Mais de 160 países têm encontro marcado a partir de segunda-feira (8) em Hyderabad, na Índia, para debater como concretizar ambiciosos compromissos assumidos há dois anos no Japão sobre a biodiversidade do planeta.
A 11ª Conferência das Partes (COP) da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) reunirá até 19 de outubro membros desta convenção da ONU, que nasceu há 20 anos durante a Cúpula de Terra, no Rio de Janeiro -- a Rio 92.
As nações deverão resolver com que instrumentos e, principalmente, com quais financiamentos poderão frear o desaparecimento de espécies ameaçadas. "Os próximos dez a 20 anos são fundamentais visando ao tempo que temos para proteger melhor a biodiversidade", ressalta Neville Ash, diretor da seção de biodiversidade do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Espécies de animais e vegetais ameaçadas
Superexploração dos recursos, desmatamento, poluição, mudanças climáticas: a taxa de extinção das espécies é hoje até mil vezes mais elevada do que antes, lembram os cientistas.
Uma em cada três espécies de anfíbios, mais de um pássaro em cada oito, mais de um mamífero em cada cinco, mais de um quarto das espécies de coníferas e também um grande número de peixes e cetáceos estão ameaçados de extinção.
Esta erosão não apenas se limita à questão do desaparecimento das espécies, mas também afeta as economias globais, com muitos setores que dependem de um meio ambiente em bom estado. Em 2010, "ano internacional da biodiversidade", a conferência de Nagoya, no Japão, teria permitido a adoção de compromissos ambiciosos.
Uma ambição encarnada por 20 objetivos para 2020 (como suprimir os subsídios "nefastos" para o meio ambiente ou lutar contra a pesca excessiva) e um acordo histórico sobre um protocolo para distribuir de forma mais igualitária os benefícios da exploração de recursos genéticos para as indústrias, como a farmacêutica ou a cosmética.
Imagem aérea do Rio Juruá, na Amazônia. Conferência da ONU vai discutir formas de preservar a biodiversidade no mundo (Foto: Bruno Kelly/Reuters)
Plano de preservação tem que ser implantado
Em Hyderabad, onde são esperados os representantes de mais de 160 países dos 193 membros da Convenção, "é preciso manter o impulso colocando em andamento este grande plano", indica Julia Marton-Lefèvre, diretora-geral da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Ainda há muito a ser feito. Apenas seis países ratificaram até o momento o protocolo de Nagoya, que precisa de cinquenta ratificações para entrar em vigor.
O principal ponto de tensão - e fonte de divisões entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos - deve ser o financiamento necessário até 2020 para alcançar os objetivos fixados. Esta questão, especialmente delicada no contexto econômico atual, não foi resolvida em Nagoya.
O objetivo é cifrar melhor as somas necessárias e, por outro lado, ver quais compromissos poderão ser assumidos pelos países ricos.
O brasileiro Braulio Dias, secretário-executivo
da Convenção sobre Diversidade Biológica
da ONU. (Foto: Divulgação/MMA)
Desafios pela frente
À frente do órgão máximo da ONU para a biodiversidade, o brasileiro Braulio Dias, secretário-executivo da CBD, afirmou ao G1 que o encontro na Índia tratará de temas delicados em pleno período de recessão econômica, que atinge principalmente a União Europeia e os Estados Unidos.
Ele explica que para atacar o que afeta a biodiversidade no mundo é preciso de muito dinheiro.
Ainda não existe um número fechado, mas Dias estima que para um único tópico dos 20 objetivos, que refere-se à ampliação de áreas protegidas no mundo, será necessário investir nos próximos oito anos até US$ 600 bilhões.
A dificuldade que a conferência deve enfrentar será a mesma já ocorrida em negociações como a climática: países ricos dizendo que não têm dinheiro e nações pobres cobrando investimentos e se isentando de possíveis aportes para “salvar o mundo”.
No Brasil
Sobre a biodiversidade no Brasil, Braulio Dias afirma que os recursos disponibilizados pelo governo federal para as unidades de conservação (UCs) do país não são suficientes. Para ele, é necessário dobrar o investimento.
Dados de um relatório da ONU sobre UCs divulgado em 2011 revela que o Brasil possui a quarta maior área do mundo coberta por unidades de conservação (1.278.190 km²), mas investe apenas R$ 300 milhões ao ano. De acordo com o governo federal, é o mesmo valor desde 2001 para gastos com folha de pagamento e investimentos em infraestrutura.
“É significativo ampliar recursos para assegurarmos as UCs do Brasil. A principal demanda no Brasil é que as unidades de conservação criadas carecem de fiscalização plena. Ainda estamos longe de alcançar a meta de termos todas as unidades plenamente efetivas, mas tem havido um avanço importante”, explica Dias.
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