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Segunda - 08 de Novembro de 2004 às 13:09

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As primeiras cenas do romance de Cláudia e Leandro em Senhora do Destino pegaram Leandra Leal de surpresa. A atriz construiu desde o início uma personagem com dificuldades para lidar com os sentimentos e não sabia como demonstrar o envolvimento de Cláudia com o bom-moço vivido por Leonardo Vieira.

"Minha primeira reação foi pensar: 'Caramba! Não vou conseguir fazer a heroína romântica'", confessa, reproduzindo a surpresa inicial.

Apesar da boa repercussão do trabalho, Leandra garante que nada tem sido fácil na trajetória da personagem, que começou a novela encontrando o corpo do pai no chão da sala, passou por uma fase de "detetive" e atualmente descobre sua identidade no trabalho e no amor. "São muitas transições. Ela é estranha, não é uma personagem entregue, que você olha e já sabe quem é. Ao mesmo tempo, isso é ótimo", pondera, com jeito agitado.

Aos 22 anos, Leandra já acumula 14 de uma carreira que inclui tevê, cinema e teatro, além do trabalho como produtora no Teatro Rival, dirigido pela mãe, Ângela Leal, e das incursões como escritora nas horas vagas - apesar de garantir que a maior parte do que escreve vai "direto para o lixo", Leandra reuniu alguns escritos no espetáculo Impressões do Meu Quarto.

E já pensa em dar os primeiros passos como diretora. Tantas atividades revelam uma indisfarçável ansiedade, que a atriz espera perder com o passar dos anos. Mas que só aumenta quando ela faz novelas. "Não dou conta de fazer novela e ainda existir. Principalmente depois do capítulo 150", dispara, com o ar mais natural do planeta.

É também com naturalidade que Leandra encara a vontade de encarar diversas "frentes" do panorama artístico - para ela, conseqüência de ter começado cedo. "Você já conhece tanto as coisas que faz, que acaba se interessando por outras", tenta explicar a atriz, que julga vir dela própria a maior cobrança por ter seguido a carreira da mãe. "Minha mãe caminhou até um certo ponto e é normal que eu vá dali em diante. Senão, é porque alguma coisa está errada", conclui, deixando um pouco de lado a habitual timidez. Leia a seguir a entrevista com a atriz:

P - Você vê alguma desvantagem no fato de ter começado tão cedo?

R - O único mal de começar cedo é que você faz coisas que já conhece demais, porque já faz há muito tempo. Chego ao Projac e já sei que vou ficar horas esperando para gravar. Aí, antes de me indignar, penso: "Ah, é assim mesmo". Você se acomoda um pouco, acostuma. Em contrapartida, a profissão é dinâmica, sempre traz novidades. Acho que é por isso que é normal quem começa cedo se interessar por outras coisas, começar a produzir, a dirigir... Como você acaba convivendo muito com os estúdios, as câmaras, tem muita noção daquilo. Eu vejo a Carolina Dieckmann, ela também começou cedo e tem uma enorme noção de câmara, de corte, de luz. Você vai ganhando experiência como um todo.

P - Mas você tem buscado isso fora da tevê, produzindo shows, escrevendo...

R - É uma necessidade de me expressar através de outras coisas. O ator contratado às vezes é um pouco limitado. Eu tenho esta pilha de querer fazer outras coisas. Às vezes, termino uma cena com a sensação de não conseguir dizer tudo o que queria. Acho que a gente é infinito. Então, vou para casa, escrevo, produzo um show...

P - Você acha mais fácil "dar seu recado" assim?

R - Não. Produzir um show não dá o retorno que uma novela dá. São coisas diferentes. Um show atinge 800 mil pessoas no máximo, a novela atinge milhões de pessoas todos os dias. São coisas totalmente diferentes. Mas as duas têm seu espaço. O Rival, por exemplo, é um lugar onde brinco, piro, experimento. Lá tem uma filosofia legal, que é de não trazer só quem está na mídia, de trazer à tona, de revelar gente que faz um som "do caramba", mas não aconteceu ainda porque não sai nos jornais. Alguns falam que é um lugar alternativo. Alternativo não sei para quem! Alternativo, para mim, é o que sai na grande imprensa, e não eu. É uma função que poucas pessoas assumem na vida: inovar.

P - É disso que você mais se orgulha na carreira?

