milhões estão sumidos.

Fayyad disse depois que a maior parte do total foi investido em infra-estrutura ou negócios e havia sido adequadamente contabilizado. Mas parte do dinheiro pode ter ido para algum outro lugar.

"Acredita-se que ele ainda existe e está sendo mantido em diferentes contas", disse Baskin. "Provavelmente ninguém conhece todos os fatos a não ser o próprio Arafat. Eu não sei se alguém na Autoridade Palestina sabe tudo. Provavelmente, as pessoas sabem parte dos fatos."

Ele disse que uma outra pessoa que pode ter o conhecimento das contas de Arafat é seu conselheiro financeiro, Mohammed Rashid, que integrou a comitiva que viajou a Paris. "Eu não consigo imaginar que (a delegação palestina) viajasse sem Rashid, para transferir os direitos de movimentação da conta para eles", completou.

Baskin acredita que um inquérito sobre os fundos será realizado depois da morte de Arafat e que boa parte do dinheiro vai ser localizada.




Fonte: BBC Brasil

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