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Velozes e perigosos: Triste estatística
Doze milhões setecentos e vinte mil multas aplicadas no Estado do Rio desde janeiro de 1998, quando entrou em vigor o severo Código de Trânsito Brasileiro, podem ter doído no bolso dos motoristas fluminenses, mas parecem não ter conseguido frear uma dor maior: a da violência no trânsito. Segundo o Corpo de Bombeiros, nos últimos quatro anos o número de mortos e feridos em colisões, capotagens e atropelamentos no estado aumentou 57%, passando de 20.722, em 2000, para 32.652, em 2003.
Ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros, 1.075 pessoas perderam a vida e 31.577 ficaram feridas em acidentes de trânsito, no ano passado, em todo o estado. Mas estes números ainda ficam devendo à realidade: eles se referem apenas às vítimas atendidas pelo Grupamento de Socorro de Emergência (GSE), do Corpo de Bombeiros, e não incluem, por exemplo, as mortes que ocorrem nos hospitais.
Os dados da Secretaria nacional de Vigilância em Saúde, que têm como base os atestados de óbito, são ainda mais assustadores: o trânsito sepultou 2.697 pessoas no Estado do Rio em 2001, segundo as estatísticas mais recentes do órgão. O que significa sete pessoas mortas por dia. Neste ranking macabro, o Rio só perde para São Paulo (6.937 mortes), embora a nossa frota seja a quarta maior do país.
Acidente na Barra matou três jovens
É como multiplicar por 2.697 a tragédia vivida pelo engenheiro Fernando Diniz. Em 10 de março de 2003, Fabrício Pinto da Costa Diniz, de 20 anos, estudante de engenharia da Uerj, pegou carona com um colega para se divertir na noite da Barra da Tijuca. Fernando ainda se lembra de ter ligado para o celular do filho, que lhe disse estar voltando para casa. Foi o último diálogo.
Horas depois, Fernando encontraria o corpo do filho estendido na Avenida das Américas, ao lado dos destroços de um Peugeot. A namorada de Fabrício e uma amiga também morreram. Conversando com frentistas da Avenida das Américas que testemunharam o acidente, ele soube que o carro voava, ziguezagueando pela pista. O perícia atestou excesso de velocidade, com perda de direção, colisão e capotagem.
Hoje Fernando luta para que o motorista do carro, Marcelo Henrique Negrão Kijak, de 21 anos, seja punido. A Justiça já decretou a prisão preventiva do rapaz, mas ele continua em liberdade. A convivência com outros parentes de vítimas e a participação em campanhas contra a violência no trânsito ajudam o engenheiro a seguir em frente, mas ele diz que a dor ainda é grande.
— Ainda acordo de madrugada chamando pelo meu filho. É uma lacuna que fica eternamente aberta.
A psicóloga Maria José da Silva Amaral, de 38 anos, também tenta se recuperar da perda da filha, Carolina, de 4 anos, e da mãe, Josefa Severina da Silva, de 67. Carolina e Josefa foram atropeladas e mortas por um ônibus da Viação Verdun na Rua Uruguai, esquina com Maxwell, no Grajaú, na tarde de 20 de dezembro de 2000. Elas iam à casa de uma amiga, levar um presente de Natal. Segundo Maria José, foram atingidas em cima da faixa de pedestres. O motorista foi punido com a suspensão da carteira pela Comissão Cidadã do Detran, da qual faz parte Maria José.
— Nunca entendi direito o que aconteceu. Elas estavam atravessando na faixa. O ônibus devia estar em alta velocidade — conta Maria José, coordenadora do Núcleo de Apoio às Vítimas de Acidentes de Trânsito, que funciona no Detran.
Para Maria José, o Código de Trânsito Brasileiro é bom. O problema, segundo ela, é cumpri-lo:
— Comprovada a culpa do motorista, que ele vá para a cadeia — defende.
As ruas e rodovias do Rio estão cheias de carros cada vez mais velozes e motoristas cada vez mais imprudentes. No dia 22 de novembro, os olhos eletrônicos dos pardais da CET-Rio flagraram um carro a 190km/h na Avenida das Américas, num trecho onde o limite é de 80km/h. Em 13 de dezembro, um veículo passou a inacreditáveis 160km/h no Túnel Rebouças, onde a velocidade máxima é de 90km/h.
— Os grandes vilões do trânsito são o excesso de velocidade, o fato de o motorista não manter distância do carro da frente e a imprudência — diz Hélio Dias, inspetor da Polícia Rodoviária Federal e instrutor de direção defensiva. — Os carros estão cada vez mais potentes e as pessoas acham que o freio ABS vai parar o veículo na hora que o motorista quiser. Eu costumo dizer que o único jeito de parar um carro de imediato é apertando a pausa do videocassete.
Detran fará debate sobre problema
Segundo o ortopedista Marcos Musafir, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), metade dos leitos das emergências hoje é ocupada por vítimas de acidentes de trânsito.
— No mundo todo, os acidentes de trânsito representam o mais alto custo em termos de saúde pública. Eu defendo que essas pessoas que desrespeitam o Código de Trânsito sejam levadas para dentro dos hospitais para ver o que nós vivemos no dia a dia — diz Musafir.
Quarta-feira, Dia Mundial da Saúde, que este ano terá como tema os acidentes de trânsito, o Detran fará um debate sobre o assunto às 13h30m, na Embratel (Avenida Presidente Vargas 1.012, no Centro).
