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Internacional
Quinta - 02 de Setembro de 2004 às 15:18

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A definição do Cinema como "arte da imagem em movimento" volta a ficar incompleta com uma nova tentativa de também acrescentar cheiros ao meio, que já passou por uma autêntica revolução com a introdução do som.

A cidade de Viena, que entrou para a História do Cinema graças ao diretor Carol Reed e o diálogo entre Orson Welles e Joseph Cotten na roda gigante do Prater em "O Terceiro Homem" (1949), quer renovar sua ligação com a sétima arte, desta vez de modo cheiroso.

A protagonista será a sala IMAX da capital austríaca. A partir de 2005, além de oferecer cinema em três dimensões, o local contará com um sistema controlado por computador que acompanhará as imagens com efeitos olfativos.

O gerente da IMAX em Viena, Alfred Gelbmann, descreveu a invenção dizendo que olfato permite "vivências absolutamente sensitivas e muito antigas".

O sistema oferece uma nova dimensão para o Cinema e foi desenvolvido pela Yellow Point, empresa pioneira em efeitos de última geração. Junto à introdução de cheiros, será usada uma nova tecnologia de alta definição, que deve melhorar a imagem. As inovações permitirão efeitos para fazer imagens como um dragão ou uma nave espacial, por exemplo, "saltar para fora" da projeção e "se aproximar" dos espectadores, afirmou Gelbmann.

Apesar do entusiasmo promocional dos inventores do sistema, a idéia de acompanhar a projeção de um filme com efeitos olfativos é antiga. Tanto que, daqui a dois anos, completará um século. Deixando de lado o costume arcaico de borrifar fragrâncias durante as peças nos teatros ingleses, a primeira tentativa de unir Cinema e olfato aconteceu em 1906 na sala Family de Forest City, na Pensilvânia (EUA).

Os gerentes do local umedeceram bolas de algodão com água de rosas e colocaram-nas sobre um ventilador enquanto era projetado um cinejornal sobre o Torneio das Rosas, festa tradicional que inclui uma competição esportiva.

No entanto, a honra de ser o primeiro filme de ficção "olfativo" é do romance "Lilac Time" (1928), de George Fitzmaurice. No filme, as andanças do jovem Gary Cooper eram acompanhadas por um sistema de ventiladores que respingava essências "ilustrando" as imagens na tela.

No entanto, o sistema de "trilha cheirosa" não dissolvia as essências com a mesma eficácia que propagava, o que obrigou a retirar as pessoas das salas, pela atmosfera asfixiante gerada. Além disso, naquela época o mundo do Cinema estava imerso em outra revolução: o som. O sucesso do musical "O Cantor de Jazz" (1927) havia demonstrado que o espectador queria ouvir os atores, além de vê-los. A revolução seguinte para o Cinema viria de fora, e em forma de concorrência: a televisão, cuja popularização nos anos 1950 disparou os alarmes nos grandes estúdios.

A ânsia por tirar o público do sofá e levá-lo ao cinema -esforço que permanece hoje, com o auge do DVD- levou à invenção de vários tipos de sistemas para aumentar a espetacularização da imagem. Cinemascope, Panavision, 3-D e som Sensurround eram novidades dessa época. A onda de inovações ressuscitou a idéia da "trilha cheirosa" e deu origem ao Aroma-Rama, inventado por Charles Weiss para espalhar aromas pelo ar-condicionado. O exemplo mais ilustre desta técnica foi o documentário "La Muraglia Cinese" (1958), de Carlo Lizzani, durante o qual eram exaladas até 72 fragrâncias. Um sistema da mesma época foi o Smell-O-Vision, baseado em um rotor munido de ampolas com essências. O sistema foi idealizado originalmente para a superprodução "A Volta ao Mundo em 80 Dias". O maior representante do Smell-O-Vision foi "Scent of Mistery" (1960), de Jack Cardiff, filme de mistério sobre uma conspiração para assassinar um estudante americano na Espanha. O filme foi anunciado com um slogan eloqüente que resumia a evolução do cinema: "Primeiro eles se movimentaram! (1895) Depois falaram! (1927) Agora cheiram!".

Mas, apesar desse otimismo, o sistema fracassou, por motivos similares aos dos antecedentes: a difusão dos cheiros não chegava de modo uniforme a todos os espectadores. E, depois de várias projeções, mais do que cheirar, a sala estava impregnada.

Assim, a "trilha cheirosa" voltou a desaparecer. Até que, em 1981, o diretor kitsch John Waters voltou a utilizá-la em "Polyester".

O filme incluía o sistema Odorama. Cada espectador recebia na entrada um cartão com pedacinhos numeradas. Durante a projeção, apareciam números num canto da tela e o espectador, raspando sobre o número correspondente no cartão, sentia o cheiro correspondente.

O lado ruim é que Waters não é famoso por seu refinamento, e os cheiros de "Polyester" eram de vômitos, peixes podres e aromas do mesmo gênero.

Um dos filmes mais famosos do diretor é "Pink Flamingos" no qual Divine, o travesti mais obeso da história do cinema, come excrementos de cachorro.

Experiência similar foi feita no desenho animado "Os Rugrats e os Thornberrys vão aprontar" (2003), que recorria ao Odorama para oferecer o público a sensação do chulé de pés suados e outras "delicadezas".

Como sentenciou o pouco diplomático Waters sobre sua invenção: "Vi o público do meu filme pagar para cheirar fezes".




Fonte: Uol

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