Repórter News - reporternews.com.br
Policia MT
Segunda - 14 de Julho de 2014 às 11:14

    Imprimir


MidiaNews
Para o delegado Silas Caldeiras, titular da DHPP, hoje há uma
Para o delegado Silas Caldeiras, titular da DHPP, hoje há uma "banalização da vida"

O número de homicídios aumentou significativamente durante o primeiro semestre deste ano na Grande Cuiabá, em comparação com o mesmo período do ano passado. Em seis meses, foram 229 mortes, enquanto o ano de 2013 fechou com 349 homicídios registrados.

Dados levantados pelo MidiaNews junto à Polícia Civil (PJC) apontam um aumento de 42,2% no número de execuções na região metropolitana, que apontam, segundo os especialistas, a falta de uma ação mais repressiva da Polícia Militar e de políticas públicas que promovam cultura, lazer, educação e emprego.

Segundo as estatísticas levantadas pela PJC, apenas na Capital – que foi sede da Copa do Mundo e inclusive contou com a presença massiva da Guarda Nacional e do Exército Brasileiro nas ruas durante todo o mês de junho – foram registrados 115 homicídios, sendo que no mês do torneio, 15 pessoas foram executadas.

"A vida está banalizada, ninguém mais dá valor a ela. A violência está aumentando cada vez mais porque se tornou uma reação a tudo. O rapaz acha que alguém mexeu com a mulher dele, vai em casa, pega uma faca ou uma arma e tira a vida de outra pessoa. É tudo muito rápido" Isso representa um aumento de 27,7% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 90 casos foram registrados. Quanto ao mês de junho, a situação se manteve praticamente estável: em 2013, foram 14 mortes.

Em Várzea Grande, a situação não está melhor. Foram 114 homicídios em apenas seis meses, sendo que 18 pessoas foram assassinadas apenas no mês de junho.

De acordo com as estatísticas, o aumento neste primeiro semestre foi de 60,5%: enquanto em 2013 a antiga “cidade industrial” havia registrado “apenas” 71 execuções, este ano 114 mortes já ocorreram no município.

Drogas e vingança

Um balanço divulgado no ano passado apontava que três em cada 10 homicídios registrados na região metropolitana em 2012 eram causados por motivos considerados fúteis, seguidos de perto por problemas envolvendo tráfico de entorpecentes.

Os motivos tidos como fúteis são aqueles crimes causados por brigas, ciúme, conflito entre vizinhos ou no trânsito, discussões e violência doméstica e familiar.

Ao que parece, até o momento, o cenário continua o mesmo.

Em entrevista ao MidiaNews, o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Silas Tadeu Caldeira, afirmou que, ainda que seja impossível seguir um raciocínio lógico ao se analisar os homicídios na Capital, não há como se negar a maioria dos casos apurados são motivados por vingança e drogas.

MidiaNews

"Vivemos sob uma cultura da intolerância", lamenta o sociólogo Naldson Ramos “A vida está banalizada, ninguém mais dá valor a ela. A violência está aumentando cada vez mais porque se tornou uma reação a tudo. O rapaz acha que alguém mexeu com a mulher dele, vai em casa, pega uma faca ou uma arma e tira a vida de outra pessoa. É tudo muito rápido”, disse.

De acordo com Caldeira, os casos ligados ao tráfico de drogas – seja por dívida ou por “roubo” de "bocas de fumo" – predominam, mas assustam o aumento dos casos de vingança.

“Hoje, o número de casos de vingança, principalmente no mundo do crime, está quase alcançando o número de casos ligados a drogas. Mas os casos de crimes passionais (motivados por paixão) e de rixas (desavenças), esse ano, foram menores”, afirmou.

O delegado não quis fazer uma avaliação sobre o trabalho repressivo, que segundo ele cabe apenas à Polícia Militar, mas não poupou críticas ao Estado.

“Falta ação do poder público para dar qualidade de vida aos cidadãos, e também das igrejas, que tem um poder de alcance muito grande em cada religião, das escolas com ações educacionais”, defendeu Caldeira.

