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Segunda - 20 de Setembro de 2004 às 11:21

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Há nove anos, em um bairro da periferia de Natal, um garoto pobre decidiu que não seria mais refém da cadeira de rodas a que uma paralisia cerebral de nascença o havia condenado. Iria lutar. Usaria como arma a natação. Neste domingo à tarde, em Atenas, Clodoaldo Francisco da Silva recebeu sua maior recompensa: ganhou o ouro nos 100 m livre (categoria S4, um nível intermediário de limitação de uma escala que vai de 1 a 10) -- o primeiro do Brasil na Paraolimpíada de Atenas. Hoje, segunda-feira, Clodô nada os 50 m costas e é favorito para aumentar a coleção de medalhas olímpicas, que já tem três de prata e uma de bronze, de Sydney/2000.

O ouro de Clodoaldo era mais do que esperado. Detentor da melhor marca mundial da prova (1min22s05), bateu o próprio recorde pela manhã, na prova de classificação, cravando 1min19s36. A expectativa era saber se faria marca melhor ainda quando caísse na piscina do Parque Aquático no período da tarde. O tempo de 1min19s51 foi suficiente para conquistar a medalha e ir para o ponto mais algo do pódio paraolímpico. "Olha, rapaz, eu fiquei sonhando tanto tempo com esse momento que na hora nem acreditei. Puxa, cheguei aqui, então quero ir mais longe ainda. Nesta segunda-feira será outro dia. Tenho de esquecer o que aconteceu para tentar outras medalhas", disse Clodoaldo, assim que deixou o pódio e foi descansar na Vila Olímpica.

E Clodoaldo precisará mesmo de fôlego de gato. Além dos 50 m costas hoje, terá pela frente os 50 e 200 m livre, os revezamentos 4X50 e 4X100 m livre e os 150 e 4X50 m medley. O plano é faturar oito de ouro. "Queria botar um tempo melhor na prova do ouro. Não deu. Acho que o nervosismo e a ansiedade da estréia me atrapalharam. Mas não tem problema. Vou firme para as outras provas individuais e também vou ajudar o pessoal no revezamento.

Missão cumprida

Na verdade, o objetivo mais difícil do dia, Clodoaldo já tinha alcançado pela manhã. Era bater o próprio recorde. Por isso, deu tudo e se desgastou. Na final dos 100 m livre saltou do bloco (foi o único; os demais, todos com limitações físicas como ele, largaram de dentro d’água) e nadou para o gasto, abrindo vantagem folgada sobre o japonês Yuji Hanada (prata) e o mexicano Richard Oribe (bronze).

Chamado pelos colegas de "Tubarão Paraolímpico" e de "Phelps Brasileiro", em alusão ao supercampeão olímpico norte-americano, Clodoaldo ri, se esquiva e evita polêmicas. Assim que saiu da água, dedicou o ouro ao técnico Carlos Paixão, que não pôde vir para Atenas, onde o nadador é orientado pelos técnicos do Comitê Paraolímpico.

Depois do ouro de Clodoaldo Silva foi a vez de Adriano Lima (200 m medley, classificação S6) e Gledson Soares (200 m medley, classificação S7) tentarem medalhas. Adriano foi último em sua prova e Gledson, o penúltimo.




Fonte: Agência Estado

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