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Economia
Sexta - 28 de Maio de 2004 às 08:20
Por: Claudia Gurfinkel

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O produtor-executivo do departamento internacional da O2 Filmes, Luiz Braga, acredita que "as produtoras estrangeiras estão descobrindo o Brasil".

"Elas não buscam mais o futebol, o carnaval, a mulata, a praia ou a floresta. Elas vêm para cá pela diversidade étnica, pelo preço e pelas locações, que podem parecer qualquer lugar do mundo", afirma.

O Rio de Janeiro é o destino mais procurado, seguido por São Paulo. Mas as filmagens também costumam acontecer em Salvador, no Recife e na Amazônia, segundo os produtores entrevistados pela BBC Brasil.

Neve

“Já fizemos um comercial que mostra partes da Índia, do Japão e de Nova York, e tudo foi filmado no Rio”, diz Roberto Bakker, um dos sócios da Zohar, especializada em serviços de produção para empresas estrangeiras que filmam no Brasil. “Há pouco tempo também fizemos um comercial para a Pepsi, na Avenida Copacabana e em pleno verão, com o elenco vestindo casaco e com neve artificial, como se fosse nos Estados Unidos.”

João Roni Garcia, produtor-executivo e um dos sócios da Ocean, diz que produziu um comercial para a Alemanha em que representou Estocolmo, Dubai e Nova York em São Paulo. “Os custos eram bons, e eles escolheram o Brasil. Mas quem vê o comercial não vai saber que ele foi filmado aqui”, diz.



“De junho de 2003 a junho de 2004, teremos um aumento de 50% de produções estrangeiras”, diz Bakker, da Zohar. “Este ano já fiz filmes para Nova Zelândia, Austrália, pelo menos dez para Inglaterra, França, Estados Unidos, Itália, Holanda e Suécia. Estou há 24 anos no mercado, e nunca tínhamos sido procurados por países como Nova Zelândia e Austrália”, afirmou Bakker em entrevista à BBC Brasil.

Para que uma empresa estrangeira possa filmar no Brasil, é necessário que assine um contrato de prestação de serviços com uma produtora brasileira – que será a responsável pelos trâmites burocráticos, como emissão de vistos temporários de trabalho e recepção na alfândega – e que pelo menos um terço dos trabalhadores na filmagem seja brasileiro.

Mas o que atrai essas empresas estrangeiras para o Brasil? Os produtores não escondem que o principal motivo é o baixo custo.

“A produção chega a ficar até um terço mais barata”, diz Paul Rothwell, da produtora britânica Gorgeous, que esteve recentemente no Brasil produzindo comerciais.

“O câmbio favorece muito quem vem filmar aqui”, concorda João Roni, da Ocean, que só neste ano já fez seis comerciais para Alemanha e Inglaterra e calcula que as produções estrangeiras da empresa devem dobrar em 2004.

Para Eitan Rosenthal, um dos sócios da produtora Trattoria di Frame, “busca-se o Brasil pela variedade de locações, por melhores preços - a produção na Europa e nos Estados Unidos é muito cara - e pela variedade de elencos".

"E então o Brasil se torna um destino natural, porque é um país tropical, tem muito sol, uma variedade imensa de locações, pessoas de todas as raças. Ou seja, no Brasil dá para fazer um filme que simule qualquer lugar do mundo. Além disso, os técnicos brasileiros são bastante competentes. Então o Brasil reúne todas as condições para ser um pólo importante”.

Divulgação

Com a idéia de promover o Brasil como um destino privilegiado de locações, produtoras brasileiras associadas à Associação Brasileira das Produtoras de Audiovisual (Apro) fundaram, no fim de 2002, o projeto FilmBrazil.

“O projeto tem o objetivo de divulgar o Brasil no exterior e de melhorar as condições internamente, fazer com que o país esteja preparado para receber essas empresas estrangeiras”, diz Rosenthal, que atua como o presidente do Conselho da FilmBrazil.

Desde a criação, os participantes do projeto conseguiram que os vistos de trabalho temporário, que demoravam duas semanas para ficar prontos, começassem a ser emitidos em dois dias. Mas, segundo os organizadores, ainda há muito a ser feito, como facilitar a emissão de autorizações para filmagens em locais públicos e o processo de importação provisória de equipamentos.

“Mas o nosso principal objetivo no momento é formar uma film comission, que é um formato adotado no mundo todo”, diz Rosenthal. “Seria uma parceria entre os órgãos públicos e as entidades privadas, que cuidaria de assuntos internos, como emissão de vistos, trânsito de material e permissões de filmagem em locais públicos, além de criar esforços para a formação de mais técnicos habilitados, oferecer cursos de inglês e fazer com que o Brasil tenha uma infra-estrutura adequada para receber profissionais do exterior”, acrescenta.

Bakker acredita que a indústria estrangeira de propaganda esteja movimentando entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões por ano no Brasil. “E tende a crescer. Creio que daqui a uns três ou quatro anos deva movimentar de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões por ano”, diz ele.

Segundo Rosenthal, que participou recentemente de uma feira de film comissions na Califórnia, é impressionante o impacto que o filme Cidade de Deus teve na percepção do Brasil como um local onde se faz filmes de qualidade.

Imagem

Mas a maioria dos comerciais filmados no Brasil não faz referência ao país.

“Esses comerciais fazem com que a indústria cinematográfica veja o Brasil como um bom local de trabalho. Mas isso não melhora a imagem do Brasil como um todo, para o público em geral”, diz Sérgio Horovitz, da Proview.

“O público que assiste aos comerciais não sabe que eles foram feitos no Brasil. Principalmente para quem não conhece o país, é muito difícil identificá-lo nos filmes”, diz Rothwell, que filmou dois comerciais recentemente no país e em nenhum deles menciona o Brasil.

Um dos comerciais foi feito para a marca de videogame Playstation e filmado no Rio de Janeiro, segundo Rothwell, devido ao clima e principalmente ao custo, já que foram utilizados cerca de 150 figurantes. “Filmar na Europa teria sido muito caro”, diz.

Com tamanha procura, o Brasil entrou para o time de África do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, República Tcheca, Polônia e Hungria como um dos principais pólos de produção para publicidade do mundo.




Fonte: BBC Brasil

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