Classe C puxa consumo nos supermercados
A alta da inflação não impediu que a população brasileira comprasse mais nos supermercados. A elevação do consumo em 2013, mantida em janeiro de 2014, foi puxada pela classe C, segundo dados do estudo Consumer Insights, da Kantar Worldpanel. Ao monitorar a demanda por bens não duráveis, a empresa diagnosticou que as pessoas diminuíram a frequência nos supermercados em 3 vezes, mas aumentaram em 3% o
volume de produtos consumidos e em 9% o gasto médio no país. O comportamento foi verificado inclusive na região classificada na pesquisa como Centro-Norte (Centro Oeste, Norte e Nordeste). Retomar o hábito de realizar a “compra do mês” pode resultar em menos gastos se essa prática for acompanhada de pesquisas de preços, opina o economista Edisantos Amorim. Com a crescenta elevação da taxa básica de juros e as incertezas do cenário econômico, o consumidor precavido consegue gastar menos se comparar os preços entre os concorrentes, tanto de produtos perecíveis quanto daqueles com maior durabilidade, explica o economista. “O consumidor pode aproveitar os preços diferenciados no atacado ou mesmo nas promoções para comprar quantidades daqueles produtos que podem ser estocados”. Mesmo na escolha de alimentos perecíveis é possível garantir uma diferenciação nos gastos com pesquisa de preços entre os diferentes estabelecimentos. “Hoje as empresas realizam promoções semanais, em dias alternados, e o consumidor pode aproveitar isso”.
Essa mudança no funcionamento das redes supermercadistas visa justamente atrair os clientes com mais frequência para as lojas, o que resulta em vendas maiores, contrapõe o presidente da Associação dos Supermercados de Mato Grosso (Asmat), Kassio Catena. “Na prática, o que temos visto é que as pessoas estão vindo mais vezes ao mercado, comprando menos numa única compra, mas ao final do mês elas compraram mais”.
Na avaliação dele, a estabilidade da moeda brasileira levou a população a abandonar o costume de comprar grandes volumes de produtos numa única vez no mês. “Agora, o consumidor consegue comprar com o mesmo preço ou até mais barato, por causa das ofertas semanais”. Segundo Katena, em busca de alimentos perecíveis os clientes vão, em média, duas vezes por semana às lojas. “Sei de pessoas que vão até três vezes num único ao mercado”. Comprar pequenas quantidades e não pesquisar preços é uma característica no comportamento da funcionária pública Marilene Sales da Cruz. “Vou ao supermercado quando preciso e meu foco é a qualidade, não o preço”. Diferentemente dela, a funcionária pública Ana Cláudia Torres opta por realizar uma compra mensal de grande volume. “Gasto entre R$ 300 a R$ 400, mas acho que consigo economizar mais assim”. Com experiência na área do comércio, Silvano Oliveira une um pouco das duas práticas anteriores. “Compro umas 3 vezes por mês e vou onde tem oferta”. Mensalmente, o gasto familiar com o supermercado varia entre R$ 500 a R$ 600.
Conforme a pesquisa da Kantar Worldpanel, o último ano foi marcado por uma sofisticação no consumo e as famílias fizeram escolhas pensando no custo benefício. Como exemplo, se inclui os detergentes líquidos para roupas, sucos prontos e antisséptico bucal. Em relação ao consumo da classe C, o estudo identificou que em 2013 esse público elevou em 6% o volume de produtos adquiridos e em 8% o gasto médio. De acordo com a diretora comercial da Kantar Worldpanel, Christine Pereira, a classe C aglomerou um maior número de consumidores nos últimos anos, inclusive pela migração da classe D/E para a C. Isso levou ao aumento do interesse na compra de uma gama maior de produtos, além daqueles de subsistência. “É possível observar que, apesar de ir menos ao ponto de venda, ela consome mais, causando impacto positivo em volume”.
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