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Internacional
Segunda - 05 de Julho de 2004 às 15:45

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Uma rede de parentes do ex-ditador Saddam Hussein --operando em parte da Síria e da Jordânia-- está envolvida ativamente no contrabando de armas, pessoas e dinheiro para o Iraque para apoiar o levante antiamericano no país, disseram oficiais do governo dos EUA e um ex-membro do Conselho de Governo Iraquiano, citados na edição desta segunda-feira do "New York Times".

Segundo as informações obtidas pelo jornal, as operações envolvem ao menos três primos da família Majid [de Saddam], que vivem agora na Síria e na Europa. Um dos líderes da rede seria Fatiq Suleiman al Majid, um primo de Saddam e antigo oficial da Organização de Segurança Especial iraquiana, que fugiu do Iraque para a Síria --onde ainda pode estar.

Os oficiais americanos, cujos nomes não foram divulgados pelo "NYT", afirmaram ao jornal que a identificação da 'rede' --supostamente formada por parentes de Saddam que ajudam a financiar a insurgência-- surgiu recentemente. De acordo com eles, a informação está descrita em relatórios da inteligência dos EUA.

As fontes afirmaram também que a conclusão é baseada em recentes movimentações suspeitas de dinheiro e mercadorias, incluindo transferência de valores para a Síria, que foram detectadas pela inteligência americana.

Apesar disso, segundo o jornal, os oficiais militares e da inteligência têm conhecimento de que uma parte significativa da resistência é proveniente de iraquianos que não têm ligações com o antigo governo de Saddam.

Laços de família

A família de Saddam tem uma longa história de casamentos com o clã dos Majid [o nome completo do ex-ditador é Saddam Hussein al Majid al Tikriti]. Sob seu governo, a família Majid era uma ramificação temida da tribo dominante dos Tikriti.

Seus membros ocupavam cargos importantes nas operações do dia-a-dia do sistema de segurança do país, como guarda-costas e chefes da polícia secreta. Agora, os primos que vivem fora do Iraque têm acesso a dezenas de milhares de dólares, grande parte derivada do contrabando de petróleo, equipamento militar e outras mercadorias para dentro e para fora do Iraque, quando o país era governado por Saddam, informam as fontes ao jornal.

Segundo os oficiais americanos, Fatiq al Majid, que deve ter cerca de 30 anos e é descrito como "o principal homem do dinheiro" na operação, tem vivido na Síria com o conhecimento das autoridades daquele país.

Além de ser primo de Saddam, ele é cunhado de Qusay, filho do ex-ditador morto em 22 de julho de 2003 pelas forças dos EUA, e sobrinho de Ali Hassan al Majid, o general que se tornou conhecido como Ali, o Químico por envenenar milhares de curdos nos anos 80.

Mais primos

O iraquiano que forneceu informações sobre a rede de apoio ao levante, Samir Shaker Mahmoud al Sumeidi, era um membro do Conselho de Governo Iraquiano. Ele serviu brevemente durante a primavera como ministro do Interior e era responsável pela segurança. Al Sumeidi descreveu recentemente outro Majid, Izzadin, como o responsável por "financiar uma série de atividades de rebeldes".

As declarações de Al Sumeidi, que apareceram no último mês em Washington, foram a primeira referência pública às preocupações sobre as funções executadas pela família Majid.

Em resposta a investigações sobre as declarações de Al Sumeidi, os oficiais americanos confirmaram que os relatórios da inteligência continham informações ligando Izzadin al Majid, Fatiq al Majid, e ao menos um outro membro da família --junto com outros sócios-- a operações de apoio à insurgência iraquiana.

Segundo o "NYT", os oficiais americanos se negaram a falar publicamente sobre estas informações porque os relatórios em que elas são citadas são confidenciais.

Em 1995, Izzadin al Majid, então um major da Guarda Republicana, fugiu do Iraque com um grupo de pessoas que incluía seu primo Hussein Kamel al Majid, genro de Saddam que chefiou o programa de mísseis e armamento nuclear, biológico e químico iraquiano por dez anos.

Kamel e seu irmão, que também fugiu, retornaram ao Iraque em 1996 e foram mortos, deixando Izzadin al Majid no controle de uma grande porção dos bens da família, informaram os americanos. Izzadin pediu asilo ao Reino Unido em 2000, e desde então mantém uma casa em Leeds, no norte do país.

Segundo um oficial da inteligência dos EUA, o envolvimento de Izzadin --após deixar o Iraque-- em operações de contrabando que envolvem membros do governo de Saddam sugerem que ele manteve ligações próximas no Reino Unido.




Fonte: Folha Online

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