Operários entram e greve e canteiros de COTs são fechados Eles reclamam de não depósito do FGTS, atraso salarial e redução do ganho mensal
Operários que atuam na obras dos Centros Oficiais de Treinamento (COTs) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, e da Barra do Pari, em Várzea Grande, cruzaram os braços a partir desta quarta-feira (9).
Eles protestam contra irregularidades trabalhistas, como retenção de carteira de trabalho, desvio de função, atraso no pagamento e redução da remuneração mensal, bem como o não depósito do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Ao todo, 240 funcionários deixaram de trabalhar a partir das 7h de hoje e foram surpreendidos com uma carta dos Consórcios Campus Universitário – formado pelas empresas Engeglobal Construções Ltda. e a Três Irmãos Engenharia Ltda. – e Barra do Pari – formado pela Engeglobal, Três Irmãos e Valor Engenharia –, que “liberaram” os empregados do serviço até a manhã de segunda-feira (14).
"Iremos juntar os dados de todos os funcionários e as atas das últimas greves e ingressar com uma ação trabalhista" Segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Cuiabá e Municípios (Sintraicccm), a greve é por tempo indeterminado, e a entidade sindical já entrou em contato com a empresa líder dos dois consórcios, a Engeglobal Construções.
“Eles afirmaram que vão providenciar o pagamento do salário em atraso de alguns funcionários e que, quanto às demais irregularidades, irão discutir o que pode ser feito para saná-las”, afirmou o presidente do sindicato, Joaquim Santana.
De acordo com Santana, se até às 14h, a empresa não se posicionar junto aos empregados e ao sindicato, a Justiça do Trabalho será acionada.
“Iremos juntar os dados de todos os funcionários e as atas das últimas greves e iremos ingressar com uma ação trabalhista. Já tentamos o Ministério Público do Trabalho (MPT) e não foi o suficiente. Agora, resta entrar na Justiça”, disse.
"Não volto mais para cá [COT da UFMT]. Vou entrar com pedido de rescisão direta do contrato de trabalho" Irregularidades
Além dos problemas já citados, muitos funcionários reclamam de descontos indevidos no holerite e de uma suposta tentativa das empresas em forçar os empregados a pedirem demissão.
Esse é o caso, por exemplo, de 28 carpinteiros que, sem mais trabalhos a serem realizados na obra, são obrigados a passar o dia desocupados, já que a empresa se recusa a dispensá-los.
Redução salarial
Segundo os empregados, a empresa anunciou que, a partir de agosto, não mais pagará o percentual referente à produção mensal, fazendo apenas o pagamento do piso salarial assinado na carteira.
Com isso, o ganho médio dos carpinteiros, por exemplo, que é de R$ 2,3 mil (com produção) cairia para R$ 1,1 mil.
O encarregado de carpintaria do COT da UFMT, José Antônio Jacinto, 38, relatou ao MidiaNews que não pretende retornar ao serviço, mesmo com o fim da greve, por estar cansado das irregularidades acumuladas ao longo de um ano e um mês de trabalho no canteiro de obras.
Edson Rodrigues/Secopa
COT da UFMT: obra foi usada para treino da Coreia do Sul, durante a Copa, mesmo inacabada “Não volto mais para cá. Vou entrar com pedido de rescisão direta do contrato de trabalho”, disse.
Segundo Jacinto, dos R$ 6 mil que deveriam constar no saldo do seu FGTS, referente ao ano inteiro de trabalho, apenas R$ 168 foram depositados pela empresa.
“Quase todos estão passando por isso. E até ontem eles estavam retendo a minha carteira de trabalho. Eu entrei na obra como carpinteiro e fui alçado ao cargo de encarregado do setor, mas nem meu salário, nem meu cargo, foram alterados na carteira. Ontem, eles me devolveram a carteira, sem alteração alguma, apenas porque ameacei registrar um boletim de ocorrência”, afirmou.
A redução dos ganhos também será sentida por Jacinto. Ele disse que, com a retirada dos ganhos referentes às horas extras e produção, a remuneração da maioria dos operários cai em cerca de 80%.
“No meu caso, isso representa uma queda de 90% do meu salário. Além disso, nos fizeram assinar o holerite na segunda-feira (7), mas até agora não depositaram o nosso salário. Descontaram meu vale-transporte no meu holerite, mas não me deram, ou seja, eu paguei para vir trabalhar com o dinheiro do meu próprio bolso”, contou.
Segundo Jacinto, a empresa tem “feito de tudo” para forçar os trabalhadores a pedirem demissão de seus cargos.
“Eles falam que se você está insatisfeito com o trabalho, tem que pedir as contas. Mas ninguém quer fazer isso. Quem está ali no canteiro, está porque precisa do trabalho”, disse.
Orçados em mais de R$ 44 milhões, os dois centros ainda possuem trabalhos a serem feitos e devem permanecer fechados para uso nos próximos meses, a fim de serem concluídos até 31 de agosto, conforme cronograma elaborado pela Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa) e apresentado ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).
O mais adiantado é o COT da UFMT, que chegou a ser usado para treino de duas seleções durante a Copa do Mundo.
Com 70% da obra concluída, ele começa a receber alguns retoques finais na parte interna da estrutura, como a execução dos serviços de acabamento nos vestiários para instalação das louças dos banheiros.
Orçada em R$ 17,3 milhões, a obra deveria ter sido concluída no ano passado e teve seu prazo de entrega reajustado por, pelo menos, quatro vezes.
Já o COT do Pari, orçado em R$ 26,8 milhões, está com 65% dos serviços concluídos, concentrando os trabalhos nas instalações da cobertura metálica simultaneamente ao telhado, entre outras atividades de acabamento para conclusão de arquibancadas, estacionamento e vestiários, por exemplo.
A obra deveria ter sido concluída, de acordo com o último prazo prometido, em abril passado.
Outro lado
Os responsáveis pelo consórcio não foram localizados pela reportagem pela falar sobre o movimento dos trabalhos dos COTs.
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