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Internacional
Terça - 09 de Novembro de 2004 às 14:36

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A Alemanha comemora hoje os 15 anos da queda do Muro de Berlim, mas o país unificado ainda enfrenta muitos problemas sociais e econômicos. Os cidadãos do leste ainda são vistos como os primos pobres. A taxa de desemprego na região chega a 20%, o dobro da média do país, e a falta de trabalho ainda obriga muitas pessoas a fugir para a parte ocidental.

Uma pesquisa recente do Instituto Forsa revelou ainda que um em cada cinco alemães gostaria de ver o muro de volta.

Segundo o economista Udo Ludwig, do Instituto de Pesquisas Econômicas de Halle, os gastos com a reconstrução do leste da Alemanha contribuíram para colocar um freio no crescimento do país.

As subvenções para os Estados do Leste já superaram 1 trilhão de euros, quase R$ 4 trilhões. Até 2019, deverão ser repassados, por ano, mais de 160 milhões de euros, cerca de R$ 570 milhões. Reconstrução

"A reconstrução foi intensamente subvencionada por empresas e consumidores alemães ocidentais, através de pagamento de impostos e contribuição para sistemas de segurança social", afirma Ludwig. "Isso levou a uma sobrecarga da economia da Alemanha Ocidental, que, nos anos 90 e provavelmente nos primeiros anos do novo século, comprometeu anualmente, nesse processo, cerca de 4% do seu produto interno bruto", acrescenta o economista.

"Esse foi um dos motivos para que a economia alemã como um todo tenha reduzido seu crescimento a partir da metade dos anos 90, chegando a ficar mesmo na retaguarda em termos de crescimento dentro da União Européia".

Em Berlim, as obras ainda continuam. Os últimos prédios velhos que restaram estão sendo renovados e ganham cores vivas, que substituem o cinza típico da paisagem comunista.

Os restos da extinta Alemanha Oriental vêm sendo demolidos a cada dia, em cada esquina. Mas as diferenças entre os dois povos, separados durante décadas, são mais difíceis de botar abaixo. Há até quem diga que o muro ainda está nas cabeças.

O certo é que muitas vidas ficaram de cabeça para baixo com a reunificação. O brasileiro Luís Falconere, de 53 anos, vive em Berlim há 26 anos e morava no setor comunista.

Quando a Alemanha Oriental desapareceu, levou junto o emprego que Luís tinha numa rádio, onde trabalhava havia 11 anos. O brasileiro teve de recomeçar do zero, fez um curso profissionalizante e hoje atua como pedagogo.

Luís faz parte daqueles que não têm saudades do muro. "Hoje, mesmo depois dessas mudanças, eu não voltaria atrás, não diria que hoje seria melhor se a gente tivesse as duas Alemanhas, ainda que eu e minha família tenhamos tido uma vida tranqüila", afirma Luís.

"Essa mudança de sistema possibilitou com que pelo menos nossos filhos pudessem estudar aquilo que eles optaram por estudar. Foi uma opção própria deles, que não foi estabelecida por um ou outro funcionário, como acontecia na Alemanha Oriental", frisa o pedagogo.

Partido

O país foi reunificado, mas ainda está longe o dia em que os dois lados da Alemanha terão condições iguais. Isso apesar de todos os investimentos. "Quando comecei a estudar, pensava que seria muito fácil encontrar um trabalho em Berlim. Na época, a cidade já era capital da Alemanha, com embaixadas, muitas agências estrangeiras", recorda o tradutor e intérprete Daniel Weinrich, de 36 anos.

"Mas a situação aqui está muito difícil. Encontrei um trabalho em Munique que não era o que eu queria fazer originalmente, mas a gente tem de fazer o que encontra".

O descontentamento leva alguns a se apegar ao passado, votando nos socialistas do PDS. O partido é uma espécie de porta-voz dos alemães orientais, apesar de ser herdeiro direto dos mesmos comunistas responsáveis pela ditadura alemã oriental.

A legenda tem uma forte base eleitoral nos Estados do Leste, mas enfrenta dificuldades para fincar bandeira no ocidente. "As pessoas no leste ganham ainda muito menos que os ocidentais, têm uma aposentadoria menor que as pessoas do lado ocidental", diz a deputada federal Gesine Lötzsch, do PDS.

"O PDS vem do leste, defende os interesses da população do leste, conhece bem a situação dos Estados do Leste e infelizmente continua sem sucesso na parte ocidental", acrescenta Lötzsch. "O problema é que o PDS ainda não conseguiu convencer os alemães ocidentais de que, com os cortes do sistema social, o lado oriental está servindo de campo de testes para os alemães ocidentais".

Comemorações

Um pedaço do muro foi reconstruído por um museu privado no centro de Berlim como parte das comemorações da queda da barreira erguida pelas autoridades da Alemanha Oriental em 1961.

Também no centro da cidade, modelos vestidos de guardas de fronteira cobram para tirar fotos com os turistas, e uma agência oferece até um passeio por Berlim a bordo de legítimos trabants, os carros produzidos na Alemanha Oriental.

O Muro foi erguido em resposta ao grande número de pessoas que migravam do lado comunista para o lado ocidental da cidade. Ele era considerado o maior símbolo da Guerra Fria, que dividiu o mundo entre os países capitalistas liderados pelos Estados Unidos, de um lado, e os comunistas, sob a asa da extinta União Soviética.

Na noite fria de 9 de novembro de 1989, incentivada pelo processo de reabertura iniciado por vários países do bloco comunista, a população de Berlim Oriental conseguiu derrubar o Muro e passar para o lado ocidental.




Fonte: BBC Brasil

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