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Internacional
Sábado - 10 de Julho de 2004 às 13:49

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A sociedade russa mostrou-se hoje comovida pelo assassinato realizado ontem à noite do jornalista americano Paul Klebnikov, diretor da edição russa da revista Forbes, que averiguava a procedência das maiores e mais obscuras fortunas da Rússia. "O que Klebnikov fazia era pisar em campo minado. Investigar os patrimônios e a atividade de nossos magnatas é uma profissão muito perigosa", afirmou o secretário-geral da União de Jornalistas da Rússia, Igor Yakovenko.

Na verdade, a edição russa da Forbes liderada pelo jornalista assassinado estreou em maio com uma lista sensacional dos donos das cem maiores fortunas da Rússia, pessoas que controlam um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) deste país. O jornalista americano de origem russa Paul Klebnikov, de 41 anos e autor de um livro sobre o controvertido "oligarca" russo Borís Berezovski, foi morto a tiros em Moscou às 22h.

Klebnikov acabava de deixar seu escritório no norte de Moscou, quando foi atingido por quatro disparos feitos de um automóvel de cor escura e morreu devido aos ferimentos provocados pelas balas enquanto era levado ao hospital. Já ferido de morte, o jornalista disse a um colega, Alexandr Gordéyev, que não sabia quem nem porque tinha sido atacado e que não tinha detectado "nada suspeito" que indicasse a existência de uma ameaça.

A polícia encontrou no lugar do tiroteio uma dezena de cápsulas de distintos calibres, o que indica que havia dois assassinos. Ela considera que se trata de um "assassinato por encomenda" provavelmente muito vinculado à atividade profissional da vítima.

Filho de russos que fugiram da revolução bolchevique de 1917 para os Estados Unidos e nascido em 1963 em Nova York, Klebnikov formou-se em jornalismo na Universidade de Berkeley, Califórnia, prosseguiu seus estudos na Escola de Economia de Londres e se doutorou em 1991.

Em 1989, começou a colaborar para a revista Forbes, especializada em assuntos da Rússia e do Europa do Leste e, em abril, passou a ocupar o cargo de diretor de sua versão em russo, em Moscou.

Klebnikov ficou famoso por seu livro Godfather of the Kremlin: The Decline of Russia in the Age of Gangster Capitalism, biografia do empresário e financeiro Borís Berezovski, considerado o conselheiro do anterior presidente russo, Borís Yeltsin, e quem, em 2000, ajudou a elevar o atual, Vladimir Putin, embora depois tenha caído em desgraça. O deputado e ex-presidente do Serviço Federal de Segurança russo (FSB, ex-KGB) Nikolái Kavaliov não duvidou hoje em assinalar Berezovski como a pessoa mais prejudicada pelo livro de Klebnikov.

O próprio magnata, refugiado das iras do Kremlin na Grã-Bretanha, onde recebeu asilo político, lembrou que ele tinha ganhado um pleito de Klebnikov por difamação e disse que, em suas publicações, este "manipulava os fatos a seu desejo, o que, pelo visto, irritou alguém". O jornalista também tinha escrito um livro em que relatou seus diálogos com o chefe guerrilheiro checheno Hozh Ahmed Nujáyev.

O editor da Forbes e da Newsweek em russo, Leonid Bershidski, disse hoje à rádio Eco de Moscou que o assassinato de Klebnikov "se deve sem dúvida a sua atividade profissional", mas opinou que se trata de algum velho rancor, pois o jornalista estava agoniado por assuntos administrativos e há meses não fazia investigações. "Pode ser que se trate de uma advertência. É possível que algum indivíduo não goste do próprio projeto Forbes", disse Bershidski sobre a revista, criticada nos círculos de poder e nos ambientes menos liberais da Rússia pela minuciosidade de suas investigações.

Segundo lembrou a Eco de Moscou, Klebnikov, em uma recente entrevista, admitiu ter recebido ameaças de alguns magnatas molestados pela menção de suas fortunas na Forbes.




Fonte: Agência EFE

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