Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Quarta - 20 de Outubro de 2004 às 22:46

    Imprimir


O presidente da Rússia, Vladimir Putin, havia prometido em 2000, ao chegar ao poder, combater a corrupção endêmica que assola o país mediante a "ditadura da lei", mas, quatro anos depois, a situação não melhorou, muito pelo contrário, afirmam especialistas.

A amplitude da corrupção é gigantesca e segue um esquema tentacular que vai da polícia de bairro até as mais altas esferas do poder, passando por todos os escalões do setor público, incluindo a saúde, a educação, a justiça, a alfândega e o exército.

O próprio procurador-geral da Rússia considerava em 2003 que a quantia global de pagamentos de subornos no país em um ano alcançava 16 bilhões de dólares. Por sua vez, as Organizações Não-Governamentais (ONG) sustentam que se trata na realidade de pelo menos o dobro desta soma, ou seja, o equivalente a um terço do orçamento federal.

Em seu informe de 2004 publicado nesta quarta-feira, a ONG Transparency International classificou a Rússia entre os 60 países com uma corrupção "endêmica", no mesmo nível que Índia, Moçambique ou Gâmbia.

O nível da corrupção "não evoluiu na Rússia nos últimos quatro anos", frisou Elena Panfilova, a diretora da filial moscovita da ONG. Segundo Panfilova, "o poder mostrou que não sabe lutar contra este mal".

Vladimir Putin, o ex-agente dos serviços secretos que chegou ao poder com uma fama de "incorruptível", sustentou praticamente toda sua campanha para o primeiro turno das eleições presidenciais de 2000 com a promessa de impor "a ditadura da lei".

No entanto, quatro anos depois, e apesar de uma série de detenções espetaculares, nada indica que a tendência tenha sido invertida, muito pelo contrário.

Neste sentido, Gueorgui Satarov, presidente da União contra a Corrupção, afirmou que este problema aumentava, e alertou que o país estava se tornando uma verdadeira "cleptocracia".

Esta ONG russa calculou em julho passado em um bilhão de dólares os subornos pagos somente no setor do ensino, ou seja, para a admissão à universidade ou os resultados de exames.

Ao mesmo tempo, as empresas são chantageadas por diversas administrações, e a investigação conduzida contra a companhia petroleira Yukos "serviu de aviso para as burocracias locais", acrescentou a mesma fonte.

O nível da corrupção também poderia tornar obsoleta uma das prioridades do atual governo russo: a luta contra o terrorismo.

Neste sentido, uma investigação revelou que as duas mulheres camicases que detonaram dois aviões de carreira russos em 24 de agosto, matando 90 pessoas, tinham evitado os controles de segurança aeroportuários mediante um suborno de algumas dezenas de dólares.

Além disso, os especialistas destacam que a redução da liberdade da imprensa, a marginalização da oposição e as reformas políticas promovidas por Putin têm como objetivo fortalecer o poder central e a burocracia.

A jornalista Julia Latynina vai ainda mais longe, e afirma que corrupção e combate à corrupção integram um mesmo sistema de poder, bem longe da democracia: o de uma pirâmide de funcionários que têm, cada um deles, um "expediente" que o compromete, garantia de sua lealdade.




Fonte: AFP

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/370810/visualizar/