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Polícia Brasil
Segunda - 11 de Outubro de 2004 às 07:28

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O corpo do ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) Apoena Meireles, assassinado na noite de sábado com três tiros em Porto Velho, Rondônia, está sendo velado na sede da Funai em Brasília. O enterro está marcado para o final de tarde de hoje no Rio de Janeiro.

Ontem, em Porto Velho, vários índios participaram do velório do corpo de Meireles. Em Brasília, nesta manhã, índios xavante devem participar do velório. Um grupo de funcionários da Funai preparam uma homenagem ao sertanista.

O indigenista foi baleado quando deixava um posto do Banco do Brasil. O suposto assaltante teria fugido levando o dinheiro.

A polícia está investigando o caso e não descarta as hipóteses de latrocínio, crime político e morte encomendada, já que Meireles mediava conflito entre índios cintas-largas e garimpeiros no Pará.

Ele estava trabalhando como coordenador da Operação Roosevelt, que pretendia encontrar os responsáveis pela chacina que deixou 29 garimpeiros mortos no início deste ano na reserva dos cintas-largas. O sertanista, primeiro branco a entrar em contato com índios dessa tribo, era coordenador de um trabalho do governo federal que estuda a regulamentação de mineração em terra indígena.

Crime e investigação

No momento do crime, o sertanista estava acompanhado de uma funcionária da Funai. Ela disse que um rapaz, aparentando ter 18 anos de idade, se aproximou dos dois no caixa eletrônico do banco e anunciou o assalto.

Segundo ela, Apoena teria colocado o dinheiro na carteira e, ao dar um passo na direção do assaltante, recebeu um tiro no peito. Em seguida o rapaz fugiu, mas Apoena correu atrás e houve um segundo disparo, mas não acertou o sertanista, que continuou a perseguição. O assaltante então deu um terceiro disparo, atingindo Apoena no abdômen. O sertanista morreu antes de chegar ao hospital.

O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, lamentou o assassinato. Segundo Mércio, Apoena estava numa missão junto aos índios Cinta-Larga para lhes comunicar a decisão do governo federal em fechar o garimpo e de buscar uma nova legislação que estabelecesse uma racionalidade no processo de mineração na região, rica em minerais como cassiterita, ouro e diamantes.

O presidente da Funai acredita que as investigações das polícias Militar e Federal possam descobrir o real motivo do assassinato, revelando se foi uma fatalidade ou mesmo um crime encomendado.

O assessor da Funai, Vitorino Nascimento, disse que a notícia foi recebida com tristeza e revolta. "Apoena era muito querido em todo Estado, porque ele e o pai (Chico Meireles) foram dois desbravadores da região. Para os índios é uma perda muito dolorosa", disse.

O assessor da Funai afirmou que a polícia já fez um retrato falado do assaltante e, junto com a Polícia Federal, estão à procura do assassino. As câmeras de vídeo internas do banco serão utilizadas para descobrir a identidade do criminoso, que fugiu de bicicleta. "Três equipes estão trabalhando e monitorando alguns suspeitos, mas ainda não tivemos a identificação do fugitivo", informou.

O assessor informou que o corpo já passou por uma autópsia no Instituto Médico Legal (IML).

Histórico O sertanista, Apoena Meirelles, 55, era filho do também sertanista Francisco Meirelles. Ele nasceu numa aldeia Xavante em Pimentel Barbosa (MT) e desde cedo acompanhava o pai nas frentes de trabalho nas aldeias. Seu nome Apoena foi uma homenagem a um famoso líder Xavante.

Apoena tinha 17 anos quando fez contato, pela primeira vez, com os índios cintas-largas junto com seu pai, em 1967. Autor de um projeto de descentralização da Funai, ocupou a presidência da fundação durante o período de novembro de 1985 a maio de 1986.

Apoena esteve com dezenas de outros povos indígenas no Brasil e havia se aposentado na Funai, mas foi convidado a voltar ao trabalho e ocupava o cargo de Coordenador Regional da Região de Rondônia, onde possuía contatos com os povos Uruí, Soro e, especificamente, os Cintas-Larga de Rondônia e da reserva de Apurinã, que fica no Mato Grosso.




Fonte: Terra

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