Para o sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudos da Violência e Cidadania da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos, não dá para escolher uma causa específica para explicar o aumento da violência.

No entanto, o que está claro para o professor da UFMT é que a população vive hoje sob uma “cultura da intolerância”, onde “fazer justiça com as próprias mãos” parece sempre predominar como a saída mais fácil para resolver os conflitos.

“Vivemos sob uma cultura da intolerância em relação a coisas banais no convívio em sociedade. Uma discussão no trânsito, o fato de mexer com a mulher de alguém, tudo vira motivo para agir com violência”, disse.

Como exemplo de intolerância, o sociólogo – assim como o delegado da DHPP – citou o caso do assassinato do ex-secretário de Estado Vilceu Marchetti, na última segunda-feira (7) que, ao que tudo indica e apesar de todas as probabilidades, acabou sendo morto por supostamente ter assediado a esposa de um rapaz na fazenda em que trabalhava.

“O caso do Marchetti é só um exemplo. A verdade é que hoje as pessoas entram em conflito por qualquer opinião divergente sobre futebol ou religião, qualquer desafio à honra”, afirmou.

Violência na periferia

"É essa inação do Estado na criação de políticas públicas que faz com que principalmente os jovens caiam na ociosidade e no mundo do crime" Segundo Ramos, ainda que os casos envolvendo drogas – sejam dívidas na boca, transações comerciais ou vício – predominem, conforme afirmou o delegado da DHPP, outra grande parcela dos homicídios está ligada à violência doméstica e familiar.

“Ainda que esse tipo de violência exista em todas as classes, não podemos negar que esses casos sempre são intimamente ligados às camadas mais pobres e periféricas da sociedade. A violência se instala das regiões e bairros mais periféricos, porque é lá onde o grau de escolaridade é menor e a capacidade de discernimento, também”, explicou.

Para o sociólogo, o grau de desigualdade contribui, e muito, para os números apontados na Grande Cuiabá.

“Faltam ações sociais, ocupação para diminuir a ociosidade e gerar emprego, políticas públicas que criem integração, qualificação e lazer. Mas é claro que a polícia tem sua parcela de culpa ao não realizar um policiamento repressivo e ostensivo qualificado nessas regiões que concentram altos índices de violência”, disse Ramos.

Jovens no crime

O estudo mais recente do “Mapa da Violência”, realizado anualmente pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso) analisou os casos de homicídios registrados entre 2002 e 2012 e mostram que, em Mato Grosso, foram registradas 10.441 assassinatos, o que colocou o Estado na 15ª posição no ranking nacional.

"A violência se instala das regiões e bairros mais periféricos, porque é lá onde o grau de escolaridade é menor e a capacidade de discernimento, também" Ainda que o Estado – e a Capital – tenham registrado queda contínua de mortes no decorrer da década avaliada, o número de jovens assassinados na região ainda preocupa.

Em 2012, último ano avaliado no estudo, das 1.070 pessoas mortas, 531 (60,5%) eram jovens (idade entre 15 e 29 anos).

Na Capital, o índice atual apontado no estudo é de 83,5 jovens mortos a cada 100 mil habitantes, sendo que dos 247 homicídios registrados em 2012, 136 eram jovens.

“É essa inação do Estado na criação de políticas públicas que faz com que principalmente os jovens caiam na ociosidade e no mundo do crime”, avaliou Ramos.

Perspectiva

Apesar do aumento do primeiro semestre, o delegado Silas Caldeira ainda aposta numa possibilidade de redução de mortes no segundo semestre deste ano, baseado nos números de execuções registradas nas duas primeiras semanas de julho na Capital e em Várzea Grande.

“Enquanto em julho de 2013 nós tivemos 17 homicídios nas duas cidades, sendo a maioria deles na primeira quinzena do mês, neste mês tivemos apenas cinco casos registrados até agora [quinta-feira, 10]. Então, apesar do primeiro semestre estar acima da média, podemos o fechar o segundo semestre com baixa e não ultrapassar o total 349 casos do ano passado”, disse.





Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/398947/visualizar/