Brasil ensaia virar potência paraolímpica

Antônio Delfino, Sônia Gouveia, Ádria dos Santos, Suely Guimarães, Clodoaldo Silva e Edênia Garcia. Eles não são badalados, sofrem com preconceito e com a falta de patrocinadores, mas mesmo assim estão no topo. No topo do esporte paraolímpico. Os seis brasileiros são desconhecidos da maioria do público brasileiro, mas nas pistas de atletismo ¿ casos de Delfino, Sônia, Ádria e Suely ¿ e nas piscinas ¿ casos de Clodoaldo e Edênia -, eles já conseguiram um espaço na elite e continuam elevando o nome do Brasil.

Com eles como ícones, o Brasil vai para Atenas com sua maior delegação da história das Paraolimpíadas. São, até agora, 97 vagas asseguradas, o que confirma a possibilidade de o País se tornar uma potência mundial.

"Queremos estar inseridos entre os dez ou cinco melhores do mundo. Se mantivermos a mesma filosofia que temos atualmente, em 15 ou 20 anos conseguiremos essa meta", disse Andrew Parsons, Secretário Geral do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), em entrevista ao Terra Esportes.

O objetivo brasileiro é ficar entre os 20 melhores na classificação na Grécia e, assim, superar o desempenho de quatro anos atrás, em Sydney, onde o País foi o 24º colocado. "Queremos ser ainda o terceiro das Américas. Atualmente, EUA, Canadá e México estão à frente do Brasil, mas queremos passar o México", completou Parsons.

Para Alberto Martins, que já foi o chefe da delegação em Sydney 2000 e estará mais uma vez ocupando este cargo em Atenas, o projeto da entidade é viável.

"O CPB tem clara a meta de colocar o Brasil no cenário internacional. Desde a criação da entidade, foi feita uma organização na estrutura administrativa para dar suporte e investir em atletas e técnicos. O Brasil talvez seja um dos países que mais tenha crescido em termos de organização, junto com a China, que já investe para os Jogos de Pequim 2008.¿

Martins destacou que, em meio a tantas dificuldades, a superação é a principal aliada dos paraolímpicos. "Nossos atletas estão muito motivados. Eles ainda têm aquela vontade interior de conquistar não só a performance esportiva, mas também a sua cidadania. Eles mostram seus potencias e seu valores, têm uma motivação a mais de mostrar o que podem. Precisam vencer os problemas do preconceito, da falta de transporte coletivo adaptado e outras instalações", afirmou.

Dificuldades financeiras

A principal fonte de recursos do CPB é a Lei Piva. De todo o montante arrecadado pelas loterias federais, 2% vão para o desenvolvimento do esporte nacional. Desta fatia, apenas 15% são repassados ao Comitê Paraolímpico Brasileiro. Os outros 85% vão direto para o Comitê Olímpico (COB). "Se não é um montante que resolve, pelo menos nos permite andar com as próprias pernas. A minoria dos comitês no mundo tem essa característica", afirmou Parsons, presidente do CPB.

O Secretário Geral da entidade admite a dificuldade em alcançar o topo do esporte paraolímpico por causa da dificuldade financeira.

"Os outros países têm mais recursos financeiros há mais tempo. Temos recursos desde 2001, o que não deu tempo de formar uma geração. Eles têm também uma relação sócio-econômica mais estável. Aqui é difícil para os portadores de deficiências entrarem no mercado, enquanto no exterior eles têm uma posição melhor na sociedade. O problema é que enquanto estamos evoluindo, os outros também estão. Estamos ainda nos estruturando e eles já estão consolidados".