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Sexta - 06 de Agosto de 2004 às 20:20
Por: Lana Cristina

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O custo da coleta de lixo seletiva em qualquer cidade é três vezes maior sem o trabalho de catadores de material reaproveitável. A constatação é do professor José Aparecido Gonçalves, que defende a importância econômica do serviço prestado por esses trabalhadores em 67% dos municípios brasileiros. Representante do Fórum Nacional de Estudos sobre População de Rua e do Fórum Estadual Lixo e Cidadania de Minas Gerais, Gonçalves participou hoje do "Sexta Com Ciência", evento promovido quinzenalmente pela Secretaria de Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Para Gonçalves, que é historiador e tem formação em filosofia, a história mostra também os valores social e ambiental do trabalho dos catadores, que contribuem para reduzir o volume de materiais de demorada decomposição nos lixões. Ele acredita que a ciência e a tecnologia podem gerar inclusão social para o segmento em duas frentes: produzindo tecnologia de industrialização do material coletado, bem como metodologia de trabalho mais racional, e ainda colaborando para acabar com os atravessadores que vendem o material para indústria recicladora. "Isso reduz o ganho deles. A tecnologia tem que dar condições para os catadores dominarem toda a cadeia produtiva do lixo: catação, triagem e industrialização", disse.

Gonçalves apresentou dados sobre a sustentabilidade do modelo de catação de lixo, a partir do exemplo da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte (Asmare), entidade com a qual trabalha diretamente e apóia. Segundo ele, a coleta seletiva na capital mineira, baseada no modelo tradicional, tem o custo de R$ 1,2 mil a tonelada. O mesmo serviço feito pelos catadores custa R$ 138.

"O modelo é sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental. A ciência e a tecnologia podem reforçar, dessa forma, o protagonismo desses trabalhadores, acabar com o estigma de miseráveis que os persegue, e considerar o segmento, qualificando-o de maneira adequada", sugeriu. Para José Aparecido Gonçalves, é preciso considerar o "saber" dos catadores na hora de gerar tecnologias para o setor.

Colaborar para o fim da marginalização da categoria, aliás, é uma dívida que o Estado tem para com os catadores, na visão do professor e historiador mineiro. "Até porque o estado tem uma dívida econômica com esses trabalhadores que vivem do lixo. Eles retiram mais de 30% do volume de lixo que deveria ser coletado pelo sistema de limpeza pública, e geram economia com pessoal, equipamento, só para citar dois pontos e não recebem nada por isso", exemplificou.

O Brasil produz diariamente algo entre 125 mil e 134 mil toneladas de lixo. Há gente trabalhando com a catação de materiais reaproveitáveis como plástico, papel e papelão, entre outros, em pelo menos 67% dos municípios. Segundo Gonçalves, todos os estados brasileiros têm hoje alguma organização de catadores. Esse tipo de trabalho começou a se organizar no país há cerca de 50 anos, quando os catadores eram ainda mais estigmatizados e marginalizados pela sociedade. Hoje, eles são cerca de 500 mil catadores, segundo estimativas não-oficiais e buscam ser contabilizados e identificados nas pesquisas estatísticas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).




Fonte: Agência Brasil

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