Como a nutrição materna contribui para a variação do peso ao nascimento
A seleção genética para uma maior prolificidade alcançou bons resultados, aumentando o tamanho da leitegada Assumindo que a capacidade do útero em manter o número de fetos inteiramente formados até o parto é limitado, é aceitável que se estabeleça uma correlação negativa entre o aumento do número de fetos e o seu crescimento individual. Sendo assim, vários autores observaram aumentos na desuniformidade do peso dos leitões dentro de uma mesma leitegada, bem como a redução do peso médio, devido a seleção genética para tamanho da mesma (Lund et al., 2002; Tribout et al., 2003; Foxcroft, 2007; Smit, 2007; and Quesnel et al., 2008). O peso ao nascimento e a variação do peso dentro da leitegada representam um fator de interesse, uma vez que tem sido mostrado que estão positivamente correlacionados com a mo rtalidade pré-desmame. Em leitegadas com grandes variações na uniformidade ao nascimento, os leitões menores são excluídos do acesso aos tetos funcionais e produtivos, devido a desvantagem em competir com os maiores pelos melhores tetos. Estes leitões apresentam uma menor ingestão de colostro e de leite, o que leva à uma menor aquisição de imunidade passiva levando a um estado nutricional baixo. Consequentemente, os leitões menores são comprometidos fisiologicamente em termos de reservas de energia, sendo mais susceptíveis a hipotermia. Em adição, leitegadas com maior variação no peso ao nascimento, também apresentam maiores variações de peso ao desmame, este fato como não é desejado, resulta em um manejo mais complicado. Leitões que nascem com pesos abaixo da média apresentam índices de crescime nto mais lentos e idade mais avançada ao abate.
À medida que o tamanho da leitegada aumenta a quantidade de nutrientes disponíveis por feto diminui devido à competição fetal e, consequentemente, reduz o peso ao nascimento e aumenta a variação do peso da leitegada ao parto. Fica claro que os programas atuais de nutrição estão levando a um desbalanceamento na nutrição materna durante a gestação, impedindo o fornecimento adequado de nutrientes para suportar as necessidades metabólicas das porcas e de seus fetos, o que tem sido um dos principais fatores responsáveis pela alta variação do peso ao nascimento e pela alta incidência de leitões com baixo peso ao nascimento observado nas fêmeas prolíficas.
O não atendimento das exigências nutricionais das fêmeas durante a gestação associado às necessidades nutricionais elevadas, para suportar mais fetos no útero, podem ser associados ao fenômeno denominado restrição do crescimento intrauterino (IUGR) e, por consequência, afetar negativamente o desempenho da leitegada, através do aumento na desuniformidade e redução do peso de nascimento dos leitões. Os efeitos da nutrição pré-ovulatória sobre os folículos e oócitos está associado com o efeito da nutrição sobre a concentração de hormônios circulantes, tais como hormônios de crescimento e leptina, mais em especial as concentrações de insulina e IGF-I. Concentrações sanguíneas de insulina e IGF-I são consideradas importantes mediadores dos efeitos da nutrição sobre os ovários. Considerando o papel relevante que a insulina e IGF-I podem desempenhar nas interações entre a nutrição e a reprodução das fêmeas, pode-se inferir que dietas que efetivamente promovam o aumento nos níveis de insulina plasmática e IGF-I venham a representar uma importante ferramenta para melhorar a uniformidade e peso ao nascimento das leitegadas. Possivelmente, a insulina e/ou IGF-I estão envolvidos, isto porque alimentando açucares de rápida absorção aumenta insulina plasmática e os níveis de IGF-I e o tamanho dos folículos. Consequentemente, a população de folículos torna-se mais uniforme, o que resulta em uma qualidade de oócitos e embriões também mais uniformes.
A restrição protéica tem sido relacionada com efeitos negativos observados durante a gestação. O nível de ingestão de lisina durante a lactação anterior afeta a distribuição e o tamanho dos folículos na população pré-ovulatória, a atividade esteroidogênica dos folículos maiores e a habilidade do folículo em suportar maturação do oócito (qualidade folicular). Já o nível de energia da dieta também tem sido investigado como um fator relacionado ao desenvolvimento da placenta e fetal. Alguns trabalhos têm mostrado que a suplementação de MUFA (ácidos graxos monoinsaturados) durante a primeira metade da gestação tem mostrado resultados benéficos através da redução de leitões com peso baixo ao nascimento, já o fornecimento de d ietas com níveis elevados de PUFA (ácidos graxos poliinsaturados) tem um efeito inverso. A utilização de aditivos pode ser uma alternativa para melhorar o desempenho da leitegada durante a gestação. A suplementação da ração com L-carnitina ou L-arginina durante a gestação aumenta o tamanho e peso da leitegada ao nascimento por impactar diretamente no processo de angiogênese melhorando a eficiência placentária.
O programa de seleção genética balanceado mudou completamente o perfil produtivo das fêmeas modernas. Essas matrizes são mais precoces, mais produtivas, possuem maior peso corporal e são mais exigentes nutricionalmente. Além disso, apresentam menor reserva corporal de gordura e padrão de consumo de alimento muitas vezes insuficiente para atender a demanda nutricional da fase de gestação e lactação.
Como observado, a nutrição de fêmeas modernas não é uma tarefa simples. Vários fatores podem interferir na capacidade produtiva e reprodutiva desses animais. A nutrição protéica da fêmea gestante deve ser diferenciada segundo a ordem de parto. Na lactação a preocupação não deve ser somente a produção de leite e o crescimento da leitegada, mas também a perda de peso da fêmea, que poderá impactar sobre a qualidade de leitões nascidos no parto seguinte. O estabelecimento de um programa nutricional deve levar em consideração o potencial genético do animal, o número de fetos, o desenvolvimento do aparelho mamário, a capacidade de consumo de alimento, a produção de leite e a mobilização de tecidos corporais. Sendo assim, na suinocultura de hoje, cada genética possui su as exigências e recomendações, devendo o produtor buscar adequar sua nutrição e manejo alimentar às recomendações da genética em uso.
Prof. Dr. Bruno A. N. Silva - consultor da TOPIGS do Brasil, Nutrição de Suínos e Adaptação Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG/ICA).
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