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Economia
Quinta - 22 de Abril de 2004 às 08:56
Por: Melchíades Cunha Junior

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São Paulo - Os economistas Edward Amadeo e José Alfredo Lamy traçaram um panorama pouco otimista em relação ao futuro da economia brasileira, atribuindo seu receio ao comportamento do próprio governo. Ouvidos no programa Espaço Aberto, da Globo News, ele consideraram inevitável o aumento da taxa básica de juros nos Estados Unidos, o que mudará as coisas para o País nos próximos trimestres.

Lamy, mais pessimista, assim explicou seus temores: "Eu não vejo, aqui dentro, a construção de regras estáveis que estimulem o investimento privado. E tenho dúvidas se o governo tem essa convicção. A minha impressão é de que o governo tem uma convicção de que ele, Estado, ainda é um fator de desenvolvimento, o que é um erro muito grande."

O viés estatista

Segundo Lamy, dois exemplos desse viés estatista ficaram claros na nova regulamentação do setor elétrico proposta pelo governo Lula, bem como para o setor de saneamento básico. "Não vi, nos mínimos detalhes, estímulos ao investimento privado, mas o que se nota é um certo dirigismo, uma certa intervenção do governo."

Suas críticas estenderam-se também à política industrial anunciada no início do mês. "Acreditar que a política industrial possa ser dirigida (é um equívoco). Tem um traço que na verdade, cheira a passado. Essa época passou, o mundo já está mais na frente e a gente corre o risco de ficar para trás.

Análise menos pessimista

Já Edward Amadeo se confessou um pouco menos pessismista do que Lamy. E deu suas razões: "Primeiro, porque o Brasil criou alguns mecanismos de auto-proteção, como por exemplo a lei de responsabilidade fiscal e a autonomia do Banco Central, senão de direito, mas de fato. O Banco Central, hoje, tem autonomia para fazer política monetária. E o compromisso do Ministério da Fazenda com metas fiscais formam um conjunto de fatores que moderam o meu pessimismo."

Além disso, Amadeo ressaltou que o governo tem mostrado sua capacidade de aprender. "Acho que o ano passado foi um exemplo muito claro disso. Ou seja, a política macroeconômica foi impecável, o que permitiu a recuperação da credibilidade e ensejou o início da recuperação da economia. Por que não acreditar que haja a possibilidade de uma nova fase de aprendizado? Acho que é possível, mas o meu menor pessimismo depende desse aprendizado um pouco mais rápido de que a tolerância com essas incertezas é limitada. É preciso lidar com isso com alguma urgência e profundidade."

Crescimento do PIB

Sobre suas estimativas para o crescimento do PIB este ano, as respostas dos dois economistas também não foram coincidentes. Para Amadeo, ele ainda pode ser superior a 3%, embora ressaltasse que esse número já não é mais pacífico entre os analistas. Já Lamy, considerou muito difícil fazer qualquer previsão a respeito. "Acho que existe uma recuperação cíclica, mas eu estou preocupado com o desempenho da economia brasileira daqui para a frente. Algum empreendimento já está contratado, mas não me arriscaria a dizer um número (para o PIB)."




Fonte: Estadão.com

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