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Economia
Terça - 25 de Fevereiro de 2014 às 10:21

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 Seis anos após as primeiras extrações das reservas gigantes do pré-sal e quase 8 anos após a anunciada mas já perdida autossuficiência na produção de petróleo, a Petrobras tem sido vista com desconfiança pelo mercado, por conta da produção estagnada, das importações am alta e das dívidas bilionárias – e que tendem a continuar crescendo.

Desde o fim de 2010, logo após a megacapitalização de R$ 120 bilhões, o endividamento da gigante brasileira de petróleo praticamente quadruplicou, com um aumento médio de mais de R$ 40 bilhões por ano. A produção de óleo e gás, por sua vez, caiu 2,5% em 2013, para 1,93 milhão de barris por dia em 2013. Foi a segunda queda anual consecutiva e o menor resultado desde 2008.

No terceiro trimestre do ano passado, a companhia teve lucro de R$ 3,395 bilhões, uma queda de 45% em relação ao trimestre anterior. Já as dívidas chegaram a R$ 193 bilhões, o que fez com que agências de risco reduzissem a nota da empresa, que passou também a receber da Bloomberg o título de “petroleira de capital aberto mais endividada do mundo”. O resultado consolidado de 2013 será divulgado pela Petrobras nesta terça-feira (25).

Parte dessa dívida tem origem no descompasso entre o crescimento da produção da Petrobras e do consumo de combustíveis no Brasil, que fará com que os gastos com importações de gasolina e diesel da estatal saltem 140% até 2020, passando dos US$ 12,68 bilhões de 2013 para um gasto anual de US$ 30,42 bilhões, segundo cálculo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), feito a pedido do G1.

Outro lado da conta das perdas, segundo analistas, é a falta de reajustes maiores nos preços dos combustíveis e a interferência do governo, que não abre mão de ter a Petrobras como arma contra a inflação. O CBIE estima que a companhia deixou de ganhar cerca de R$ 47 bilhões nos últimos 3 anos em função da defasagem dos preços da gasolina e do diesel vendidos pela no Brasil em relação aos valores internacionais.

Endividamento e produção

A Petrobras tem sido obrigada a tomar empréstimos no Brasil e no mercado externo para equilibrar as contas e garantir os investimentos em novas plataformas e campos de exploração. Para o período 2013-2017 estão previstos US$ 236,7 bilhões, anunciados pela estatal como o maior plano de investimentos corporativo do mundo.

“A dívida fechou 2013 acima dos R$ 200 bilhões, a produção não cresce e estamos importando cada dia mais derivados”, resume o diretor do CBIE, Adriano Pires, lembrando que a ação da companhia chegou a ser cotada a quase R$ 50 entre 2007 e 2008 na Bovespa, e atualmente patina entre R$ 13 e R$ 14.

“O grande trade-off (dilema) da Petrobras é: como um presente tão ruim pode dar um futuro tão brilhante? Não vejo nenhuma mudança de política para que tenhamos esse céu de brigadeiro que projetam”, opina.

Procurada pelo G1, a Petrobras não respondeu a perguntas, informando que a companhia deverá comentar os resultados de 2013 na quarta-feira (26).

A expectativa é que a produção volte a crescer neste ano, com a entrada em operação de projetos atrasados e de plataformas previstas no cronograma de 2014.

A Petrobras informou por meio da sua assessoria de imprensa que pode ser aprovado e divulgado nesta terça-feira pelo Conselho de Administração o novo plano estratégico da empresa, referente ao período 2014-2018, onde serão detalhadas as novas metas e o plano de investimentos para os próximos 5 anos.

A expectativa é que o documento também traga a previsão de crescimento da produção para 2014.

Embora o pré-sal aponte para um futuro promissor, permanece a dúvida se a empresa terá condições de chegar a expectativa de 2,5 milhões de barris por dia em 2016 e atingir 4,2 milhões de barris em 2020.

“A produção vai crescer. Só não dá para saber se será nessa proporção que a empresa projeta. Se em 2014 o crescimento for de 7%, isso significa que estaremos voltando para patamares de 2010. A única certeza é que a importação não vai parar de crescer”, diz Pires.

Importações em alta

Em 2013, a importação de petróleo e derivados no país superou a exportação pela primeira vez desde 2004, segundo dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo). Somente nos gastos com compra de gasolina e diesel no exterior, a alta foi de 22%.

O aumento das importações e a queda da produção de petróleo afetou inclusive a balança comercial brasileira que registrou em 2013 o pior resultado em 13 anos. As receitas com exportações da Petrobras caíram 37,4% na comparação com 2012, para US$ 13,85 bilhões.

Segundo levantamento do CBIE, feito a pedido do G1, os gastos da Petrobras com compra de diesel do exterior passarão de US$ 10,4 bilhões, em 2013, para US$ 22,9 bilhões, em 2020, o que corresponderá a uma alta de cerca de 12% ao ano. Já a despesa com importação de gasolina saltará para US$ 7,5 bilhões em 2020, ante US$ 2,3 bilhões em 2013, um aumento médio anual de 18,4%.

A projeção leva em conta o ritmo de crescimento do consumo no último ano e a expansão da capacidade de refino projetada pelo plano de negócios da empresa.

“A produção de gasolina continuará constante de 2013 a 2020 porque nenhuma das novas refinarias vai produzir mais gasolina no país”, afirma Pires, citando os atuais projetos em implantação: a Refinaria Abreu e Lima e o 1º Trem de Refino do Comperj.

