Advogado define estratégia para defender famílias que ocuparam o residencial Famílias se cotizaram para bancar defesa na Justiça; também tentarão negociar diretamente com a CEF e falam em resistir à desocupação
Providenciar ligações clandestinas de água e energia elétrica, limpar os quintais e frentes das casas, ajeitar a mudança e se preparar para resistir de todas as formas a qualquer tentativa de desocupação. Esta tem sido a rotina das cerca de 500 famílias que há mais de duas semanas ocupam as casas do residencial André Maggi. A Caixa Econômica Federal, que ainda detém a propriedade do residencial, já conseguiu um mandado judicial para a reintegração de posse e chegou a acionar a Polícia Federal. Mas os ocupantes já constituíram um advogado e esperam reverter a situação também usando a lei.
"Não queremos nada de graça. Estamos dispostos a pagar uma taxa pequena, que caiba no nosso orçamento. O que não é justo é a gente continuar pagando aluguel sem poder, enquanto as casas ficam aqui vazias", diz Aline Gleice de Andrade, 25 anos.
Apesar da pouca idade, Aline tem quatro filhos pequenos e sustenta a família sozinha fazendo faxinas. Ela está sem trabalhar desde a ocupação. Fica em casa o dia todo, para assegurar a posse do imóvel. "Já fiz muitos cadastros e nunca consegui uma casa. Agora que estou aqui, não quero perder. Só vou sair quando tiver com a documentação em mãos", diz ela.
Marizete Dias, 28, também mantém plantão permanente no imóvel que ocupou. Ela estava entre as contempladas no cadastro inicial do Residencial André Maggi. Chegou a fazer festa em 2009 quando foi informada pela Caixa Econômica Federal, mas depois de anos de espera decidiu aderir ao movimento e hoje é uma das coordenadoras da ocupação.
"Não estou tomando nada de ninguém, só adiantei a ocupação. Tenho três filhos para sustentar e com a renda que consigo vendendo roupas com meu marido não dava para continuar pagando aluguel", diz ela.
Marizete disse que as famílias começaram a se organizar e estão concluindo um cadastro que vai ajudar a identificar a existência de oportunistas no meio do grupo. "Se tiver algum aproveitador, nós mesmos vamos expulsá-lo daqui. Mas aqueles que realmente precisam da casa vão continuar. Se tentarem nos tirar, haverá resistência. Eu mesmo só sairei daqui no caixão", afirma.
Na Justiça
Apesar da tensão, há também a expectativa de uma solução pacífica para o impasse. É que o cadastro vai auxiliar na coleta de cerca de dez mil reais que serão investidos no custeio das despesas judiciais visando reverter a situação atual dentro da lei.
O grupo contratou o advogado Nelson Pereira Lopes, que já definiu uma estratégia de defesa. Ele ingressou inicialmente com um pedido de dilação do prazo da liminar que determinou a desocupação dos imóveis e, além das medidas jurídicas, tentará também promover um acordo diretamente com a Caixa Econômica Federal.
Conforme Nelson Pereira Lopes a Polícia Federal já comunicou ao juiz federal Ciro José de Andrade Arapiraca que não tem como efetuar a remoção das famílias de forma coercitiva (com uso da força).
"A decisão sobre o nosso pedido de dilação de prazo deve sair até o dia 12. Mas, além disso, já estou preparando um agravo de instrumento. Se for preciso iremos até a última instância, em Brasília, para assegurar os direitos dessas famílias. A minha expectativa é positiva, até porque já tivemos um caso muito semelhante a este onde prevaleceu o interesse social", disse, referindo-se ao Jardim Atlântico.
O advogado revelou ainda que solicitou uma audiência com a direção da CEF em Brasília para tentar negociar uma solução administrativa. Segundo ele, as famílias estão dispostas a receber as casas inacabadas e negociar o pagamento dos imóveis.
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