Segundo as autoras, a pesquisa explica por que gorilas, por exemplo, que podem ser até três vezes maiores do que os humanos, têm o cérebro consideravelmente menores. Mesmo que passem mais de oito horas se alimentando, a dieta desses macacos influenciou uma troca evolucionária entre o corpo e o tamanho do cérebro - manter grandes corpos e cérebros seria impossível em uma dieta de comida crua.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, o cérebro é tão faminto por energia que em humanos isso representa 20% do metabolismo, mesmo que represente apenas 2% de massa corporal, sugerem as professoras Suzana Herculano Houzel e Karina Fonseca Azevedo, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Por que os maiores primatas não são dotados com cérebros maiores? Além da evidência de que humanos são uma exceção entre os primatas, consideramos essa disparidade como uma pista que, na evolução dos primatas, desenvolver um corpo e um cérebro muito grandes tem excluído estratégias, provavelmente por causa de razões metabólicas", afirmam.
Gorilas já vivem no limite da viabilidade, se alimentando por 8,8 horas ao dia, e em condições extremas aumentando o tempo para 10 horas diárias. Em contraste, a mudança dos humanos para uma dieta cozida, possivelmente a primeira adotada pelo Homo erectus e seus cérebros maiores e corpos menores, deixou energia de sobra - o que permitiu o crescimento rápido no tamanho do cérebro e a chance de desenvolver o órgão como recurso ao invés de compromisso, através da capacidade de cognição, flexibilidade e complexidade.
"Devemos nossa capacidade cognitiva à invenção do cozimento - que, no meu conhecimento, é de longe a mais fácil e mais óbvia resposta à pergunta "o que humanos podem fazer que nenhuma outra espécie faz?"", afirma Suzana.
Comentários