— As estatísticas revelam um quadro inaceitável, de CTI. Não se muda essa situação de um dia para outro. É preciso muito esforço do poder público e dos cidadãos para fazer, cada qual, a sua parte — afirma o presidente do Detran, Hugo Leal.
Ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros, 1.075 pessoas perderam a vida e 31.577 ficaram feridas em acidentes de trânsito, no ano passado, em todo o estado. Mas estes números ainda ficam devendo à realidade: eles se referem apenas às vítimas atendidas pelo Grupamento de Socorro de Emergência (GSE), do Corpo de Bombeiros, e não incluem, por exemplo, as mortes que ocorrem nos hospitais.
Os dados da Secretaria nacional de Vigilância em Saúde, que têm como base os atestados de óbito, são ainda mais assustadores: o trânsito sepultou 2.697 pessoas no Estado do Rio em 2001, segundo as estatísticas mais recentes do órgão. O que significa sete pessoas mortas por dia. Neste ranking macabro, o Rio só perde para São Paulo (6.937 mortes), embora a nossa frota seja a quarta maior do país.
Acidente na Barra matou três jovens
É como multiplicar por 2.697 a tragédia vivida pelo engenheiro Fernando Diniz. Em 10 de março de 2003, Fabrício Pinto da Costa Diniz, de 20 anos, estudante de engenharia da Uerj, pegou carona com um colega para se divertir na noite da Barra da Tijuca. Fernando ainda se lembra de ter ligado para o celular do filho, que lhe disse estar voltando para casa. Foi o último diálogo.
Horas depois, Fernando encontraria o corpo do filho estendido na Avenida das Américas, ao lado dos destroços de um Peugeot. A namorada de Fabrício e uma amiga também morreram. Conversando com frentistas da Avenida das Américas que testemunharam o acidente, ele soube que o carro voava, ziguezagueando pela pista. O perícia atestou excesso de velocidade, com perda de direção, colisão e capotagem.
Hoje Fernando luta para que o motorista do carro, Marcelo Henrique Negrão Kijak, de 21 anos, seja punido. A Justiça já decretou a prisão preventiva do rapaz, mas ele continua em liberdade. A convivência com outros parentes de vítimas e a participação em campanhas contra a violência no trânsito ajudam o engenheiro a seguir em frente, mas ele diz que a dor ainda é grande.
— Ainda acordo de madrugada chamando pelo meu filho. É uma lacuna que fica eternamente aberta.
A psicóloga Maria José da Silva Amaral, de 38 anos, também tenta se recuperar da perda da filha, Carolina, de 4 anos, e da mãe, Josefa Severina da Silva, de 67. Carolina e Josefa foram atropeladas e mortas por um ônibus da Viação Verdun na Rua Uruguai, esquina com Maxwell, no Grajaú, na tarde de 20 de dezembro de 2000. Elas iam à casa de uma amiga, levar um presente de Natal. Segundo Maria José, foram atingidas em cima da faixa de pedestres. O motorista foi punido com a suspensão da carteira pela Comissão Cidadã do Detran, da qual faz parte Maria José.
— Nunca entendi direito o que aconteceu. Elas estavam atravessando na faixa. O ônibus devia estar em alta velocidade — conta Maria José, coordenadora do Núcleo de Apoio às Vítimas de Acidentes de Trânsito, que funciona no Detran.
Para Maria José, o Código de Trânsito Brasileiro é bom. O problema, segundo ela, é cumpri-lo:
— Comprovada a culpa do motorista, que ele vá para a cadeia — defende.
As ruas e rodovias do Rio estão cheias de carros cada vez mais velozes e motoristas cada vez mais imprudentes. No dia 22 de novembro, os olhos eletrônicos dos pardais da CET-Rio flagraram um carro a 190km/h na Avenida das Américas, num trecho onde o limite é de 80km/h. Em 13 de dezembro, um veículo passou a inacreditáveis 160km/h no Túnel Rebouças, onde a velocidade máxima é de 90km/h.
— Os grandes vilões do trânsito são o excesso de velocidade, o fato de o motorista não manter distância do carro da frente e a imprudência — diz Hélio Dias, inspetor da Polícia Rodoviária Federal e instrutor de direção defensiva. — Os carros estão cada vez mais potentes e as pessoas acham que o freio ABS vai parar o veículo na hora que o motorista quiser. Eu costumo dizer que o único jeito de parar um carro de imediato é apertando a pausa do videocassete.
Detran fará debate sobre problema
Segundo o ortopedista Marcos Musafir, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), metade dos leitos das emergências hoje é ocupada por vítimas de acidentes de trânsito.
— No mundo todo, os acidentes de trânsito representam o mais alto custo em termos de saúde pública. Eu defendo que essas pessoas que desrespeitam o Código de Trânsito sejam levadas para dentro dos hospitais para ver o que nós vivemos no dia a dia — diz Musafir.
Quarta-feira, Dia Mundial da Saúde, que este ano terá como tema os acidentes de trânsito, o Detran fará um debate sobre o assunto às 13h30m, na Embratel (Avenida Presidente Vargas 1.012, no Centro).
— As estatísticas revelam um quadro inaceitável, de CTI. Não se muda essa situação de um dia para outro. É preciso muito esforço do poder público e dos cidadãos para fazer, cada qual, a sua parte — afirma o presidente do Detran, Hugo Leal.
Fonte:
Globo Online
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/387089/visualizar/
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