Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Sexta - 18 de Julho de 2014 às 18:48

    Imprimir


Ainda não se sabe quem derrubou o avião da Malaysia Airlines, mas quem o fez dispunha de recursos para saber que a aeronave levava civis. "Hoje em dia, qualquer pessoa com um celular e internet pode identificar a posição de uma aeronave", explica um piloto militar ao Terra que pediu para não ser identificado. Ele explica que através de sites na internet com informação via satélite e aplicativos de celular, descobrir que o Boeing 777 voo MH17 sobrevoava a região ucraniana de Donetsk, perto da cidade de Torrez, a 50 Km da Rússia, não era difícil. A possibilidade de aviões militares mascararem sua real posição e identificação, porém, cria um risco extra para os aviões civis em áreas de conflito.

Por outro lado, disparar um míssel em direção a um avião requer treinamento. "Não é possível derrubar um avião naquela altura com um míssel no ombro", revela o piloto, ressaltando que a aeronave voava ao nível de voo 330 (cerca de 33 mil pés ou 10 mil metros). De acordo com o órgão regulador de tráfego aéreo europeu, Eurocontrol, a rota tinha sido fechada pelas autoridades até o nível 320. Segundo o piloto entrevistado pela reportagem é também responsabilidade de cada empresa alertar seus funcionários sobre os riscos da rota. "Todo piloto antes de viajar recebe um Notam do lugar de onde decola com o destino da rota. Antes de decolar, tem que checar não só o combustível e o tempo de voo, mas também o Notam". Os "avisos aos aviadores" ou Notam (Notice for Airmen) são uma série de avisos internacionais sobre todo o percurso, adiantando o que o piloto pode vir a encontrar no caminho aéreo.

Hoje todas as companhias aéreas passaram a evitar regiões da Ucrânia em conflito com a Rússia. A Malaysia Airlines se defende por não ter adotado esta posição antes, alegando que a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, em inglês) não havia colocado restrições ao voo. A IATA, entretanto, também defende sua decisão. "As companhias aéreas dependem de governos e autoridades de controle de tráfego aéreo para avisá-las que espaço aéreo está disponível para voar, e elas se organizam de acordo com esses limites", disse o presidente da IATA, Tony Tyler, por comunicado. "É como dirigir um carro. Se a estrada está aberta, você assume que é segura. Se for fechada, busca uma rota alternativa", explica Tyler.

Somente após o desastre de ontem, o governo ucraniano notificou o Eurocontrol e ordenou hoje o fechamento do espaço aéreo sobre o leste do país, nas regiões de Donetsk e Lugansk. Mas desde abril a agência que controla a aviação nos EUA - a Federal Aviation Administration (FAA) - alerta às empresas sobre o perigo na Ucrânia e aconselha desvios de rota. "Mas as empresas pensam em desvio de rota pesando riscos e efeito econômico. Na verdade, ninguém imagina que uma coisa dessas vá mesmo acontecer", indica o piloto.

O Terra obteve acesso a um Notam, emitido no dia 3 de abril deste ano, em que a agência afirma que o espaço aéreo sobre a região da Crimeia apresenta perigo para as aeronaves, devido ao conflito envolvendo a Ucrânia e a Rússia. "Operações de voo estão proibidas até segunda ordem, no espaço aéreo sobre a Crimeia, no Mar Negro e no Mar de Azov", dizia o documento.

Para a navegação aérea, a pergunta que permanece é qual serão os impactos desta tragédia para a aviação civil. Os desvios de rota podem significar mais custos em combustíveis e tempo para os passageiros. E a Ucrânia não é hoje o único país com zonas de conflito. "Várias empresas aéreas mantêm hoje rotas por espaços aéreos de países em conflito", afirma o piloto. "O pior é que em alguns casos a geografia não deixa muitas opções sobre a mesa", lamenta.    





Fonte: Terra

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/399154/visualizar/