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“Devemos deixar Vlado descansar”, diz rabino Sobel
Uma semana após a morte do jornalista Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975, mais de oito mil brasileiros participaram de uma missa ecumênica em memória dele, organizada por D. Paulo Evaristo Arns, pelo reverendo James Wright e pelo rabino Henry Sobel. Foi também Sobel um dos responsáveis pelo sepultamento de Vladimir Herzog, que era de origem judaica.
A versão oficial do Exército era a de que Herzog se suicidara na cela em que estava preso no 2. Exército, em São Paulo. Os suicidas judeus são enterrados fora dos muros que cercam seus cemitérios. O jornalista, pelo contrário, foi enterrado com honras, o que, em tempos de censura, dava um recado claro: a comunidade israelita refutava o laudo oficial do governo brasileiro.
Em entrevista à Agência Brasil, o rabino defende a abertura à consulta pública dos documentos secretos de órgãos de investigação e de repressão do Estado. Leia a seguir os principais trechos da conversa.
ABr - Qual é a sua opinião sobre a abertura dos arquivos da ditadura, discussão reaberta com divulgação das supostas fotos de Herzog?
Henry Sobel - Por um lado, é importante recordar o caso Herzog e falar sobre o que aconteceu. É uma maneira de conscientizar os jovens que não viveram aqueles anos sombrios. Toda oportunidade que temos para recordar e transmitir as lições do passado é valiosa, no sentido de fortalecer a nossa rejeição a qualquer forma de ditadura e de abuso de poder. Nesse sentido, eu estou de acordo que devemos realmente abrir os arquivos.
Por outro lado, no caso Herzog – e eu falo exclusivamente no que tange ao caso Herzog – não creio que a abertura dos arquivos traria algo de novo. Já sabemos que Vladimir Herzog foi humilhado, torturado antes de morrer. Sabemos como o governo militar naquela época se comportou em relação a Herzog. Acho que, quando não sabemos dados, fatos, principalmente no que tange aos desaparecidos, é um dever moral reabrir os arquivos. Mas, no que tange a esse caso específico, acho que devemos deixar o Vlado descansar em paz. Deixar a viúva os filhos e mãe, dona Zora, cicatrizar suas feridas. Repito: tudo o que precisamos saber sobre o caso Herzog, já sabemos.
ABr - Qual é a sua opinião sobre a abertura de outros arquivos, como os do Itamaraty, que não são propriamente da ditadura militar?
Sobel - O Itamaraty tem o dever moral de abrir os arquivos, principalmente nos casos que ainda são desconhecidos. Todos temos esse dever para com a sociedade.
ABr - Qual é sua avaliação das supostas fotos de Herzog publicadas pela imprensa?
Sobel - São fotos fortes. Para mim trouxeram vividamente à memória um episódio muito doloroso. Isto em si é muito importante.
ABr - Como foram os dias da prisão e morte de Vladmir Herzog?
Sobel - Foram dias dramáticos e traumáticos. Quando os jornais noticiaram a morte de Herzog, foi realmente um choque, especialmente porque a explicação oficial divulgada pelas Forças Armadas foi que ele havia se suicidado. No dia do enterro, o meu pessoal, a Chevra Kadisha – o comitê funerário da Congregação Israelense Paulista –, verificou que ele foi torturado. Aquilo que eles viram no corpo dele era prova de tortura. Ele não morreu por suicídio não.
Por isso, ele foi sepultado com todas as honras que eram devidas a ele como judeu, como brasileiro, como ser humano. De acordo com a lei judaica, um suicida é enterrado na periferia do cemitério, como forma de condenar visivelmente pelo pecado cometido por aquele que depôs a própria vida. Não foi esse o caso de Vladimir Herzog. Ele foi sepultado no centro do campo santo e, logo em seguida, houve um culto ecumênico que reuniu oito mil pessoas. O culto foi conduzido com a maior serenidade e dignidade.
ABr - Qual foi a importância do caso Herzog para o país?
