Com mudança de temperatura, principal adversário da seleção brasileira é a desidratação Calor pode prejudicar a qualidade do desempenho dos atletas
Vigor e boa preparação física são características evidentes dos jogadores de futebol, especialmente em época de Copa do Mundo. O problema é conseguir conciliar o bom desempenho com o contraste climático que os atletas são obrigados a enfrentar quando viajam pelo Brasil para disputarem uma partida. Nesta sexta-feira (4), por exemplo, a seleção brasileira enfrenta a Colômbia, na Arena Castelão, em Fortaleza, cidade em que os termômetros chegam ultrapassar 35 ºC mesmo no inverno. Porém, o local de treinamento é a Granja Comaryde, em Teresópolis (RJ), região conhecida pelas baixas temperaturas, com neblina e alta umidade relativa do ar.
Segundo o preparador físico Carlinhos Neves, do Atlético-MG e ex-seleção brasileira, “o calor é o grande vilão dos atletas de todos os times porque desidrata o corpo, o que desencadeia aumento da frequência cardíaca, perda de energia e queda do desempenho”.
— Temos visto muitos jogadores se arrastando ou com câimbras no final da partida, o que não significa falta de condicionamento físico, mas falta de adaptação ao clima.
Calor aumenta o risco de pedras nos rins
Para o organismo ajustar-se as mudanças climáticas, é preciso passar por um processo chamado aclimatação, explica o fisiologista do esporte Paulo Roberto Correia, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
— Isso aconteceu já que os jogadores de todos os times chegaram antes ao Brasil para a adaptação à pressão, altitude e temperatura. Mesmo assim, se submeter a temperaturas elevadas, como as das regiões Norte e Nordeste do País, é desgastante não só para os atletas que vivem em países frios como para os próprios brasileiros.
Segundo Correia, o exercício físico associado ao calor pode resultar em queda da pressão, fraqueza, dor de cabeça, tontura, náusea e sonolência, especialmente para quem não está aclimatado. Outro problema ocasionado pela desidratação é a câimbra, já que a transpiração faz o corpo perder água e sódio, adverte Correia.
— A desidratação, a carência de sais minerais, especialmente o potássio, e o uso exagerado da musculatura são fatores que contribuem para o estresse muscular e câimbras.
No entanto, o preparador do Atlético-MG alerta que o impacto da mudança de temperatura na saúde não se limita apenas aos jogadores.
— Todo mundo sofre. A diferença é que o atleta resiste por mais tempo, desde que mantenha a hidratação antes e durante a partida. Caso contrário, a falta de líquido e sais minerais no corpo pode influenciar no rendimento.
Por isso, o fisiologista da Unifesp avisa que a melhor temperatura para praticar exercício físico sem interferência no rendimento é entre 15 ºC e 16 ºC.
Problemas respiratórios
Já o pneumologista Clystenes Odyr Soares, professor da disciplina de Pneumologia da Unifesp, alerta que quando os termômetros despencam os prejuízos também são sentidos pelo sistema respiratório.
— O frio associado ao ar seco e poluído provoca dor ou coceira na garganta, ressecamento do nariz, espirros e, em alguns casos, até sangramento nasal.
Segundo o médico, que também é membro da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), o quadro se agrava em pacientes com asma, bronquite, rinite, sinusite e enfisema pulmonar.
— A condição climática também contribui para o aumento das alergias respiratórias, especialmente por causa da poluição das grandes cidades.
Nesta época do ano, Soares ressalta que os atendimentos em pronto-socorro e no próprio consultório aumentam entre 30% e 40% por causa de infecções respiratórias.
— As pessoas estão mais propensas a desenvolver gripes, resfriados sinusite e pneumonia, este último especialmente em crianças e idosos que têm o sistema imunológico mais frágil.
Comentários