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Internacional
Sábado - 04 de Setembro de 2004 às 14:32
Por: Oliver Bullough

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A morte de mais de 320 pessoas, incluindo crianças, pais e professores durante o sangrento desfecho do sequestro de 53 horas de uma escola atingiu praticamente todas as famílias da pequena cidade russa de Beslan.

Uma mistura de tristeza, raiva e incerteza pairava sobre a cidade de 30 mil habitantes após o fim do mais sangrento sequestro em décadas. Crianças feridas e seminuas desviavam de balas enquanto fugiam e forças de segurança invadiam a escola.

"Todos na cidade perderam alguém," disse Alan, em busca de notícias de sua irmã que estava na escola. "O que dizem na televisão é uma mentira. Pode haver 600 mortos."

Seus olhos estavam vermelhos devido à falta de sono no sábado, e ele piscava repetidamente para interromper as lágrimas. Alan caminhava entre a multidão de rostos pálidos e exaustos desesperados em busca de notícias de parentes e amigos.

Na cidade próxima de Vladikavkaz, centenas faziam fila do lado de fora do necrotério com a dura tarefa de identificar seus parentes. Dezenas de macas com cadáveres ocupavam a parte externa. A maioria eram crianças e mulheres, com os corpos nus cobertos com panos ou plásticos.

Os parentes acompanhados de enfermeiras percorriam fileiras de macas, segurando lenços ou máscaras de gazes no rosto para se proteger do cheiro forte dos cadáveres.

No principal hospital de Vladikavkaz, que vem tratando os ferimentos de balas e queimaduras entre as vítimas, o médico chefe, Uruzmag Dzhanyev, disse que 250 crianças estavam sendo tratadas.

"Muitas crianças, mesmo aquelas vivas, ficarão inválidas. Algumas não têm olhos," contou ele à Reuters.

Os parentes das vítimas foram tomados pela raiva com o silêncio de Moscou durante o sequestro e a visita relâmpago do presidente Vladimir Putin, no sábado.

"Putin veio aqui às quatro horas da manhã," disse Boris, cuja vizinha e toda a família desapareceram.

"Ele não viu ninguém e não conversou com ninguém. Ele só queria mostrar ao mundo como é jovem e bonito, mas ele não ajudou e não ajudará e não pode impedir que isso aconteça novamente."

"Sua visita foi um truque de publicidade," disse Zoya, que não conseguia achar sua sobrinha. "Eles deveriam ter feito de tudo para que nenhuma criança morresse. Mas não fizeram."




Fonte: Reuters

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