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Terça - 25 de Março de 2014 às 05:34
Por: ALECY ALVES

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DINALTE MIRANDA/DC
Os haitianos estão em fase de acomodação em Cuiabá assim como em dezenas de outras cidades brasileiras
Os haitianos estão em fase de acomodação em Cuiabá assim como em dezenas de outras cidades brasileiras

Com uma população estimada de duas 2.000 pessoas, na maioria homens com idade entre 25 e 40 anos, os haitianos começam a criar guetos na periferia de Cuiabá. Um dos maiores grupos se instalou no Jardim Eldorado, região do bairro Planalto. 

A rua 9, onde moram dezenas deles, muitos dividindo a mesma casa, já está sendo chamada de “Vila Haitiana”. Noutras vias próximas há familiares (mulher, marido e filhos ou irmãos) vivendo juntos. Poucos moram sozinhos. 

No cruzamento das ruas 9 e 10 está instalado o primeiro bar haitiano, o “Mêma Amour”, que seria “meu amor”, uma declaração ao Haiti na língua crioulo. O bar está sob o comando de uma mulher, Visleine, 33 anos, que vive no local temporariamente com uma filha Keyna, de 6 anos, e Liana, de pouco mais de um ano. 

Visleine explicou que o proprietário do bar está em viagem ao Haiti, mas deve retornar em algumas semanas. O “Mêma Amour” tornou-se um ponto de encontro dos haitianos, especialmente nos finais de semana. 

Ouvir músicas típicas, jogar sinuca, beber cerveja ou simplesmente conversar com os amigos são as possibilidades oferecidas pelo estabelecimento. De acordo com a cuiabana Naiane da Silva, vizinha do bar, a convivência com os haitianos tem sido tranquila. Ela os definiu como pessoas alegres e animadas. 

Videl Serjour é um dos moradores da rua 9, do Jardim Eldorado. Ele mora em uma casa alugada, pela qual paga R$ 400, com a mulher e a filha de quatro anos. Desempregado, Videl contou que a esposa trabalha em um frigorífico e a filha passa o dia em uma creche pública. 

O haitiano Jah Cool, que assina a arte na fachada do bar “Mêma Amour”, também é morador da “Vila Haitiana”. No Brasil há pouco mais de um ano, ele reclama dos baixos salários e diz que no momento busca um novo emprego. 

Os haitianos não gostam de falar da intimidade, mas há muitos casos de desempregados sendo sustentados por parentes e amigos enquanto tentam um novo emprego. 

O padre Olmes Milani, coordenador da Pastoral do Migrante, explica que os haitianos estão em fase de acomodação em Cuiabá assim como em dezenas de outras cidades brasileiras. 

Viver em grupo, observa, é uma tentativa de preservar a identidade e de autodefesa. Com dificuldades para se comunicarem na língua portuguesa e se fixar nos empregos, os imigrantes passam por uma série de problemas. 

“Enquanto de um lado estão os empregadores com expectativas que não podem ser atendidas, do outro estão os haitianos com a ilusão de bons salários”, diz Olmes Milani. “Quem era pedreiro no Haiti não passa de servente no Brasil”, completa. 

Conforme o coordenador da Pastoral do Migrante, o haitiano não tem o corpo treinado para oito ou mais horas diárias de trabalho braçal na construção civil, por exemplo, o setor que mais emprego gera aos imigrantes. 

Essas frustrações compartilhadas por ambos, operários e patrões, são as causas da maioria dos conflitos. Com 40 anos de experiência no trabalho com migrantes e imigrantes, com passagens em países como Japão e Itália, Milani diz que o problema do país é a falta de política migratória. “Nossas fronteiras são abertas, mas na base do cada um se vira como pode”, reclama. 





Fonte: Do Diário de Cuiabá

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