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Sexta - 23 de Julho de 2004 às 18:38

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A organização não-governamental Greenpeace teme que os sojicultores mato-grossenses que plantam soja convencional (também chamada orgânica) sejam prejudicados com o avanço das lavouras transgênicas, a exemplo do que está acontecendo, segundo os ambientalistas, no Rio Grande do Sul. A situação dos produtores gaúchos foi denunciada ontem na SBPC com a divulgação do dossiê “Soja Transgênica: Contaminação e Royalties”.

Além dos danos ao meio ambiente e do risco ao consumidor, o Greenpeace também alertou para o risco econômico implícito no plantio de transgênicos. “Brasil, Estados Unidos e Argentina são os maiores produtores mundiais de soja. Mas o Brasil é o único que pode suprir a demanda de soja convencional”, afirmou o engenheiro Ventura Barbeiro, da Companhia de Engenharia Genética do Greenpeace.

Na apresentação do dossiê, foi divulgado um vídeo com entrevistas de pequenos produtores do Rio Grande do Sul. As entrevistas denunciam que as lavouras convencionais têm sido alvo de duas formas de contaminação: a química e a genética. “A soja pode ser contaminada antes, durante e depois da colheita”, informou o agrônomo.

De acordo com dados da ong, cerca de 8% da produção de soja brasileira é transgênica, a maioria vinda de fazendas gaúchas. O Rio Grande do Sul colheu oito milhões de toneladas na safra passada. A estimativa é de 40% desse total seja transgênico.

A contaminação química tem acontecido pelo contato do glifosato por meio da pulverização aérea. Esse tipo de agrotóxico é usado apenas em lavouras transgênicas. Porém, quando os aviões agrícolas pulverizam o defensivo, algumas gotículas ficam em suspensão no ar, atingem áreas vizinhas e prejudicam produtores de soja orgânica. Foi o que aconteceu com o agricultor gaúcho Luís Antônio Schio, que esteve na coletiva. Ele relatou que perdeu cerca de 70% da produção por contaminação com glifosato.

Outra situação é a contaminação genética, que acontece principalmente pela proximidade entre as propriedades rurais e uso comum de equipamentos. O aluguel de máquinas acontece com mais frequência em áreas de pequenas propriedades. Um exemplo é quando uma colheitadeira recolhe soja transgênica, descarrega os grãos mas ainda fica com alguns. A máquina não é limpa corretamente e alguns grãos acabam se misturando a grãos convencionais na próxima colheita.

Segundo o Greenpeace, a contaminação genética também acontece na divisa entre fazendas. A polinização da soja atinge um raio de até seis metros e pode ultrapassar as cercas. Se houver vento, a possibilidade desse contato é ainda maior.

Os produtores acabam descobrindo a contaminação na hora de vender a colheita, com os testes. O teste mais simples detecta a contaminação em qualquer nível. Caso o resultado seja positivo, o agricultor é obrigado a vender a produção por valores mais baratos. Mas o principal problema denunciado pela ong é o pagamento dos royalties da empresa que possui a patente da semente transgênica.

No Rio Grande do Sul, o royaltie cobrado é de R$ 1,20 por saca. Porém, segundo o Greenpeace, um acordo entre a empresa e a Federação dos Produtores estabeleceu um desconto de 50% nesse ano para o produtor que tiver declarado o plantio de transgênicos. Caso contrário, o sojicultor que tiver resultados positivos em testes de transgenia tem que pagar o valor integral (R$ 1,20), uma multa de R$ 0,30 por saca e pode responder a um processo por violação da propriedade intelectual.

Segundo relatou o agrônomo, para minimizar o risco de contaminação nas divisas com outra fazenda, os produtores gaúchos fazem a colheita das bordas da lavoura e vendem a soja colhida como transgênica, ou seja, por um valor menor. “Eles (produtores) estão arcando com os custos de limpeza do maquinário”, denuncia o agrônomo do Greenpeace.




Fonte: Diário de Cuiabá

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