Setor registra aumento de 17%, mas ainda teme falência Número de leitos dobrou nos últimos anos e ocupação preocupa
Com o fim da Copa do Mundo em Cuiabá, os empresários da rede hoteleira voltam a se preocupar com o futuro do setor, que praticamente dobrou seu número de leitos desde que a Capital foi anunciada como uma das sedes do Mundial de Futebol.
Após registrar um aumento de 17% no faturamento dos hotéis no mês de junho, quando a Capital recebeu quatro jogos da primeira fase da Copa, a preocupação do segmento é quanto à ocupação e retorno dos investimentos feitos pelos empresários para adequar os empreendimentos para o evento.
Em 2009, quando Cuiabá foi escolhida como sede, Cuiabá e Várzea Grande contavam com 8,5 mil leitos. Hoje, o número passa a casa dos 15 mil e, até o final do ano que vem, deve chegar a 17 mil leitos, uma vez que há 12 hotéis ainda em construção nas duas cidades.
Tony Ribeiro/MidiaNews
Luiz Carlos Nigro: "Esperávamos mais porque achávamos que os turistas fossem ficar mais tempo na cidade" Ao MidiaNews, o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Mato Grosso (SHBRS/MT), Luiz Carlos Nigro, afirmou que os empresários esperavam um crescimento muito maior do setor.
“Esperávamos mais porque nós achávamos que os turistas fossem ficar um período maior de tempo. A média de estadia foi de dois dias, chegando no dia anterior do dia jogo. Esperávamos que a pessoa viesse conhecer a cidade, o Pantanal...”, disse.
“Cuiabá não tem demanda para preencher todos esses leitos criados. Hoje, a taxa de ocupação dos hotéis muito provavelmente vai cair dos atuais 60% para 35%”, avaliou.
De acordo com o presidente, o turista não ficou mais tempo na Capital por dois pontos: primeiro, por haver muitos torcedores seguindo sua seleção, como foi o caso dos chilenos e colombianos; segundo, porque a Secretaria de Estado de Turismo (Sedtur) “não fez nada em prol do setor em Mato Grosso”.
"Teté [Bezerra, ex-secretária da Sedtur] recebeu a Chapada toda funcionando e a entregou toda fechada. Faltou um atrativo que realmente segurasse o turista aqui." “Teté [Bezerra, ex-secretária da Sedtur] recebeu a Chapada toda funcionando e a entregou toda fechada. Faltou um atrativo que realmente segurasse o turista aqui. Salgadeira, Portão do Inferno, Mirante, tudo está fechado. Véu da Noiva está em estado precário. Você vai para o Pantanal, a Transpantaneira está inacessível. Nobres também sem infraestrutura. Então, realmente, precisam investir mais na questão da infraestrutura. Temos muito potencial turístico, mas o produto acabado para pôr na prateleira e vender, nós não temos”, criticou.
Conforme Nigro, mesmo os hotéis trabalhando com pacotes turísticos para o Pantanal ou para a Chapada dos Guimarães, por exemplo, menos de 1% do público optou por vir a Capital por meio dessas vendas casadas ou quis aproveitar a visita para conhecer qualquer outra região do entorno.
Lotação
A grande preocupação do setor – e também do Governo do Estado – era de que faltassem quartos de hotel para acomodar a todos os torcedores, o que não ocorreu, segundo Nigro.
“Em todos os dias de jogos tivemos 100% de ocupação. Nas noites do jogo, todos os hotéis estavam com 100% de ocupação. No dia anterior de cada jogo, tivemos 80% de ocupação. Mas não faltou hotel, que era a nossa preocupação. Não precisamos de motel, escolas, nada disso”, explicou.
"Cuiabá não tem demanda para preencher todos esses leitos criados. Hoje, a taxa de ocupação dos hotéis muito provavelmente vai cair dos atuais 60% para 35%" Segundo Nigro, o perfil do público que veio para Cuiabá também contribuiu para isso.
“Tínhamos muitos mochileiros, por exemplo. Mas a rede hoteleira de Cuiabá e Várzea Grande conseguiu comportar a todos, atender a demanda. A região de Poconé e Chapada também teve ocupação”, afirmou.
Restaurantes
Segundo Nigro, o crescimento no faturamento também foi sentido pelos bares e restaurantes, principalmente aqueles concentrados na região da Praça Popular, Goiabeiras e entorno da Arena Pantanal e Fifa Fan Fest.
“O aumento do faturamento desses bares e restaurantes foi de 28%, em comparação com o mesmo período do ano passado. Em compensação, aqueles estabelecimentos que não se encontram nessa região nem sentiram o movimento. Em outros, caiu o movimento, porque a festa tirou o público de outras regiões e concentrou tudo em um lugar só”, disse.
"Hoje, os turistas virão para cá para visitar o quê? A tábua de salvação nossa é o investimento em realização de grandes eventos aqui em Cuiabá" O medo do desabastecimento também não afetou o setor. De acordo com Nigro, o que contribuiu para isso foi a não mudança do Centro Atacadista do Verdão para o novo espaço, no Distrito Industrial, antes da Copa do Mundo.
“Teríamos problema de desabastecimento se tivessem mudado a feira de lugar naqueles dez dias antes da Copa. Aí seria um caos, porque o pessoal não ia se adaptar, não teríamos os carregamentos diários. A mudança tem que ser feita com calma, sem a realização de evento”, defendeu.
Futuro do setor
Para Nigro, para que o turismo volte a crescer em Mato Grosso e o setor hoteleiro evite a falência, é necessário que não apenas o Governo, mas os empresários tragam grandes eventos para a Capital.
“Hoje os turistas virão para cá para visitar o quê? A tábua de salvação nossa é o investimento em realização de grandes eventos aqui em Cuiabá. Temos agora um parque hoteleiro moderno, infraestrutura de aeroporto e mobilidade urbana. Agora, o parque hoteleiro precisa agir positivamente para que a gente possa captar grandes eventos para Cuiabá, que antes não vinham por falta de hotéis, como é o caso de eventos da Soja e Algodão, Agrishow, porque agora temos capacidade de comportar a todos. Tem uma saída, mas precisa de ação”, disse.
Segundo ele, apesar das preocupações, ele acredita que o turismo em Cuiabá “nunca mais será o mesmo”.
“A cidade só é boa para o turista se, em primeiro lugar, ela for boa para a população, com hospital, calçada, locais para a população curtir o fim de semana, programação, tudo. Nós sentimos, nesses dias de Copa, um gostinho de como é ser uma cidade turística. Essa é a primeira vez na história em que isso acontece, porque até então sempre fomos uma cidade comercial, empresarial e de negócios”, avaliou.
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