R - Acho que tive sorte, mas também me orgulha o modo como minha mãe, no começo, e depois eu consegui conduzir minha carreira. As pessoas costumam dizer que tive sorte de pegar bons personagens. Foi sorte sim, mas também muito trabalho. Consegui estudar, não repeti ano, terminei o colégio, fui adolescente, pude ter crise, namorar, sair. Porque é horrível também você ser aquelas pessoas que desde cedo parecem uns anõezinhos, que amadurecem muito cedo. Acho importante ser o que se é de acordo com cada idade. E eu consegui isso.

P - Sua última novela foi O Cravo e a Rosa, mas, de lá para cá, você participou de minisséries e seriados. Você prefere estes projetos especiais?

R - Acho que novela cansa muito. Não só por causa das gravações, mas destas outras exigências, de entrevistas, outros trabalhos que pintam. Então, começo a ler menos, vou menos ao teatro, fico menos informada, participo menos da vida dos meus amigos, da minha família... Por isso, acho interessante dosar isso. Até porque, com novela não consigo fazer nenhum outro trabalho paralelo. Mas gosto de fazer novela também. E o retorno que se tem fazendo novela não tem comparação com o destes outros projetos. Amei fazer Um Só Coração, por exemplo, mas não foi o mesmo retorno. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade de usar a estrutura da tevê para fazer coisas diferentes para o público, coisas mais importantes para o país. Ter a oportunidade de contar um pouco da história do país é ótimo.

P - Quando aceitou o convite para interpretar a Cláudia, você imaginava que ela teria tanta importância na trama?

R - Não imaginava nada, até porque a sinopse trazia pouca coisa a respeito dela. O Aguinaldo tinha me dito que era uma personagem forte, que teria um desenvolvimento bacana e que poderia ser uma das pessoas a desvendar o segredo da Nazaré. Mas tudo isso eram possibilidades, coisas que poderiam rolar ou não.

P - A que você atribui a boa repercussão da personagem?

R - É uma conjunção de fatores. Primeiro, tive a sorte de cair num núcleo muito legal. O núcleo inteiro deu certo, está todo mundo bacana, entrosado. E a relação da Cláudia com a Nazaré deu muito certo. Além disso, acho que ela é uma figura que desperta uma curiosidade muito grande. Quando ela apareceu, as pessoas tinham dúvidas: "Será que esta menina é boa? Quem ela é?". Ela é meio estranha. E, por último, tem todo o sofrimento que ela passa. O público adora isso, cria compaixão, identificação. A Cláudia é sofredora, mas ao mesmo tempo guerreira. É do bem, meio heroína, mas não é a mocinha passiva, vai à luta.

P - Quais foram suas maiores preocupações ao compor a Cláudia?

R - Ela é muito difícil. É muito estranha, fechada, travada com relação aos sentimentos. Ela já começou a trama com uma bomba: a morte do pai. Na primeira cena dela, chegava em casa e dava de cara com o corpo do pai esticado na sala. Aí teve toda a coisa do luto, depois a fase investigadora, detetive, a fase dela brigando com a Nazaré pela herança, a coisa meio guerreira, a fase romântica, o rompimento com o Leandro... Cada hora é uma coisa. E a própria trama pega a Cláudia num momento especial, um momento de crescimento. Até então, ela era muito podada pela família, tinha a auto-estima completamente detonada pela Nazaré. Agora, que conseguiu provar que a Nazaré é realmente uma mentira, e que a mãe dela estava certa, ela começa a ter identidade. É o momento em que começa a se formar como pessoa no mundo. Existem duas descobertas essenciais na vida de todo ser humano, que são o trabalho e o amor. Pois a Cláudia agora arruma um trabalho com o cara que ela mais admira profissionalmente e começa a namorar um cara que dá um retorno para ela. Acho que a gente só tem certeza de quem realmente é quando alguém dá este retorno.

P - E que tipo de retorno o trabalho tem dado a você até agora?

R - Fico muito angustiada com o fato de ter muita coisa para fazer e não conseguir dar conta. Quando faço uma novela, tenho a demanda de outros trabalhos fora, além dos meus próprios projetos. Tudo isso me angustia. Não dou conta de fazer novela e ainda existir. Principalmente depois do capítulo 150. Faltam poucos capítulos para o 150 e já estou sabendo que vou pirar. Fora isso, sempre tive um retorno muito bacana. Mas meu assessor me liga dizendo que tenho 500 entrevistas para fazer e minha primeira reação é pensar: "Cara, não vou conseguir!". No meu único dia de folga, tenho mil coisas para fazer. E sou uma pessoa que gosta de dormir, gosta de fazer nada, gosta de produzir outras coisas. Então, fica muito angustiante neste sentido do tempo. Mas o retorno de crítica e do público é muito legal. Principalmente porque tenho conseguido construir uma imagem não de personalidade, mas de atriz. As pessoas chegam para falar do meu trabalho, não da minha vida pessoal. E sinto que não são elogios gratuitos. Isso me deixa envaidecida.

