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Segunda - 10 de Maio de 2004 às 07:58
Por: Nelson Francisco

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Juína, MT – Relatório produzido em julho de 2002 pelo superintendente de Políticas Indígenas do Estado, Idevar José Sardinha, alertou o Governo Federal da grave situação pela qual os índios cinta-larga estavam sendo submetidos com a invasão da reserva indígena Roosevelt, localizada entre os municípios de Aripuanã, noroeste de Mato Grosso e Espigão D`oeste, nordeste de Rondônia.

O documento, que apontou a omissão do Governo Federal, já sinalizava uma tragédia mais que anunciada: índios foram aliciados por madeireiros, garimpeiros e seringueiros. Juntos, introduziram o alcoolismo e a prostituição, agravando ainda mais a situação cujo desfecho trágico recente foi a morte de 29 garimpeiros na Semana Santa. Mineração em terras indígenas é ilegal.

Além das mortes atribuídas aos índios, o local serviu também para a prática de crimes dos garimpeiros, madeireiros, contrabandistas e atravessadores tais como: evasão de divisas, sonegação de impostos, contrabando internacional e evasão fiscal, que causaram prejuízos ao Estado e à União.

Denominado “exploração e rapinagem dos recursos naturais”, o relatório de Sardinha já mostrava a necessidade de implantação de projetos de manejo para exploração dos recursos naturais. A renda com a venda dos produtos seria revertida exclusivamente para os índios. No entanto, a ausência de políticas públicas agravou ainda mais a situação e nada foi feito.

“A constante presença de garimpeiros e madeireiros nas terras indígenas cinta-larga e suruí vem gerando um clima permanente de insegurança no interior destas sociedades”, anotou o indigenista. “Os abusos ambientais são de ordem devastadora com a destruição de matas e a permanente poluição dos rios”, denunciou.

Nas áreas da nação cinta-larga, onde vivem aproximadamente 1,3 mil índios (eram cerca de 5 mil em 1968), dispersos em 25 aldeias e oito postos indígenas nas Terras Indígenas (TIs) Roosevelt, Parque Aripuanã, Aripuanã e Serra Morena, situadas na fronteira de Mato Grosso com Rondônia, está localizada a maior mina de diamantes do Brasil, além de muita madeira nobre cobiçada no mercado internacional, como mogno, entre outras espécies.

Por conta da cobiça dos recursos naturais do índios, indigenistas e historiadores são unânimes em afirmar que a história dos cinta-larga é marcada por confrontos desde os anos 1920, quando suas áreas começaram a ser invadidas pelos brancos.

Primeiro, foram borracheiros, seringueiros e depois vieram os madeireiros, que praticamente arrasaram com a floresta para retirar madeira nobre. Em 1999, com a descoberta da jazida de diamantes na reserva Roosevelt, chegaram os garimpeiros.

Com os madeireiros, deixou-se para trás um rastro de destruição e degradação ambiental, tráfico de drogas, alcoolismo, prostituição e desagregação das tradições culturais e das próprias comunidades.

“O assédio permanente destes bens industrializados vem provocando profundas modificações nos costumes tradicionais destas sociedades indígenas. Esta situação gerada por agentes tem contribuído para o aumento dos conflitos e intrigas internas configurando um quadro bastante complexo de futuro incerto”, alertou Sardinha no documento entregue à Funai em 23 de julho de 2002.

No documento, o indigenista também não poupou críticas ao Governo Federal. “A partir da década de 90, a Funai passa por um processo de sucateamento que basicamente veio se refletir nas atividades de desenvolvimento comunitário e assistência nas áreas indígenas, fundamentalmente na saúde, educação e atividades produtivas”, citou ele.

“Ficam, assim, as sociedades indígenas cinta-larga e suruí relegadas ao abandono e inicia-se então um processo de assédio, inicialmente por parte de madeireiros, e posteriormente passaram a permitir a atividade de garimpagem”, denunciou o superintende de Políticas Indígenas de Mato Grosso.




Fonte: Secom-MT

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