Para 'rei da maconha', a revolução verde já começou Perto de se tornar o primeiro bilionário da produção da erva, o empresário holandês Arjan Roskan falou ao Terra e apoiou movimento global pela legalização da cannabis
O holandês Arjan Roskam deu início ao seu império de empresas de cannabis com a abertura de seu primeiro Green House Coffeeshop em Amsterdã, em 1992. Hoje o empresário conhecido como "Rei da Maconha" possui quatro coffee shops; lidera a Green House Seed Company, encarregada em procurar, manejar geneticamente, manter bancos de cannabis e vender as sementes; administra uma empresa especializada em nutrientes para o vegetal; além de uma produtora de documentários sobre expedições em busca de raras plantas de maconha no mundo --o Strain Hunters. Roskam deve se tornar em breve o primeiro bilionário da produção de maconha --negócio que se tornou ilegal na maior parte do mundo durante o século XIX, mas manteve-se permitido para uso religioso em localidades da Ásia.
Roskam tenta alcançar a normalização do comércio global da cannabis, seja para uso recreativo ou medicinal, e várias celebridades já visitaram seus coffe shops em Amsterdã, como o rapper Eminem, os cantores Lenny Kravitz e Alicia Keys e o boxeador Mike Tyson. Em entrevista ao Terra, o produtor de maconha avalia de forma positiva as recentes mudanças na legislação do Uruguai, do estado do Colorado (nos Estados Unidos) e os recentes movimentos pela legalização da maconha, como a celebração do Dia Internacional em 20 de abril e a marcha marcada para 26 de abril, em São Paulo. Confira a entrevista:
Terra - Com tantas marchas em todo o mundo em favor da legalização da maconha, é possível dizer que estamos diante de uma "revolução verde"?
A revolução verde definitivamente começou. O ano de 2014 é o ponto de inflexão global de legislação da maconha. Há não somente grandes desenvolvimentos no Colorado, Washington, Nova York, como também em outros estados importantes, como o Alasca e Oregon --ambos já tinham maconha recreativa na cédula de votação para o ano passado. Atualmente existem clubes sociais de cannabis na Nova Zelândia, Espanha, Bélgica, França, Alemanha e também na Holanda... Os países e os políticos estão cometendo erros, mas esperemos que também aprendam com seus erros. Por exemplo, a legalização da cannabis pode ter um impacto negativo sobre os agricultores pobres em áreas rurais, se eles não estiverem envolvidos no ciclo de produção quando a cannabis for legalizada. Se grandes empresas corporativas receberem esses contratos, esses pobres agricultores vão perder a renda do cultivo.
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Terra - Como foi sua primeira experiência com a maconha?
Incrível. Com 15 anos fumei meu primeiro baseado em Amsterdã.
Terra - O que o senhor destacaria como aspectos positivo e negativo do consumo de cannabis?
Como positivo, uma atmosfera tranquila, é muito social e um estimulante para dormir muito bom. Não vejo efeitos negativos se usado sabiamente.
Terra - O senhor tem hoje uma empresa que é referência na de produção e consumo de cannabis. Existe algo que ainda deseja alcançar em seu campo de trabalho?
Sim, que o mundo inteiro tenha acesso ao nosso produto em cada cidade. A Green House Seed Company é o negócio de cannabis de maior sucesso no mundo. Somos vencedores de vários prêmios internacionais --ganhamos 39 vezes a High Times Cannabis Cups, além de vários prêmios privados em muitos países, somos líder em genética de maconha. Fui aclamado Rei da Maconha pelo número recorde de prêmios ao longo de minha carreira. Comecei a colecionar genética e variedades locais de todo o mundo há 25 anos, e a caça ainda é relativa! A genética da nossa empresa são o resultado de anos de criação intensiva. Todas as cepas têm propriedades medicinais e recreativas excepcionais, bem como perfis de terreno particulares que garantem aromas e sabores únicos.
Terra - A Holanda é mundialmente famosa por sua abordagem tolerante quanto ao consumo de cannabis. Que aspectos da política holandesa o senhor considera que poderiam ser seguidos por outros países? E o que ainda poderia ser melhorado?
Atualmente, a “porta dos fundos” ainda não está organizada. Isso significa que todas as compras feitas pelo coffee shop ocorrem no mercado ilegal. Estamos tentando mudar isso e introduzimos um sistema que promove uma cadeia transparente.
Terra - O Uruguai se tornou o primeiro país a legalizar a comercialização da maconha. Como o senhor vê esta iniciativa do presidente José Mujica?
É um movimento muito positivo, mas há um monte de coisas no seu plano original que podem ser mudadas. Eletricidade, infra-estrutura, pesquisa, desenvolvimento, teste, educação, bibliotecas genéticas, certificação e custos com pessoal não tornarão possível produzir maconha em um grau de qualidade superior por um preço tão baixo. Se você quiser competir com o mercado ilegal e eliminar esse mercado, você tem que oferecer um produto melhor. Se a qualidade não for pelo menos básica, mas o preço for barato, as pessoas ainda vão comprar maconha de melhor qualidade no mercado ilegal em vez de comprar maconha barata do governo. Mas é uma grande medida de José Mujica para legalizar a maconha e é um bom exemplo para o resto do mundo.
Terra - O senhor esteve recentemente rodando a América do Sul em busca de novas plantas. Como definiria sua viagem?
Nossas viagens são muito intensas. Arriscamos nossa segurança para educar o mundo sobre como certas regiões dependem da produção de cannabis para se sustentar.
Terra - E o senhor já encontrou alguma planta especial no Brasil?
A "Mango Rosa" é uma grande variedade de canabis com origem no Brasil.
Terra - Amsterdã está cheia de turistas brasileiros que se demonstram aficionados ou pelo menos curiosos em relação aos coffee shops. Como o senhor descreveria o cliente brasileiro?
Os brasileiros estão entre os melhores clientes de nossos coffee shops. São muito simpáticos e extrovertidos e esperam que, um dia, suas próprias políticas sejam alteradas para refletir uma legislação semelhante em seu país.
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