Talento precoce

Quem olha o currículo de Leandra Leal dificilmente imagina que a menina tenha ingressado no teatro apenas para driblar a timidez - da qual, aliás, mantém visíveis resquícios até hoje. Foi aos sete anos de idade, por iniciativa do pai, o advogado Júlio Braz, falecido em 1995.

Pouco tempo depois, e aí sim já seguindo os passos da mãe, a atriz Ângela Leal, Leandra fez participações nas novelas Pantanal e A História de Ana Raio e Zé Trovão. Antes de conquistar o papel da ciganinha Ianca, de Explode Coração, através de uma fita com seus trabalhos gravados, Leandra ainda participou do seriado Confissões de Adolescente, da TV Cultura. "Tive a sorte de, ainda jovem, fazer trabalhos muito legais", minimiza a atriz.

Foi com a estréia no cinema, no entanto, que Leandra realmente chamou a atenção do público e da crítica. Como protagonista de A Ostra e o Vento, de Walter Lima Jr., a então adolescente conquistou oito prêmios no Brasil e no exterior, entre eles o de melhor atriz no Festival de Biarritz, na França.

De lá para cá, Leandra vem intercalando trabalhos na tevê e no cinema, onde integrou, entre outros, o elenco dos longas-metragens O Homem que Copiava, de Jorge Furtado, e Cazuza ¿ O Tempo Não Pára, de Sandra Werneck.

Entre as personagens da tevê, a atriz hesita em apontar uma ou outra, mas não esconde a satisfação por ter trabalhado nas minisséries A Muralha e Um Só Coração. O seriado A Grande Família é outro "xodó" de Leandra. Ela espera ansiosamente poder voltar a interpretar a batalhadora Viviane. "Havia previsão de que ela voltasse no especial de Natal, mas não sei se vai dar, por causa da novela. Queria muito, mesmo que fosse um só episódio", revela Leandra, animada

Do quarto aos palcos

Já faz tempo que Leandra Leal tem o hábito de escrever. A maior parte dos resultados, no entanto, acaba ficando esquecido no fundo da gaveta. Com Impressões do Meu Quarto foi diferente. A peça, que estreou no Rio de Janeiro e deve seguir em turnê assim que terminar Senhora do Destino, reúne escritos de Leandra nos últimos três anos. "Decidi produzir para dar um fim a tantos rascunhos. As coisas só merecem vir à tona quando viram obsessões", filosofa.

No caso de Leandra, as "obsessões" são comuns. Ela tem sempre uma série de projetos e não costuma descansar enquanto não os coloca em prática.

Atualmente, a atriz vive às voltas com sua mudança para São Paulo e com a produção de uma série de eventos multimídia no Teatro Rival, envolvendo teatro, performances, dança e música. Tudo capitaneado pela empresa As Três Meninas, que ela montou com duas amigas e também responde pela produção de sua peça.

"Às vezes penso em ficar um mês de férias depois da novela, só cuidando da peça, mas surge alguma coisa e mudo de idéia. Acho que é porque sou jovem, estou no momento do agora. Mas espero ficar mais tranqüila", confessa, sem qualquer traço de preocupação.

Trajetória televisiva

# Pantanal, Manchete, 1990.
# A História de Ana Raio e Zé Trovão, Manchete, 1990.
# Confissões de Adolescente, TV Cultura, 1993.
# Explode Coração, Globo, 1995 - Ianca.
# A Indomada, Globo, 1997 - Lúcia Helena.
# Pecado Capital, Globo, 1998 - Clarelis.
# O Cravo e a Rosa, Globo, 2000 - Bianca Batista.
# A Muralha, 2000 - Globo, Beatriz Ataíde.
# Brava Gente, 2000 - Globo, Margarida.
# Pastores da Noite, Globo, 2002 - Otália.
# A Grande Família, Globo, 2003/2004 ¿ Viviane.
# Um Só Coração, Globo, 2004 ¿ Úrsula Schmidt da Silva.
# Senhora do Destino, Globo, 2004 ¿ Maria Cláudia.




Fonte: TV Press

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