Relator da ONU vincula empresa dos EUA à fome de palestinos

O relator da ONU sobre o Direito a Alimentação, Jean Ziegler, pediu explicações a uma empresa americana que vende escavadeiras a Israel por sua eventual cumplicidade na violação dos direitos humanos, já que suas máquinas contribuem para aumentar a fome entre os palestinos.

Em carta enviada ao presidente da firma americana Caterpillar, James Owens, o relator da Comissão dos Direitos Humanos da ONU mostra sua "profunda preocupação pelas ações das forças de ocupação israelense" em Rafah e outras localidades de Gaza e Cisjordânia.

Nessas zonas, as forças israelenses "utilizam blindados fornecidos por sua companhia para destruir fazendas, estufas, velhas oliveiras e todo tipo de plantações, assim como casas de palestinos e em algumas ocasiões vidas humanas, como a da pacifista Rachel Corrie", denuncia Ziegler na carta enviada no final de maio.

O sociólogo suíço expressa também sua inquietação, tendo em vista que "essas ações, e o conseqüente aumento do número de pessoas sem casa e da perda de vidas humanas entre a população palestina, podem agravar ainda mais as já precárias condições de vida dos palestinos, inclusive o acesso a alimentos".

O relator da Comissão da ONU, que visitou no ano passado os território ocupados, lembra na carta que "mais de 50 por cento dos palestinos dependem amplamente da ajuda alimentícia".

Além disso, ele ressalta que, segundo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) das Nações Unidas, "desde julho do ano passado a insegurança alimentar é uma realidade para 40 por cento da população" palestina e que "os outros 30 por cento se encontram ameaçados se continuarem as atuais condições".

Ziegler aponta que, embora sejam os Estados os comprometidos com os acordos internacionais sobre direitos humanos, todos os membros da sociedade, inclusive as empresas, "têm responsabilidade no direito a uma alimentação adequada" no mundo.

Por isso, o relator da ONU manifesta ao presidente da Caterpillar sua preocupação. "A entrega dos blindados ao exército israelense através do governo dos Estados Unidos e o conhecimento usado para tais ações podem significar cumplicidade ou aceitação de sua parte ou da companhia em efetivas ou potenciais violações dos direitos humanos, incluindo o direito à alimentação".