Cuiabá: médicos terceirizados se demitem de UPA
Por falta de pagamento, pelo menos seis dos dez médicos que atendiam na sala vermelha (setor de emergências) da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Morada do Ouro, em Cuiabá, pediram demissão deixando a unidade sem profissionais na semana passada. Eles são servidores terceirizados, sob responsabilidade da empresa Guarujá Centro de Atendimento, Diagnóstico, Terapia, e Assistência Médica de Trabalho, prestadora de serviços ao município por meio de contrato emergencial desde julho de 2013 quando a unidade foi inaugurada. Ontem, um boletim de ocorrência foi registrado no Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc) do Planalto pelos seis médicos contratados pela prefeitura que também trabalham na UPA e acabam atendendo no setor que não é de responsabilidade deles.
De acordo com dois médicos da unidade, Cuiabá é a única cidade do país que terceiriza os serviços de emergência de uma UPA. “Em todas as outras cidades esses serviços de emergência nas UPAs são feitos por médicos das Prefeituras. Isso nos causa estranheza por que se o município paga em dia os salários dos médicos contratados, tem dinheiro para pagar uma empresa, então porque ela não paga seus funcionários em dia”, questionam eles. Afirmam ainda que não sabem o porquê de a Prefeitura de Cuiabá não assumir os serviços e insistir em manter o contrato apesar de a empresa sempre atrasar os salários.
Com a demissão dos profissionais que estavam há 3 meses sem receber, a sala vermelha ficou sem médicos na quinta, sexta-feira e sábado da semana passada no período da manhã. Durante à noite conseguiram médicos para tampar as lacunas. “Ontem [domingo] foi o estopim não tinha médicos na sala vermelha durante o dia inteiro e por isso durante à noite os 6 médicos da Prefeitura decidiram registrar um boletim de ocorrência para se preservarem e não serem responsabilizados depois, caso algo grave aconteça com algum paciente”, relata um médico que trabalha na unidade e pediu para ter o nome preservado.
Ele confirma ainda que a empresa foi contratada pelo então secretário municipal de Saúde Kamil Fares em julho de 2013, pois o município não estaria conseguindo médicos para a emergência. “Essa empresa apareceu oferecendo os serviços e foi firmado um contrato emergencial. Mas ela sempre atrasou os salários por 2 ou 3 meses”, relata o profissional. A empresa já contratou novos médicos no lugar dos demissionários. “Por ser um salário atrativo, sempre tem médicos dispostos a aceitarem, pois não sabem dos atrasos salariais. Mas depois de 2 ou 3 meses sem receber eles acabam pedindo demissão. Percebem que os colegas que são pagos pela Prefeitura estão com os salários em dia e eles não”, ressaltam.
Foi isso que aconteceu na semana passada quando a metade dos médicos terceirizados decidiu dar um basta na situação. Viram que os outros profissionais que também atendem na UPA morada do Ouro - 4 clínicos e 2 pediatras - contratados pela Prefeitura, estão recebendo sem atrasos. O Gazeta Digital apurou que os terceirizados recebem um valor maior pelos plantões de 12 horas em relação aos contratados que atendem nos demais setores. Devido o fato de atenderem pacientes graves, vítimas de traumas que demandam de atendimentos e procedimentos mais complexos e urgentes, os profissionais da sala vermelha recebem um valor aproximado de R$ 1,1 mil por plantão já livres de descontos. Já os demais médicos recebem o valor bruto de R$ 800 e com os descontos cai para R$ 690.
Os médicos ouvidos pela reportagem afirmam que os atrasos da empresa terceirizada são constantes e o município tem conhecimento do problema. Diante de algumas cobranças a empresa teria alegado que não estaria recebendo os repasses do Município que por sua vez teria dito que ela não estava com a documentação regular. “Daí fica aquele jogo de empurra-empurra e os médicos pedem demissão”. Depois da demissão, os médicos notificaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para não levar pacientes graves para a UPA, para que fossem encaminhados direto ao Pronto-Socorro. "Mesmo assim, atendemos casos de pessoas com traumas, pois não podemos deixar ninguém sem atendimento", relata um dos médicos. Segundo ele, a demanda noturna na UPA tem girado em torno de 500 atendimentos diários pois moradores de municípios vizinhos estão sendo direcionados para a unidade.
Outro lado: Num primeiro momento, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Cuiabá negou e disse que não existiam médicos terceirizados prestando serviços na UPA Morada do Ouro. Depois, voltou atrás e conheceu que existe um contrato do município com a empresa Guarujá para fornecimento de médicos. O secretário-adjunto de Comunicação, Orlando Morais, disse que "houve uma falha da empresa com médicos dela", mas garante que tudo foi resolvido e que “o atendimento está normal”. Ressaltou que o contrato continua em vigor.
O representante da empresa, médico Douglas Gonsales, não foi localizado pela reportagem para se pronunciar sobre os atrasos de salários, que os médicos afirmam ser um problema constante.
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