Impasses territoriais indígenas interferem na educação dos jovens das tribos
As invasões e desapropriações de áreas indígenas são problemas que vão além de normas burocráticas territoriais. Poucos se lembram que a segurança e estabilidade nessas áreas também são fundamentais para que os índios possam educar as crianças. Para a professora e doutora pela UFMT, Beleni Brando, os índios precisam se enraizar nas terras para ensinar as tradições da tribo aos mais jovens. Conforme ela, o cultivo da roça, ornamentos, rituais e alimentações típicas são o que tornam essa conexão possível.
“Quando os índios vivem em situação de conflito com os fazendeiros e demais não indígenas - que lhes roubam o direito de viver em suas terras tradicionais - a educação das crianças e dos mais jovens fica prejudicada pela tensão, pela violência simbólica permanente, pela falta de alimento, de atendimento à saúde, entre outros problemas”, destaca a educadora. Como exemplos, ela cita os casos dos Chiquitanos do Brasil, da Aldeia Vila Nova-Barbech, e dos Xavantes, que tiveram as terras devolvidas em 1992, na região do Araguaia, mas que, desde então, foram invadidas por políticos e fazendeiros locais.
Se há uma sociedade ciente da importância da educação dos mais jovens é a nativa, que educa pela tradição, pelos valores recebidos dos ancestrais e pelo respeito ao novo membro da família desde antes do seu nascimento. “Os povos indígenas, ou ameríndios do Brasil, são extremamente cuidadosos com a educação. Tanto que muitas lutas são feitas de forma não violenta para preservar a vida e ensinar a tolerância e o respeito a todos”, explica Beleni.
Para reverter este quadro, desde 1997, Mato Grosso iniciou a formação de professores indígenas e, atualmente, a maioria das aldeias são atendidas por escolas estaduais com um quadro docente e gestor da própria comunidade indígena. O Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena é gestado por índios, todos eleitos e composto com professores de diversas etnias, formados em nível superior com pós-graduação.
“Se a escola fica na aldeia a tranquilidade e os processos de aprendizagem são mais qualitativos, mas há, ainda, muito o que melhorar na educação indígena no Brasil. Só a segurança garantirá aos indígenas a luta por melhorias no atendimento aos direitos de cidadãos, como a escola em cada aldeia, com projeto específico, conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira", finaliza.
O tema será um dos tópicos discutidos no Seminário de Educação (Semiedu 2012), evento organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e o Instituto de Educação da UFMT, entre 4 e 7 de novembro. O evento pretende discutir a visibilidade social, cívica e científica das crianças e trará a questão no Eixo “A criança indígena”.
“O Semiedu, em todos os seus eixos, será a oportunidade de apresentação de trabalhos como resultados de estudos e pesquisas sobre essa etologia lúdica que carrega a criança desde o ventre materno. Podemos dizer, a partir de uma especulação da psicologia genética que afirma encontrar nos seres humanos e animais informações à disposição de uma natureza brincante desses seres”, ressalta o professor Cleomar Ferreira Gomes, um dos organizadores do evento, ao lado da professora Daniela Freire, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Psicologia da Infância (GPPIN).
Parceiros
O seminário conta com apoio da Capes, Fapemat, CNPq, Curso de Especialização em Educação Infantil da UFMT, Secretarias de Educação e de Cultura do Estado de Mato Grosso (Seduc/SEC), Secretaria Municipal de Educação/Cuiabá (SME), Grupo de Pesquisa em Geografia da Infância da Universidade Federal Fluminense (Grupegi/UFF), Unemat, Conselho Regional de Psicologia (CRP18MT), Casa de Cultura Silva Freire, Centro Internacional de Estudo em Representações Sociais e Subjetividade-Educação (CIERS-ED) e Colégio Ibero-Americano (CIA). Mais sobre o evento em www.ie.ufmt.br/semiedu2012 .
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