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Segunda - 11 de Outubro de 2004 às 21:25

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Fazer "remake" de novela sempre se mostrou uma estratégia arriscada. Afinal, não é sempre que a nova versão de um clássico da teledramaturgia nacional provoca a mesma comoção que a anterior. Raríssimas vezes, como em Mulheres de Areia e A Muralha, o "remake" conseguiu repetir o sucesso do original. Na maioria dos casos, como em Pecado Capital e Irmãos Coragem, as releituras entraram para a história como retumbantes fracassos.

Atualmente, o "remake" de Cabocla, de Benedito Ruy Barbosa, até faz bonito no horário das seis, com audiência em torno dos 35 pontos. Mês que vem, a Record reinaugura o núcleo de teledramaturgia com Escrava Isaura, novamente baseada no romance homônimo de Bernardo Guimarães.

A idéia de fazer uma nova leitura de Escrava Isaura partiu do próprio Herval Rossano, diretor da primeira versão, em 1979. Como a Globo detém os direitos da primeira adaptação, de Gilberto Braga, Herval faz questão de dizer que Escrava Isaura não se trata de um "remake" e sim de uma nova versão para o livro de Bernardo Guimarães. "Se não acreditasse que a nova versão faria tanto sucesso quanto a original, jamais sugeriria o 'remake'. Mas, para quem quiser comparar as versões, um aviso: a nova vai ser infinitamente melhor!", garante.

Essa não é a primeira vez que a Record revisita um antigo sucesso. Em 98, ela exibiu Louca Paixão, adaptação de Yves Dumont para 2-5499 Ocupado, a primeira novela diária da tevê brasileira. "Se fosse um simples 'remake', não teria sentido. Com exceção do mote envolvendo a linha cruzada, praticamente escrevi uma nova novela", ressalta Dumont.

Já a Globo contabiliza 16 "remakes" de novelas e minisséries. Para o diretor Ricardo Waddington, de Cabocla, a política da casa de investir em "remakes" não atesta crise de originalidade e cita o recente sucesso de Da Cor do Pecado, do novato João Emanuel Carneiro, como exemplo de renovação de autores. "Quando a história é boa, sempre vale o 'remake'", acredita ele.

Do "cast" da Globo, Wolf Maya tornou-se quase um especialista em "remakes". Já foram cinco: Hipertensão, Mulheres de Areia, A Viagem, Pecado Capital e até Vale Todo, versão hispânica para Vale Tudo, de Gilberto Braga. "Temos muito a aprender com mestras, como Ivani Ribeiro e Janete Clair. Elas têm a habilidade da carpintaria, de contar uma boa história passo a passo, algo que sinto falta nos autores contemporâneos", avalia Wolf. Mas adaptar uma mestra como Ivani Ribeiro e Janete Clair não é garantia de sucesso.

Curiosamente, todos os "remakes" de Janete Clair, por exemplo, como Selva de Pedra, Irmãos Coragem e Pecado Capital, ficaram aquém das expectativas. Em Irmãos Coragem, o fiasco foi tanto que gerou até um troca-troca de diretores: Luiz Fernando Carvalho cedeu o lugar para Reynaldo Boury. "Se você fica muito preso ao original, o 'remake' não dá certo. Irmãos Coragem só deslanchou depois que o Dias Gomes me deu plena liberdade para mudar o que fosse preciso", recorda Marcílio Moraes, um dos responsáveis pela adaptação da novela.

Ao contrário de Marcílio, que escreveu também Sonho Meu a partir de A Pequena Órfã e Ídolo de Pano, ambas de Teixeira Filho, Tiago Santiago nunca escreveu uma novela. Mesmo assim, foi escolhido por Herval Rossano para assinar a nova versão de Escrava Isaura. Ex-redator do Você Decide, avisa que vai criar novas tramas e personagens. "A exemplo do que acontecia no livro, a Malvina também não vai morrer na nova versão. Isso já mostra que vou fazer um trabalho diferente da primeira adaptação", promete.

Mas não é todo mundo que vê com bons olhos a releitura de clássicos da teledramaturgia brasileira. O diretor Régis Cardoso é um dos que torcem o nariz para os "remakes". Ele não aprovou, por exemplo, os que fizeram de Ossos do Barão, no SBT, ou Anjo Mau, na Globo, dirigidas originalmente por ele. "Parece que o pessoal tem preguiça de criar histórias novas. Por isso, prefere reaproveitar as que já existem. Aí, fica esse gosto ruim de café requentado", critica Régis.

No túnel do tempo

Quando a Record bateu o martelo para fazer a nova versão de Escrava Isaura, a primeira providência que Herval Rossano tomou foi telefonar para Rubens de Falco. Ele queria que o ator que celebrizou o cruel Leôncio participasse também da nova adaptação. Convite aceito, Rubens vai interpretar o Comendador Almeida, o pai de Leôncio. Experiente, o ator tem um único conselho a dar para Leopoldo Pacheco, o escolhido para viver Leôncio na nova versão. "Deixe-se seduzir pelo Leôncio, porque ele é um personagem realmente sedutor", garante.

A exemplo de Rubens, Francisco Cuoco também já atuou em duas versões da mesma novela: Pecado Capital. Na original, de 75, fazia o taxista Carlão, um de seus personagens mais famosos. No "remake" de 98, voltou à cena como Salviano Lisboa, o viúvo rico e solitário interpretado originalmente por Lima Duarte. "É impossível querer que números de 20 anos sejam referência para uma produção atual. Mais importante é constatar o processo de aprimoramento pelo qual passou a telenovela nesses 40 anos", discursa Cuoco.

Mas há casos de atores que fizeram questão de interpretar o mesmo personagem em duas versões de uma única produção. Quando soube que estava escalado para interpretar Dom Jerônimo na nova versão de A Muralha, Mauro Mendonça telefonou para Tarcísio Meira e perguntou se ele não queria trocar de papel. Motivo: Mauro queria tornar a viver Dom Braz Olinto, o personagem que interpretou em 68, quando a Tupi fez a primeira adaptação do livro de Dinah Silveira de Queiroz. "Em 68, só tinha 36 anos, tive até de colocar barba postiça para envelhecer. Dessa vez, aos 68, estava na idade certa para fazer o Dom Braz", brinca.

Instantâneas

O primeiro "remake" da tevê brasileira foi As Professorinhas, produzido pela Record em 1968. A versão original foi exibida pela Cultura em 65.

Hipertensão, de Ivani Ribeiro, é "remake" de Nossa Filha Gabriela, da mesma autora.

Em Louca Paixão, da Record, o autor Yves Dumont transformou os 42 capítulos originais de 2-5499 Ocupado em 141. Dos 12 personagens iniciais, o "remake" contou com quase 40.

A autora mais "revisitada" da tevê brasileira foi Ivani Ribeiro. Ao todo, sua obra contabiliza 12 "remakes", como Alma Cigana, A Indomável, A Deusa Vencida e Meu Pé de Laranja Lima.

A Globo cogitou fazer um "remake" de O Profeta, de Ivani Ribeiro. O Profeta, porém, cedeu lugar para Cabocla.

Às vezes, duas novelas dão origem a um só "remake". Em 97, Walter George Durst assinou Os Ossos do Barão a partir de Os Ossos do Barão e Ninho da Serpente, de Jorge Andrade.





Fonte: TV Press

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