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Internacional
Quinta - 10 de Junho de 2004 às 11:59

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Tóquio - Baiacu sempre foi uma iguaria para os corajosos: a cada ano, no Japão, algumas pessoas morrem envenenadas ao comê-lo. Agora, cientistas puseram os peixes numa dieta especial e chegaram a uma versão que tem o mesmo sabor, sem suas conseqüências letais.

“É bom e suave”, transborda em elogios Osami Arakawa, o biólogo marinho que chefiou o projeto da Universidade de Nagasaki. “Como sashimi, ele deve ser mergulhado num molho de soja condimentado com limão.”

Comer baiacu – conhecido no Japão como fugu - nem sempre foi tão tranqüilo. O poderoso veneno que é a tetrodoxina encontra-se em seu ovários, fígado e intestinos, e só chefs especialmente licenciados eram qualificados para preparar o peixe para consumo humano.

Não obstante, o fugu continuava um alimento para poucos. Três japoneses morreram em 2003, de envenenamento, depois de preparar o baiacu em casa, de acordo com números oficiais.

Os pesquisadores de Nagasaki, no sul do Japão, estão superando esse obstáculo potencialmente mortal ao examinar a dieta do peixe.

“Acreditamos que o baiacu adquire o veneno ao consumir alimentos tóxicos, como estrelas do mar e moluscos, e não produzindo-o ele mesmo. Assim, passamos a alimentá-los com comida não tóxica”, explica Arakawa.

Ele e sua equipe mantiveram cerca de 5.000 fugu em um regime severo de cavalas e outros frutos do mar saudáveis, em sete locais, ao longo da costa japonesa, de 2001 a 2003. Também criaram seus espécimes em no mínimo 10 metros abaixo da água ou em tanques purificados para minimizar sua exposição a toxinas.

Arakawa diz que funcionou. Por dois anos, o grupo examinou os peixes todos os meses e todos testaram negativo para a tetrodoxina.

O baiacu ainda não está em produção de escala para o comércio, mas já está causando comoção.

A indústria do turismo está pronta para promover o novo fugu. Um resort perto de Nagasaki está tentando obter uma permissão especial do governo para que seus hotéis e restaurantes possam servir o fígado – normalmente, a parte mais letal do peixe.

Mas as autoridades da saúde pública do Japão estão cautelosas.

“A descoberta é uma grande conquista científica, mas não significa que possa garantir imediatamente peixe seguro”, diz Masanori Imagawa, funcionário do Ministério da Saúde. “Quando se trata de fugu, não se pode dar ao luxo de qualquer erro.”

O peixe pode atrair gastrônomos que há muito esperam para experimentar o fugu, mas temem seu veneno. Sua carne é firme e leve quando servida crua, como sashimi, e suculenta quando cozida em ensopados.

Mas alguns fãs do baiacu ficarão decepcionados. Para muitos, brincar com a morte é parte da fascinação do prato e alguns gastrônomos chegam ao ponto de regalar-se com o fígado – embora não até que o veneno seja retirado.

Takeshi Yamasuge, proprietário de um restaurante especializado em fugu de Tóquio, ri ironicamente quando perguntado sobre o peixe sem veneno. Ele assegura que seus clientes preferem o peixe verdadeiro, a despeito do preço que pode chegar a 25.000 ienes (US$ 230) o quilo.

“Fugu não tóxico é chato”, declara. “O fugu é excitante porque é tóxico.”




Fonte: Agência Estado

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