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Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Domingo - 24 de Outubro de 2004 às 09:14

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Depois das histórias de tráfico, chacinas e armas poderosas, o mercado de CDs de funk proibido faz apologia a um novo tipo de crime: os roubos de carros. Em uma das faixas de um CD que é vendido em camelôs do Rio, um intérprete canta os detalhes do modo de atuação de traficantes que deixam as bocas-de-fumo para assaltar e aterrorizar motoristas no asfalto.

Gravada clandestinamente no Baile da Chatuba, em Nilópolis, a faixa Bonde do 157 - referência ao artigo do Código Penal que trata de roubo com ameaça violenta - reproduz um pesadelo de quem transita pelas vias expressas do Rio: "Não tira mão do volante, não me olhe, não se mexe. É o Bonde da Chatuba, do artigo 157".

O funkeiro, que não é identificado no CD, brinca com o medo dos motoristas e alerta sobre as reações que podem ser fatais para a vítima. "Desce do carro, olhe para o chão, não se move. Me dá seu importado que o seguro te devolve", segue a letra.

Segundo a inspetora da Polícia Civil Marina Maggessi, os funks proibidos acabam servindo como provas nos inquéritos encaminhados à Justiça. Para ela, o Bonde do 157 reflete o que ocorre hoje dentro das facções criminosas, principalmente quando exalta o "menor periculoso" como líder de quadrilha.

De acordo com Marina, uma das primeiras providências de um novo chefe de tráfico em uma determinada região é encomendar um funk que o enalteça. "O funk é um dos maiores informantes da polícia. Através das músicas, ficamos sabendo quem domina o tráfico em várias favelas", observou a inspetora.

Marina lembra ainda que a admiração por menores infratores reforça a tese de que os atuais chefes são meninos que cresceram usando drogas e não estão conseguindo administrar o crime como os antigos líderes. Com a queda no movimento e os altos custos da guerra entre quadrilhas, as bocas-de-fumo tentam outras fontes de arrecadação.

As cenas descritas pelo funk proibido confirmam o que apontam as investigações da polícia e o próprio medo dos usuários de vias expressas como as linhas Vermelha e Amarela e a Avenida Brasil, apontados na letra como locais preferidos pelos ladrões.

Os versos da música de 3,5 minutos também justificam o roubo: "Nós só quer o malote para ajudar nossa irmandade. Nós só quer o dinheiro para ajudar nossa família." A família, nesse caso, não são parentes, mas aliados do Comando Vermelho. < p>De acordo com Marina Maggessi, a designação de "família" aparece até nas anotações da contabilidade do tráfico, no espaço reservado para a contribuição das bocas-de-fumo para o comando da facção.




Fonte: JB Online

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