Fingi ser estrangeiro para ficar com menina, diz brasileiro Tática de se passar por torcedor de outro país para flertar durante a Copa tem se tornado recorrente em bares e baladas
Anthony Leão (esq.) e Ricardo Silva dos Reis contam peripécias na noite de Porto Alegre
Desde a ida de holandeses e australianos a Porto Alegre, as ruas da cidade viraram uma verdadeira micareta. Depois das 18h, em dias de jogos maiores, o bairro boêmio da Cidade Baixa é praticamente fechado para a festa, e como não poderia deixar de ser, a "pegação" rola solta. No entanto, a preferência feminina parece ter sido pelos europeus, o que fez com que os brasileiros se passassem por estrangeiros para tapear mulheres em busca de gringos.
"Eu me fiz de estrangeiro em uma balada e fiquei com uma menina. Depois disse que era daqui, mas ela ficou brava", contou Anthony Leão, 20 anos, que é crítico quanto a postura das gaúchas ao preferirem os gringos. "Muita mulher reclama que não tem homem em Porto Alegre, que eles não chegam. Mas é bem o contrário, elas estão muito bem servidas. Reclamam de barriga cheia", afirma o jovem.
Mas não é apenas Leão que critica a postura das gaúchas. "Acho ridículo, porque estão ficando com eles não porque querem, só porque podem", afirmou Ricardo Silva dos Reis, 23 anos. Entretanto as mulheres discordam, afirmando que a pegação é semelhante ao que se vê em qualquer festa. "É uma coisa normal de festa. Vieram homens bonitos e diferentes do que estavamos acostumadas... não é nada diferente do que se vê nas festas", rebate Lais Machado Hoscheidt. O que é motivo de comemoração entre os gaúchos se torna celebração entre os estrangeiros.
As feições da população gaúcha (olhos claros, loiros e etc.) oriundas das origens alemãs e italianas confundem até quem já está acostumado, tanto que alguns chegam a ser confundidos com gringos.
"Fui almoçar em um restaurante e juntei um papel que uma menina deixou cair no chão. Ela me agradeceu e começou a falar em inglês comigo, respondi no mesmo idioma, mas disse que era daqui. Ela falou 'ah', e simplesmente me deu as costas", contou Ricardo, que critica o que considera uma "falta de pudor das mulheres". "É bem o que saiu no Zero Hora (jornal local), está acontecendo um Carnaval e nós não fomos convidados. Me sinto de fora".
Pelo menos aos olhos femininos, o interesse pelos estrangeiros parece ter afetado a auto-estima dos gaúchos. "O que posso dizer é que jamais vi os homens porto-alegrenses tão cabisbaixos na noite, como conhecedores do destino pouco frutífero que os espera. É como se eles estivessem lá somente para curtir a paisagem: não há qualquer ação da parte dos brasileiros. Dá para notar claramente o olhar de desesperança no rosto deles com a chegada dos estrangeiros", contou Roberta Gomes.
Talvez o desespero de brasileiros se passando por gringos fosse fruto de um total controle feminino da situação, "o que acho ótimo", diz Roberta, que foi testemunha que tentativas frustradas de paquera de gaúchos tentando se passar por gringos.
"Ao abordar algumas meninas com 'hola, chicas' ou 'how are you' macarrônicos na esperança de virar algumas cabeças que passavam reto por eles, mas acabavam caindo na gargalhada e deixando bem claro que essa técnica definitivamente não iria funcionar".
Porto Alegre não é exatamente uma cidade turística. Esse título fica para cidades da Serra como Gramado. Talvez por isso, a chegada de tanta gente diferente tenha causado tanto furor entre a população. "Nós, porto-alegrenses, não estamos acostumados a tanta diversidade e para quem gosta de ouvir e conviver com tantos idiomas diferentes, essa é uma oportunidade única pra fazer isso", analisa Roberta.
Invasão argentina
Desde o final da semana passada começou a segunda parte da invasão estrangeira na capital gaúcha. Mas desta vez quem chegam são os argentinos, muito menos tímidos e mais familiarizados com o Rio Grande do Sul, dada a proximidade cultural.
"Os argentinos que eu vi aqui, pelo menos, não são tão bonitos como os que eu vi em Buenos Aires. Os que vieram são mais fanáticos por futebol, não querem saber de muita coisa (em relação aos europeus) São um pouco mais passados na cantadas", conta Lais.
"O olhar dos argelinos para as brasileiras era bem mais evidente do que os dos tímidos coreanos. Ouvi uns quantos ‘son hermosas’ ou ‘para dónde van, chicas?’. Mas de todas as nacionalidades, sem a menor dúvida, os argentinos são os mais incisivos. Na mesa do bar em que estávamos sentíamos os olhares pouco discretos de uns cinco sentados à frente falando bem alto. Acho que eles estavam ali para descolar uma companhia mesmo, porque na hora em que fomos pagar a conta e ir embora, eles já tinham se mudado para a mesa vizinha de umas meninas", relata Roberta.
As autoridades gaúchas estimam que o número de argentinos que deve ir para o Rio Grande do Sul varia entre 80 mil e 120 mil pessoas, sendo que a maioria não tem ingresso para ver o jogo de quarta-feira contra a Nigéria.
Por isso, é quase certo que a festa será na rua, como no Carnaval. Mas talvez a familiaridade das gaúchas com os argentinos possa aumentar as chances dos guerreiros das festas em busca de um par, ou apenas de um beijo das incontestavelmente belas mulheres gaúchas.
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