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Internacional
Segunda - 26 de Maio de 2014 às 21:58

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Os partidos nacionalistas e eurocéticos (contrários à integração europeia) se confirmaram como grandes vitoriosos das eleições para o Parlamento Europeu (PE) ao conquistar mais de cem dos 751 assentos da casa, uma ascensão histórica frente aos 53 da legislatura anterior.

A votação, realizada entre 21 e 25 de maio nos 28 países da União Europeia (UE), com uma taxa de abstenção de 57%, define o único órgão do bloco eleito diretamente para representar seus mais de 500 milhões de cidadãos.

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A maior surpresa foi registrada na França, onde o partido de extrema-direita Front National (FN) conseguiu 25% dos votos e terá direito a pelo menos 23 dos 74 assentos designados à França na Eurocâmara, comparado com três na última legislação.

O governo socialista francês convocou uma reunião de urgência nesta segunda-feira para analisar um resultado que qualificou de 'terremoto político'.

'Este é um momento muito sério e grave para a França e para a Europa. Estamos em uma crise de confiança, uma ira que repercute também na adesão ao projeto europeu', disse o primeiro ministro da França, Manuel Valls, em um discurso na rede de televisão pública.

'As pessoas falaram alto e claro', comemorou uma triunfante Marine Le Pen, presidente da FN.

'Elas não querem mais ser lideradas por aqueles que estão fora das nossas fronteiras, por comissários e tecnocratas da União Europeia que não são eleitos. Elas querem ser protegidas contra a globalização e retomar as rédeas do seu destino', acrescentou.

Os anti-UE também ficaram em primeiro lugar no Reino Unido, onde o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) somou 27,5% dos votos; na Grécia, com o partido de esquerda radical Syriza reunindo 26,7% dos votos; e na Dinamarca, onde o ultra-nacionalista Partido Popular Dinamarquês obteve 23%, quase dez pontos porcentuais a mais que em 2009.

Além disso, muitos países enviarão pela primeira vez deputados eurocéticos a Bruxelas.

É o caso da Alemanha, país com o maior número de representantes no PE (96), que elegeu este ano seis deputados do partido Alternativa para Alemanha (AFD), criado em 2013 com um discurso contra o euro, além de um deputado do partido de extrema-direita NPD.

Pela primeira vez, a Polônia elegeu quatro deputados contrários à UE, e a Suécia, um.

Holanda, Itália, Bélgica, Finlândia, Hungria e Áustria também contribuíram para o saldo de anti-UE na Eurocâmara, como projetavam as pesquisas de opinião.

Maioria

Para Henri Malosse, presidente do Comitê Econômico e Social Europeu, órgão representante da sociedade civil na UE, o resultado mostra que, 'uma vez mais, as grandes questões que preocupam os cidadãos europeus não foram abordadas'.

'Não se propôs nenhum projeto político alternativo face às críticas dos eurocríticos. A partir de agora, a prioridade deve ser reconquistar a confiança dos cidadãos para que voltem a acreditar no projeto europeu', afirmou.

O conservador Partido Popular Europeu (PPE) manteve seu domínio na Eurocâmara, apesar de diminuir a vantagem frente ao Partido Socialista (PSE): 212 assentos contra 186, comparado com 275 contra 194 nos últimos cinco anos.

A Aliança de Liberais e Democratas (ALDE) continua como a terceira força do plenário, mas cai de 85 para 70 assentos.

Diante desses resultados, o fortalecimento dos anti-UE não deverá ter um impacto prático sobre o Parlamento Europeu, acredita Pieter Cleppe, analista do centro de estudos Open Europe.

A existência de diferentes tendências entre os eurocéticos deve dificultar a fomação de mais um grande bloco.

'Entretanto, bagunçará as políticas nacionais, especialmente as relacionadas à UE. O presidente francês, (François) Hollande, provavelmente enfrentará tipos como os do (partido grego) Syriza tentando levar seu partido mais para a esquerda, lutando contra a supervisão fiscal da UE', afirmou em entrevista à BBC Brasil.

O presidente do britânico UKIP, Nigel Farage, afirmou que sua vitória nas eleições europeias obriga o primeiro ministro, David Cameron, a ser mais severo nas negociações com a UE.

'Os eleitores estão fundamentalmente descontentes com a interferência da UE naquilo que acreditam que deveria ser decidido nacional ou localmente', observou Cleppe.

Alianças

Para conhecer a tendência do novo PE é preciso ainda esperar até meados de junho, quando se concluirá a formação dos grupos políticos, que reúnem partidos de diferentes nacionalidades com linhas de pensamento parecidas.

Andreia Ghimis, analista do centro de estudos Europen Policy Centre, ressalta que os diferentes perfis dos deputados eurocéticos eleitos para o PE poderia dificultar a formação de um novo grupo, como o Aliança Europeia pela Liberdade (EAF, do inglês), idealizado pelo FN francês, partido de extrema-direita.

Dois de seus possíveis aliados, o PVV da Holanda e o Vlaams Belang da Bélgica, tiveram resultados piores do que se esperava.

Ao mesmo tempo, o UKIP, que já encabeça um grupo eurocético na Eurocâmara - Europa da Liberdade e Democracia (EFD, do inglês), sempre se disse contra uma aliança com o FN por considerá-lo racista.

O partido francês também é rejeitado pelo nacionalista flamengo N-VA, primeiro colocado na Bélgica, que na passada legislatura preferiu aliar-se ao grupo ecologista.

Por outro lado, o grupo conservador PPE poderia sofrer uma fissura, com membros de partidos centristas migrando para o liberal democrata ALDE e outros de filosofia mais à direita unido-se ao novo EAF, enquanto que o eurocético EFD poderia substituir o grupo ecologista dos Verdes como quarta força do plenário se atrair alguns dos 67 novos deputados ainda não aliados a nenhum grupo.

Os grupos precisam ter no mínimo 25 membros do Parlamento de pelo menos sete países. A participação em um grupo garante mais influência a um parlamentar, além de verbas do PE.





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