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Internacional
Quarta - 07 de Julho de 2004 às 11:27
Por: Por Hernán Di Bello

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Com 191 anos de atraso, foi inaugurada nesta terça-feira no extremo norte da Argentina uma das escolas que o herói da independência Manuel Belgrano pretendia que fossem construídas com o dinheiro que doou no começo do século XIX.

As obras no colégio "Legado Belgraniano" foram financiadas pela província de Jujuy, já que os sucessivos governos centrais nunca repassaram os 40.000 pesos "fortes", equivalentes a 80 quilos de ouro, que o prócer doou para este fim em 1813.

"Para nós é um orgulho poder acabar com esta dívida histórica e honrar a memória de um personagem caracterizado pelo desprendimento e pela humildade", disse à EFE Alejandra Rivas, assessora de imprensa do governo de Jujuy.

O ministro argentino da Educação, Daniel Filmus, comandou a cerimônia de inauguração da escola que, quando as obras estiverem concluídas, terá capacidade para cerca de 900 alunos do jardim de infância e do ensino primário.

O governador de Jujuy, Eduardo Fellner, autoridades nacionais, locais e a comunidade do bairro humilde da capital provincial onde foi construída a escola, 1.540 quilômetros ao norte de Buenos Aires, também participaram do evento.

Belgrano tinha recebido o dinheiro como prêmio pelo triunfo dos exércitos que sob seu comando venceram duas grandes batalhas contra os espanhóis na luta pela independência da Argentina e decidiu doar para a construção de quatro escolas públicas.

Antes de morrer pobre em 20 de junho de 1820, definiu que os colégios deveriam ser erguidos onde hoje são as províncias argentinas de Jujuy, Tucumán e Santiago del Estero e o departamento boliviano de Tarija.

Nascido em 1770 em Buenos Aires, estudou direito nas universidades espanholas de Salamanca e Valladolid, para depois se se dedicar à paixão pela política e economia, com uma carreira militar que nunca o entusiasmou muito.

As facetas mais conhecidas do general Belgrano são seu protagonismo na Revolução de Maio de 1810, antecedente da independência argentina, e a criação dois anos depois da bandeira celeste e branca que ainda hoje identifica este país.

"Jujuy foi a primeira província que cumpriu com seu legado, já que em 1813 e sem esperar fundos nacionais construiu a primeira escola, que pelas constantes guerras da época, foi fechada em 1815", disse Rivas.

A funcionária assegurou que, desde então, os fundos doados por Belgrano se perderam em complexas administrações burocráticas e freqüentes crises econômicas.

Na cidade de Tarija (sul da Bolívia), a "Unidade Educativa Geral Manuel Belgrano" foi construída com dinheiro argentino e abriu as portas em 1974, se transformando "numa das mais importantes da região, com quase 3.500 alunos", explicou Rivas.

Acrescentou que a espera na Argentina durou até 1998, quando após várias idas e vindas foi inaugurada em Tucumán a "Escola da Pátria", da forma como Belgrano ordenou que fossem chamadas as instituições, onde atualmente estudam aproxiamdamente 2.500 crianças.

"Nesse mesmo ano foi aberta uma licitação para construir a de Santiago del Estero, mas acreditamos que as obras nunca foram concluídas", disse Rivas, que pesquisou durante anos o chamado "legado belgraniano".

Na inauguração de ontem, presenciada por representantes das escolas de Tarija e Tucumán, foi destacado o perfil de educador de Belgrano, que também colaborou na fundação do primeiro jornal argentino, em 1801.

Na biografia escrita pelo historiador Felipe Pigna sobre o herói da independência, o autor mostra que Belgrano redigiu um moderno regulamento para as escolas. Em seu artigo primeiro diz que "o professor deve ser bem remunerado, por sua tarefa ser uma das mais importantes exercidas".

De acordo com um cálculo de Pigna, tomando a atual cotação do ouro, os 40.000 pesos "fortes" que Belgrano recebeu em 1813 equivalem atualmente a cerca de quatro milhões de pesos (1,3 milhões de dólares).

"Usando uma humilde taxa de 5 por cento anuais, que era fixada na época até que as escolas fossem construídas, e somando o capital e os juros destes 191 anos, o resultado final chega aos astronômicos 133.121.281.257.438 de pesos", o que no câmbio atual representa quase 45 trilhões de dólares.




Fonte: Agência EFE

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