Sobel - A morte de Herzog mudou o rumo do país. Foi o catalisador da abertura política e do processo de redemocratização do Brasil. O nome Herzog será sempre uma recordação dolorosa de um período de repressão da história brasileira e será também o eco eterno da liberdade, que não cala jamais.
A versão oficial do Exército era a de que Herzog se suicidara na cela em que estava preso no 2. Exército, em São Paulo. Os suicidas judeus são enterrados fora dos muros que cercam seus cemitérios. O jornalista, pelo contrário, foi enterrado com honras, o que, em tempos de censura, dava um recado claro: a comunidade israelita refutava o laudo oficial do governo brasileiro.
Em entrevista à Agência Brasil, o rabino defende a abertura à consulta pública dos documentos secretos de órgãos de investigação e de repressão do Estado. Leia a seguir os principais trechos da conversa.
ABr - Qual é a sua opinião sobre a abertura dos arquivos da ditadura, discussão reaberta com divulgação das supostas fotos de Herzog?
Henry Sobel - Por um lado, é importante recordar o caso Herzog e falar sobre o que aconteceu. É uma maneira de conscientizar os jovens que não viveram aqueles anos sombrios. Toda oportunidade que temos para recordar e transmitir as lições do passado é valiosa, no sentido de fortalecer a nossa rejeição a qualquer forma de ditadura e de abuso de poder. Nesse sentido, eu estou de acordo que devemos realmente abrir os arquivos.
Por outro lado, no caso Herzog – e eu falo exclusivamente no que tange ao caso Herzog – não creio que a abertura dos arquivos traria algo de novo. Já sabemos que Vladimir Herzog foi humilhado, torturado antes de morrer. Sabemos como o governo militar naquela época se comportou em relação a Herzog. Acho que, quando não sabemos dados, fatos, principalmente no que tange aos desaparecidos, é um dever moral reabrir os arquivos. Mas, no que tange a esse caso específico, acho que devemos deixar o Vlado descansar em paz. Deixar a viúva os filhos e mãe, dona Zora, cicatrizar suas feridas. Repito: tudo o que precisamos saber sobre o caso Herzog, já sabemos.
ABr - Qual é a sua opinião sobre a abertura de outros arquivos, como os do Itamaraty, que não são propriamente da ditadura militar?
Sobel - O Itamaraty tem o dever moral de abrir os arquivos, principalmente nos casos que ainda são desconhecidos. Todos temos esse dever para com a sociedade.
ABr - Qual é sua avaliação das supostas fotos de Herzog publicadas pela imprensa?
Sobel - São fotos fortes. Para mim trouxeram vividamente à memória um episódio muito doloroso. Isto em si é muito importante.
ABr - Como foram os dias da prisão e morte de Vladmir Herzog?
Sobel - Foram dias dramáticos e traumáticos. Quando os jornais noticiaram a morte de Herzog, foi realmente um choque, especialmente porque a explicação oficial divulgada pelas Forças Armadas foi que ele havia se suicidado. No dia do enterro, o meu pessoal, a Chevra Kadisha – o comitê funerário da Congregação Israelense Paulista –, verificou que ele foi torturado. Aquilo que eles viram no corpo dele era prova de tortura. Ele não morreu por suicídio não.
Por isso, ele foi sepultado com todas as honras que eram devidas a ele como judeu, como brasileiro, como ser humano. De acordo com a lei judaica, um suicida é enterrado na periferia do cemitério, como forma de condenar visivelmente pelo pecado cometido por aquele que depôs a própria vida. Não foi esse o caso de Vladimir Herzog. Ele foi sepultado no centro do campo santo e, logo em seguida, houve um culto ecumênico que reuniu oito mil pessoas. O culto foi conduzido com a maior serenidade e dignidade.
ABr - Qual foi a importância do caso Herzog para o país?
Sobel - A morte de Herzog mudou o rumo do país. Foi o catalisador da abertura política e do processo de redemocratização do Brasil. O nome Herzog será sempre uma recordação dolorosa de um período de repressão da história brasileira e será também o eco eterno da liberdade, que não cala jamais.
Fonte:
Agência Brasil
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/369395/visualizar/
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