Cuiabá: trincheira para a copa não sai antes do fim de junho
As obras da trincheira Trabalhadores/Jurumirim têm novo prazo de conclusão para 30 de junho, com a possibilidade de avançar ainda na primeira semana de julho, conforme informou o consórcio Sobelltar-Secopa. A obra terá um terceiro aditivo de prazo, já protocolado junto à Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo Fifa 2014 (Secopa), que ainda não anunciou oficialmente a dilatação do prazo de entrega da obra, que deveria ser concluída em 31 de maio.
Engenheiro da obra, Luiz Mello disse que a meta é liberar as marginais da trincheira e as rotatórias até 10 de junho. Os motoristas vão poder acessar a parte debaixo da trincheira cerca de 20 dias depois da liberação da parte superior.
A obra tinha previsão inicial de ser concluída em 1 ano. A ordem de serviço foi dada em 10 de abril de 2012 e a empresa pediu, no ano passado, mais 2 prazos de 180 dias cada para a conclusão.
Mello elenca uma série de fatores que culminaram no atraso da obra, que tem tirado a paciência da população e da própria equipe das empreiteiras responsáveis. A obra já iniciou atrasada. As equipes começaram a ir para as frentes de trabalho com atraso de 1 mês e 7 dias devido à demora da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes Urbanos (SMTU) em interditar as avenidas. “Se somar toda a demora entre o pedido para interdição para o avanço das frentes de trabalho são 127 dias”, disse Mello mostrando a planilha com os detalhes da obra.
O engenheiro elaborou um dossiê de 550 páginas com fartas informações sobre o andamento da obra, desde o contrato assinado até a execução mais recente e protocolou o documento no dia 29 de abril no Tribunal de Contas do Estado (TCE) e na Secopa em 30 de abril.
O dossiê revela ainda que outro entrave no avanço da obra, logo no início da trincheira, foi uma adutora da CAB Cuiabá na avenida Dante de Oliveira, cruzando a avenida Miguel Sutil. “A CAB levou 417 dias para retirar a adutora do local e tivemos que iniciar outras etapas para não perder tempo. A CAB não tinha cadastro das redes de água e não puseram um técnico para acompanhar os trabalhos, conforme foi solicitado”.
A ideia era iniciar a trincheira pela parte mais baixa do terreno. No sentido do Jardim Leblon para o viaduto, mas as escavações tiveram que começar pelo outro lado, em razão da adutora.
O projeto da trincheira com falhas, sem detalhes e especificações com as quantidades corretas de material para ser utilizado também atrapalhou a celeridade da obra. O consórcio, por exemplo, gastou mais aço do que o previsto no projeto e teve que fazer modificações como, por exemplo, no tipo de vigas da trincheira. Contudo, entre o prazo de mudar e de fato acontecer foram mais 6 meses.
Projetos sem especificações -A qualidade dos projetos das obras da Copa do Mundo já foi alvo de críticas de engenheiros do Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia (Crea/MT) e de professores do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). “Se não tivesse tanta interferência no projeto, poderíamos ter concluído a obra em 18 meses. Nos meus 27 anos de engenharia, já trabalhei em várias obras, como a construção de 2 Carrefour, um shopping em São Paulo, onde tinha 5 mil pessoas trabalhando na obra, mas esta trincheira foi a obra mais complicada, não o projeto em si, mas os problemas e as interferências que foram surgindo”, comentou Mello.
A demora no pagamento da Secopa ao consórcio durante execução da obra também pesou para a alteração do cronograma. Os trabalhadores já fizeram greve porque não recebiam mais horas extras e os salários passaram a atrasar. Muitos dos peões de obra são oriundos de outros estados e não poderiam esperar e, em agosto de 2013, eles chegaram a cruzar os braços por alguns dias.
Com um custo de R$ 300 mil/mês para bancar a estrutura do escritório e os 130 trabalhadores que ainda estão na ativa, a empresa começa a ter prejuízos com a demora na execução. Mello não quis dizer a quantia, mas passa da cifra de milhões.
Maior obra - A trincheira Trabalhadores/Jurumirim tem 960 metros de extensão, a maior de todas as trincheiras em execução abrangerá o trecho um pouco antes da avenida Dante de Oliveira (Trabalhadores) até depois do cruzamento da avenida Gonçalo Antunes de Barros (Jurumirim), próximo ao viaduto da avenida Historiador Rubens de Mendonça (CPA).
A obra integra o pacote de intervenções de travessia urbana, resultado de um convênio entre governo do Estado e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Conforme a Secopa, o valor inicial da obra foi de R$ 39,3 milhões e agora esta estimada em R$ 46,6 milhões. Mas a justificativa do governo para o atraso na obra são as desapropriações, adequação de projeto e atraso no repasse do financiamento do Dnit.
Outro lado - Por meio de nota, a CAB Cuiabá refuta as alegações do Consórcio Sobelltar-Secopa e esclarece que concluiu todas as ações (projetos básico e executivo, mobilização e execução das obras) para remanejamento de tubulações nas trincheiras conforme convênios firmados com a Secopa e dentro dos prazos estabelecidos em contrato. “Todos os projetos de remoções de interferências executados pela concessionária de água nas obras das trincheiras foram aprovados pela Secopa, cabendo à gerenciadora a compatibilização entre todos os projetos que compõem a execução das trincheiras”, informou a empresa.
Secretário municipal de Trânsito e Transportes Urbanos, Antenor Figueiredo disse que o engenheiro do Consórcio Sobelltar está mal informado e a SMTU não demora para fazer interdições. “A gente só não libera caso o projeto não esteja de acordo com normas técnicas e não há sinalização ou se os desvios são em locais inapropriados. Nunca colocamos obstáculos no andamento das obras da Copa”.
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