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Comportamento
Segunda - 06 de Janeiro de 2014 às 13:08
Por: Cecília Neves

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A internet está cheia de pornografia. Atualmente, surge um segmento que se auto-proclama de “pornô para mulheres”. Mas ainda assim, a maior parte deste material é destinado aos homens. Até mesmo vídeos e fotos que mostram uma mulher estimulando-se,é voltada para o público masculino. A mulher, na maioria das vezes, está deitada, em posição passiva, como que embaixo de um homem invisível.


Luana, há mais ou menos dois anos, começava um relacionamento sério pela primeira vez. Com 17 anos, que na minha concepção é “apenas”, mas pra vários é “Afe, tudo isso?”, Luana ainda não tinha nenhuma experiência sexual. E quando digo “nenhuma”, é nenhuma mesmo: não havia se tocado nenhuma vez, trocado carícias com ninguém ou apenas se olhado com mais atenção no espelho, nada.

Dói em mim quando digo que Luana, uma menina de classe média alta, educada, inteligente e bonita nem mesmo sabia onde era a entrada de sua vagina. Não estou brincando. Acho que Naomi Wolf estava certa quando disse que a revolução sexual falhou.

De que adiantou as mulheres terem queimados os sutiãs? Luana foi criada em uma bolha, cercada de contos de fadas, confortos e protegida em todos os aspectos. E embora isto tenha vários pontos positivos, é só colocar um dedo no asfalto que chamamos de mundo real, que a pessoa desmorona. Luana, como aconteceu comigo na mesma idade, desmoronou.

Mas não é sobre isto que quero falar: Luana não sabia onde ficava a vagina. Sua primeira experiência sexual com o namorado foi um tanto quanto estranha, como normalmente são as primeiras vezes. Como era uma menina tímida, não queria que o namorado visse seu corpo, suas celulites, suas inseguranças. Apagou a luz. Sem poder ver nada, o namorado, também relativamente inexperiente, iniciou a “primeira vez”. Mas com a visão prejudicada, entrou no lugar errado. E, acredite ou não, Luana não percebeu a diferença. Ela achou que era aquilo e pronto.



Olha, eu não acho que as meninas devam se tornar sexualmente ativas muito cedo. Na minha visão, 13 anos é muito cedo para este tipo de troca de fluídos. Mas isto não quer dizer que elas não possam começar a explorar sua sexualidade. Chegar aos 18 anos sem ao menos saber a anatomia dos seus órgãos sexuais não só indica uma falha no nosso sistema educacional, como também mostra que a revolução sexual não chegou a todas as mulheres.


Se estas mesmas meninas tivessem uma educação sexual apropriada e não fossem inibidas de todas as formas possíveis à mera menção do assunto, talvez quando chegasse a hora de ter uma vida sexual ativa, fossem mais seguras, independentes e conhecedoras de seus limites. Saberiam dizer “não” àquilo que ultrapassa as barreiras do que consideram aceitável. Mas como vão saber disso sem nenhum conhecimento, seja ele teórico ou prático?


Ironicamente, a maioria dos produtos em uma sex shop são destinados ao público feminino ou homossexual. Isto quer dizer que, voltando o foco para as mulheres, além de não ter uma educação sexual e serem socialmente reprimidas quando expressam o desejo de se descobrir, quando começam a ser sexualmente ativas, têm que ter todos os instrumentos para seduzir e atiçar “seu homem”?


Depois de anos sendo educadas para nem mesmo falar a palavra “vagina” (é sempre “perereca”, “aranha”, “xoxota”, etc), quando começam a vida sexual, têm que puxar as rédeas da sedução, serem responsáveis pelo clima erotizado e saber usar o corpo de forma a provocar? 


Têm que magicamente descobrir como um vibrador funciona, vestir uma das milhares de fantasias que estão nas sex shops e não se sentirem inseguras e patéticas, mas sim sedutoras, donas de uma confiança inabalável? Esse cenário não me parece realista, muito menos justo. “Mas o mundo não é justo”, você me diz.


“Não mesmo”, eu respondo.


Não nego que a revolução sexual tenha chegado em algum momento. Mas no que diz respeito às mulheres, ela veio para um cafezinho rápido e saiu por onde entrou.



(Tradução: "Eu realmente vou ter que queimar meu sutiã de novo?)




*Cecília Neves é escritora, curiosa sobre o sexo, relacionamentos e idiossincrasias humanas. Ela escreve no Olhar Conceito aos domingos e quer que você compartilhe experiências pelo e-mail cecilia.neves25@gmail.com. Para acompanhar mais textos de Cecília, curta a página “Era do Consentimento” no facebook clicando aqui.






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