Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Sexta - 15 de Outubro de 2004 às 11:36

    Imprimir


Enquanto George W. Bush e John Kerry debatem sobre o preço dos remédios nos EUA, um grupo de aposentados decidiu desafiar as autoridades e atravessar a fronteira com o Canadá para comprar remédios baratos mas "ilegais".

Eltes não são contrabandistas tradicionais, são aposentados americanos de classe média que embarcaram em uma viagem no trem que chamaram de "Receita Express", dispostos a quebrar a lei que impede a importação de remédios para os Estados Unidos sem autorização.

Para Carolina Jaques, de Apple Valley (Califórnia), esta é a segunda viagem até o Canadá a bordo do "Receita Express" para comprar remédios contra asma, pressão arterial alta e outros males próprios de uma pessoa de 78 anos.

Em agosto, ela viajou de San Diego até Vancouver com o mesmo propósito e planeja continuar viajando para o Canadá porque, para ela, é uma questão de sobrevivência.

"Vivo com uma pensão de 2.200 dólares por mês, dos quais entre 300 e 400 dólares são destinados à compra de remédios. Os mesmos remédios custam, no Canadá, 59% a menos. Em um ano, economizo mais de 2.000 dólares, um mês inteiro de pensão", explica à EFE na porta de uma farmácia no centro de Toronto.

"Com 2.200 dólares de renda mensal é difícil sobreviver nos EUA. Sem a economia, teria que decidir entre pagar o aluguel, comprar comida ou pagar meus remédios. E preciso das três coisas para sobreviver", acrescenta.

Como destacou o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, John Kerry, durante seu debate com o presidente George W. Bush, o caso de Jaques não é único e, pelo contrário, começa a ser a tônica entre os aposentados americanos.

Jerry Flanagan, um dos organizadores do "Receita Express" e membro da Fundação em Defesa dos Direitos de Contribuintes e Consumidores, indicou que "é escandaloso que nossos aposentados, muitos que sobrevivem com renda limitada, sejam obrigados a viajar até o Canadá para conseguir os remédios de que precisam".

Segundo dados obtidos por Flanagan, um de cada quatro aposentados nos EUA precisa escolher entre pagar seus remédios ou bancar alimentação e aluguel.

Julia Morrison, uma aposentada de Manhattan, espera junto a Jaques na porta da farmácia de Toronto depois de comprar os remédios que vai levar de volta a Nova York.

"Economizo 50% comprando aqui", explica Morrison enquanto se protege da chuva.

Ela diz que muitos de seus amigos e conhecidos em Nova York se encontram na mesma situação, ou seja, têm dificuldades para cobrir suas necessidades médicas devido ao elevado custo dos remédios nos EUA em comparação com outros países, como o Canadá.

"Nós temos sorte porque podemos viajar até aqui e comprar nossos remédios. Muitos não podem", aponta Morrison, que não pôde comprar remédios para uma de suas amigas por medo de usar seu cartão de crédito.

Nem Jaques nem Morrison puderam ver, na noite de quarta-feira, o último debate entre Bush e Kerry, no qual os gastos com saúde e o fornecimento de remédios foi um dos temas centrais, mas riem quando lembram o que Bush afirmou durante o segundo debate.

O presidente disse que não podia permitir a importação de remédios do Canadá porque não tinha certeza se eram seguros e que poderiam proceder de países do Terceiro Mundo.

"Meu Deus - exclama Jaques com resignação -, são as mesmas empresas dos EUA, os mesmos produtos, só que no Canadá o governo mantém os preços baixos porque compra por atacado".

Morrison acrescenta, tirando uma das caixas que acaba de comprar: "até os pacotes são muito melhores do que nos EUA".




Fonte: EFE

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/371774/visualizar/