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Nacional
Sexta - 02 de Abril de 2004 às 14:07
Por: Da Folha Online

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Um dia depois de o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile recuar das declarações que poderiam incitar uma onda de ocupações de terras no país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje, em discurso na cidade de Três Lagoas (MS), que a reforma agrária "não será feita no grito, mas dentro da lei".

"Neste país, a reforma agrária vai ser feita por uma questão de justiça social, por uma necessidade de repartir um pouco melhor o território produtivo, para que a nossa gente tenha a oportunidade de trabalhar. Mas ela não vai ser feita no grito. Nem no grito dos trabalhadores, nem pelo grito dos que são contra, ela vai ser feita respeitando a legislação vigente e num clima de harmonia, que norteia o comportamento de todo o meu governo", disse.

O presidente afirmou ainda que terminará seu governo com a promessa cumprida de assentar 400 mil famílias de trabalhadores rurais.

Lula participou nesta manhã da solenidade de inauguração da Usina Termelétrica de Três Lagoas. O presidente também assinou autorização para o início das obras da Ferrovia do Pantanal.

Com um investimento de R$ 500 milhões, a Termelétrica Três Lagoas, da Petrobras, é alvo de quatro ações judiciais. O Ministério Público Federal e o Estadual querem saber se a obra vai trazer danos ambientais à cidade e prejudicar a saúde da população.

No mesmo pronunciamento, Lula voltou a assegurar a retomada de 17 dos 35 projetos que estavam paralisados. "O Brasil não precisa de nenhuma obra faraônica que marque a passagem de um governante."

Após o evento em Três Lagoas, Lula segue para a cidade de Bonito (MS), onde inaugura o aeroporto da cidade, cuja obra tem pendências ambientais, segundo o Ministério Público Estadual. O órgão abriu inquérito civil público em 2002 porque a Secretaria Estadual de Meio Ambiente dispensou a obra do Estudo de Impacto Ambiental. Segundo o governo do Estado, o Ministério do Planejamento liberou, em 2003, R$ 1,5 milhão à obra.

Stedile

Ontem, João Pedro Stedile afirmou que foi mal interpretado ao utilizar a expressão "infernizar", em discurso para incitar militantes do movimento a promoverem uma onda de invasões de propriedades em abril.

"Falei em um sentido de entusiasmo: vou infernizar. E fui mal interpretado. De fato foi uma palavra infeliz. O sentido real foi: vamos pressionar, azucrinar. Peço desculpas pela palavra errada", disse, durante uma reunião da CPI da Terra, instalada no Congresso Nacional.

O líder sem-terra afirmou ainda que "na verdade quis dizer que era para todos os movimentos que participarão do 1º de Maio [Dia do Trabalho] recuperarem suas bandeiras vermelhas e fazerem uma grande mobilização".

A expressão utilizada por Stedile abriu polêmica com ruralistas e com setores do governo. O vice-presidente da República, José Alencar, classificou a frase como "bravata".

No último sábado, o movimento deflagrou a "jornada de luta", uma série de manifestações e invasões de fazendas no país. A maioria das invasões (14) ocorreu em Pernambuco. Em São Paulo, há três áreas invadidas.

Verba

O líder sem-terra disse também não acreditar que o governo conseguirá disponibilizar mais R$ 1,7 bilhão em recursos no orçamento para o campo.

Em reunião com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, na quarta-feira, no Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o atual orçamento do ministério, de R$ 1,4 bilhão, receberá uma suplementação, em parcelas ao longo do ano, de R$ 1,7 bilhão.

"Nós ficamos felizes que o governo anunciou mais R$ 1,7 bilhão, mas temos certeza de que eles não têm capacidade operativa para aplicar", afirmou Stedile, que também contestou o número divulgado pelo governo de assentados em 2004. Segundo ele, não são 11.093 famílias assentadas, mas 7.000.




Fonte: Com Folha de São Paulo

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