No caso da produção de diesel, as refinarias em construção conseguirão apenas reduzir parte do déficit do combustível, elevando a produção atual do patamar de 844 mil barris/dia para 1.011 mil barris/dia em 2016, chegando a 1.206 a partir de 2019.

Autossuficiência perdida

A última construção no país de uma refinaria relevante ocorreu em 1980, a Revap, em São José dos Campos. A consequência é o aumento crescente das importações de combustível para atender a uma frota automotiva em expansão. Em 2013, foram comercializados 3,7 milhões de veículos no país.

O descompasso entre produção e consumo interno levou o país a perder a autossuficiência, comemorada pela Petrobras e pelo governo em 2006, quando a produção de petróleo equiparou-se ao volume de derivados consumidos à época no país, ainda que mantida a necessidade de importação de algum volume de combustível.

Em 2008, o primeiro óleo extraído do pré-sal foi comemorado. Em 2010, a produção da Petrobras fechou o ano ultrapassando a marca de 2 milhões de barris por dia. Mas desde 2011, o país voltou a consumir mais do que consome. E nem mesmo os recordes sucessivos de produção no pré-sal evitou a queda no resultado anual.

A Petrobras sustenta que a situação é temporária. Mas, questionada pelo G1, não informou se está mantida a previsão feita no ano passado de que a produção de petróleo no Brasil voltará a atingir a autossuficiência volumétrica em 2014. Na avaliação do CBIE, a retomada só ocorrerá “em algum ponto no final de 2016”.

Interferência do governo e perdas

Para os analistas, porém, mais grave que a produção estagnada e a falta de refinarias é a interferência política e o uso da estatal como arma contra a inflação.

“A desgraça da Petrobras se chama governo, que exorbita da sua autoridade de poder ao não deixar a Petrobras aumentar preços. A empresa foi penalizada no seu fluxo de caixa e está pagando mais do que poderia por investimentos", critica o diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Ildo Luís Sauer.

Levantamento do CBIE mostra que a defasagem vem ocorrendo contianuamento desde o final de 2010. A venda de combustíveis a preços menores que os internacionais representou para a Petrobras nos últimos 3 anos um “custo de oportunidade negativo” – ou seja, uma sangria – de cerca de R$ 34 bilhões na operação com diesel e de R$ 13 bilhões na distribuição de gasolina, segundo a consultoria.

“O subsídio para gasolina e diesel, além de estar sangrando a Petrobras, está quebrando o setor de álcool", diz consultor David Zylbersztajn, ex-diretor da ANP, citando a perda de competitividade do etanol. "É difícil entender essa política, pois quanto maior o lucro, maior a distribuição de dividendos e o recolhimento de impostos, cujo maior beneficiário é o Tesouro”, completa.

Segundo ele, o principal risco da Petrobras é financeiro, uma vez a defasagem dos preços de combustíveis tem diminuído a lucratividade e a capacidade de gerar caixa, o que além de elevar o endividamento da companhia já coloca em risco, inclusive, o "famoso" grau de investimento concedido pelas agências de risco.

"A Petrobras vive um círculo perverso: está andando com o freio de mão puxado em razão da dificuldade de autofinanciamento e do maior endividamento. o que torna o custo de captação mais caro e afeta o 'iming da empresa”, diz o ex-diretor da ANP.

Oportunidades perdidas

Em certa medida, a situação atual da companhia é consequência de opções políticas "equivocadas", segundo os analistas, feitas no passado, como a interrupção dos leilões de novas áreas de exploração por 6 anos, até a definição do novo marco regulatório para o pré-sal.

Eles avaliam que, embora as descobertas no pré-sal representem uma grande trunfo, o Brasil perdeu "uma janela de oportunidades".

"Quando, em 2007, se decidiu retirar 41 áreas de leilão, havia liquidez de sobra no mundo, o Brasil chamava muita atenção para investimentos e não se ouvia ouvia falar de gás xisto", diz Zylbersztajn, citando o grande salto na produção de energia nos Estados Unidos, que tem feito a maior economia do mundo sonhar com autossuficiência energética e a menor dependência de importação de petróleo, incluindo o brasileiro.

Segundo Pires, no CBIE, o nível de produção da Petrobras e do país seria outro se não tivessem sido travados os investimentos estrangeiros no setor. "Pararam as rodadas de licitação, tirou-se os investimentos do país e o modelo de volta ao monopólio deu muitos deveres para a Petrobras. O governo deveria ter dado caixa para a empresa e não tirar receita da estatal, que se endividou", opina.

Ainda que o Brasil necessite de novas refinarias, a opção pela prioridade nos investimentos em exploração e produção é compreensível, segundo os analistas ouvidos pelo G1, uma vez que as taxas de retorno dessa operação são bem mais vantajosas do que as refinarias – que também costumam demandar muito dinheiro e tempo.

O diretor do CBIE lembra, porém, que quando, em 2005, optou-se pela construção de novas refinarias somente para a produção de diesel, o Brasil praticamente não importava gasolina e o programa de etanol se expandia. 

"Se há estabilidade geopolítica, você pode comprar gasolina fora e vender mais petróleo. Tudo é questão de estratégia e de ter um plano. O problema maior no momento é ter uma produção que, mesmo que melhore em 2014, vai chegar aonde esteve quatro anos atrás", conclui Zylbersztajn.





Fonte: Do G1

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