Ex-secretária: Vítima ligou 100 vezes em um dia para Farah
A ex-secretária de Farah Jorge Farah, Rosângela Rosa da Silva, afirmou, nesta segunda-feira, que o ex-cirurgião chegou a receber mais de 100 ligações em um dia da vítima Maria do Carmo Alves. Farah está sendo julgado desde o início da tarde de hoje no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, acusado de matar e esquartejar a paciente e amante em 2003.
A testemunha de defesa e ex-secretária afirmou que o réu era perseguido por Maria do Carmo. “Eu explicava para ela que o doutor não podia atender ou que não estava na clínica, mas passou a ser uma perseguição. As ligações não paravam. Eu e a outra recepcionista chegamos a contar 100 ligações em um dia. Essa perseguição durou um ano e meio ou dois”, afirmou Rosângela.
Apesar de o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo ter planejado iniciar o processo ouvindo as oito testemunhas de acusação, ele optou por começar o julgamento por Rosângela por conta de sua condição física, já que está grávida de oito meses.
A ex-secretária defendeu Farah, dizendo que achava anormais as ligações de Maria. “Achei estranho porque ela ligava sem ter marcado depois do período de recuperação da cirurgia”, disse.
Questionada pelo advogado de defesa Marcelo Rafainni, Rosângela disse também que começou a ficar com medo de Maria, que por várias vezes esperava o ex-cirurgião do lado de fora da clínica. “Na época eu cheguei a pedir pro meu noivo me buscar porque várias vezes, quando estava indo embora ela estava na porta e queria falar com ele. Passei a ficar temerosa.”
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Após 30 minutos respondendo a perguntas da defesa, o promotor André Luiz Bogado Cunha tomou a palavra e passou a fazer perguntas. Segundo o membro do MP, Rosângela mudou o depoimento. “Você falou, em depoimento, que não havia anormalidade nas ligações de Maria do Carmo, por que agora você mudou?”, questionou. Rosângela respondeu dizendo que estava “incomodada” com a situação e não se lembrava do que havia dito.
Logo em seguida, por mais cerca de 20 minutos, o promotor questionou a ex-secretária a respeito da falta de higiene da clínica, além das suspeitas de assédio sexual às pacientes. “Não ouvi falar sobre assédio e nem de cirurgias que deram errado”, afirmou Rosângela.
Condenado em 2008 a 13 anos de prisão, Farah está sendo julgado novamente depois de o Tribunal de Justiça de São Paulo acatar pedido de sua defesa, em janeiro do ano passado, alegando que laudos oficiais que atestavam o estado semi-imputável do réu na época do crime foram ignorados pelos jurados. De acordo com a tese da defesa, no momento do crime o cirurgião não tinha compreensão total de sua conduta.
Réu confesso do crime, o cirurgião não nega ter assassinado Maria. Sua defesa, porém, diz que, em março de 2002, a vítima ligou 3.708 vezes para o cirurgião, o que o teria efeito agir sob pressão. A defesa de Farah disse também que a mulher o ameaçava e, no dia do crime, o teria atacado com uma faca.
A defesa sustentou que Farah não premeditou o crime e que ele foi perseguido durante cinco anos pela vítima. Durante o julgamento, o acusado disse que se lembra apenas de uma luta corporal com a vítima. Após a briga, Maria do Carmo teria sido esfaqueada no pescoço e, com o ferimento, morrido dentro do próprio consultório. Farah então teria deixado o local, ido para o seu apartamento, e voltado quatro horas depois.
Utilizando os seus conhecimentos de médico e instrumentos cirúrgicos do próprio consultório, ele teria dissecado o corpo da mulher, retirando o sangue e seus órgãos vitais. Em seguida, teria cortado o corpo de Maria do Carmo em nove pedaços. Os relatos mostram também que ele retirou a pele das pontas dos dedos da mulher e destruiu as partes que pudessem levar a uma identificação.
A mulher foi morta e esquartejada no consultório do ex-cirurgião em Santana, na zona norte de São Paulo. O crime ocorreu em 24 de janeiro de 2003, mas partes do corpo de Maria do Carmo só foram achadas pela polícia três dias depois.
Farah ficou preso por quatro anos até que, em maio de 2007, a Justiça o autorizou a esperar pelo julgamento em liberdade. Desde 2006, o cirurgião está proibido pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) de exercer a profissão.
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