Mapa prepara portaria para áreas de refúgio em lavouras transgênicas Segundo governo, medida deve começar a valer na safra 2014/15. Prática garante proteção de tecnologias no campo.
O Ministério da Agricultura estuda a elaboração de uma portaria instituindo áreas de refúgio – espaços de plantio convencional que ficam ao lado de outro transgênico. A prática é considerada pelos especialistas como uma forma de proteger a eficácia das tecnologias.
Atualmente, as empresas desenvolvedoras de biotecnologia fazem suas recomendações técnicas do espaço a ser destinado para as áreas com material não Bt (sem a tecnologia de proteção contra insetos). O Mapa diz que a primeira medida a ser tratada no documento será a adoção de recomendação das empresas quanto ao percentual dessas áreas nas propriedades, que é de até 20%.
O segundo ponto é a criação de um grupo de trabalho, composto por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Mapa, para avaliar o comportamento da estratégia a ser implementada em 2015. Segundo o ministro Neri Geller, o governo vai construir o texto da proposta em parceria com o setor produtivo.
Em Mato Grosso, ataques de lagartas em milho transgênico já acusaram o problema com a eficiência. Em consequência disso, os agricultores passaram a usar mais agrotóxicos nas plantações, além de as pragas ameaçarem a produtividade.
De acordo com os produtores, das quatro tecnologias existentes para o milho, duas perderam a eficáciaa.
Em abril deste ano, reportagem do programa MT Rural e do Agrodebate mostrou o cenário e contou a preocupação dos produtores rurais que, mesmo seguindo as recomendações da empresa responsável, registravam ataques de pragas no milho.
Foi o caso do produtor Daniel Schenkel, de Campo Verde, a 139 quilômetros de Cuiabá. Ele plantou 540 hectares com milho transgênico e, à época, previa uma redução na produtividade. Isso por causa dos ataques da lagarta Spodoptera frugiperda. “Teoricamente a tecnologia deveria funcionar assim: Você tem a tecnologia no pé, a lagarta então raspa, sente a tecnologia e aos poucos ela vai morrendo. Só que não é o que está acontecendo, a lagarta está comendo cada vez mais”, descreveu à época.
“Este ano nós fizemos três aplicações de inseticida. Já no milho convencional foram quatro aplicações. Então você paga bem mais caro por uma tecnologia que não dá resultado”. Schenkel calculava uma despesa de R$ 65 mil, aproximadamente R$ 40 por hectare, além do valor pago pelas sementes transgênica que é o dobro da comum.
Ainda no mês passado o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Carlos Fávaro, disse haver responsabilidade da indústria. “A empresa que vendeu as sementes tem que se responsabilizar por isso”. Segundo ele, a entidade está levantando os prejuízos no milho transgênico cultivado no estado.
Outro lado
A DuPont Pioneer, empresa responsável pela comercialização das sementes Yeldgard e Herculex citadas na reportagem, reconheceu, em abril, por meio de nota, que já há casos de resistência da lagarta-cartucho ao milho transgênico. A multinacional diz que está trabalhando com os produtores para desenvolver práticas de manejo mais eficientes para estender a durabilidade da tecnologia e reforça que esta variedade continua oferecendo controle efetivo contra outras pragas.
O refúgio
O objetivo da técnica do refúgio é garantir à suscetibilidade dos insetos às toxinas do transgênico. No entanto, se a área não for delimitada corretamente, o uso da tecnologia Bt corre o risco de se tornar ineficiente, uma vez que pragas mais resistentes podem se desenvolver.
Esses espaços ainda não são regulamentados no Brasil e necessitam de parâmetros federais, inclusive para fiscalização. A intenção do governo brasileiro é que sejam adotadas regras semelhantes às utilizadas nos Estados Unidos e na Austrália, mas com padrões adaptados à realidade brasileira.
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